segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Universidade v/s Pluriversidade







Por Carolina Hortsmann


A palavra “Universidade” tem a ver com “Universalidade”, quer dizer, com a transmissão de todos os conhecimentos universais, com todo o saber conhecido.
Segundo o dicionário etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, “Universidade” vem de “universo” e isto significa “tudo, inteiro, geral, universal...”
Consta esta palavra de “Uni-“ de “Unus-a-um”, quer dizer, “unidade” mais “versum” que significa “virado de cara a ...”. Portanto “Universitas” ou “Universidade” viria significar “virado ou dirigido de cara a unidade” ou mais livremente “conhecimento dirigido para ser integrado num todo, num conjunto universal único”.

Infelizmente a ideia originária com a que se criaram as universidades na Idade Média na Europa está esquecida. Provavelmente já desde o começo. A ideia de transmissão dos conhecimentos universais fica só para determinados grupos que pelas suas condições socioeconómicas têm a capacidade de aceder aos registos informativos acumulados no transcurso da história e das culturas. Isto tem fins diretivos e dirigentes adequados a uns interesses muito concretos e particulares que nada têm a ver com a generosidade nem com o altruísmo mas com o egoísmo que só beneficia um limitado grupo de famílias que governam o mundo de forma aristocrática e endogámica. Estas não se importam pelo bem ou pelo mal do resto das pessoas que povoam o planeta as quais só são vistas como operárias que trabalham para manterem essa situação perpetuamente, desconhecedoras do funcionamento último do mundo no que vivemos, quer dizer, funcionamento dirigido a manter a situação de desigualdade e de privilégio das aristocracias sobre os grupos humanos de base.

Esses grupos aristocráticos com tanto poder nas suas mãos são os que determinam qual o conhecimento e a informação que podem chegar ao povo; jamais eles hão de transmitir uma formação que crie dirigências que possam concorrer com os seus interesses, nem que ponha em perigo a situação de privilégio das suas famílias, nem chaves que dêem poder ou capacidade de decisão. O obscurantismo por um lado e a apresentação da informação do que acontece no mundo por outra, são fornecidas com fins narcotizantes e limitadas pelos média. O objetivo é servir os  interesses das grandes famílias e manterem a situação benéfica para elas para além de perpetuarem a ignorância no conjunto da humanidade.

Nos últimos anos, a Universidade está a se especializar em transmitir matérias que servem para a formação de mão de obra útil e barata ao sistema. O conhecimento que se necessita para a planificação ampla e global dos destinos do planeta não está nessas universidades viradas para a gente do comum que procura o seu alimento em ocupações laborais que engancham com o “status quo”. Também, e do mesmo jeito, as pessoas conscientes, os génios e/ou grandes sábios que surgem, não nascem habitualmente por obediência a essa formação académica convencional ministrada para as massas despersonalizadas, mas por conhecimentos subversivos e quase clandestinos apanhados fora dos círculos universitários. No caso de essas pessoas destacadas serem formadas pelos sistemas universitários, o próprio sistema faz por integrá-los. E no caso de insistirem na sua oposição ao estabelecido é quando são desqualificados, atacados ou simplesmente desconsiderados chegando quer a uma situação de oposição ativa ou quer diluindo-se entre a população comum e ficando no esquecimento.

Contrariamente, são aqueles que nada têm a ver com a genialidade os que chefiam os projetos políticos impulsionados pelo poder. Este favorece o imobilismo e a manutenção da situação sem que nada mude. O interesse pelas mudanças e as quebras é nulo e a comodidade é o grande valor transmitindo uma ideia negativa de tudo o que signifique inovação...ainda que seja para bem de todos. A filosofia a estender na população é a concorrência pelo prestígio, o poder, o dinheiro ou o cultivo do ego com pequenas conquistas pessoais que servem para apresentar nos seus pequenos círculos sociais.
É fácil que um sistema assim inoculado desde as universidades gere personagens cómodas inteletualmente, superficiais e pouco profundas, mais interessadas no ócio egoísta do que no progresso da humanidade à qual não lhe vem objetivo nem finalidade última. São pessoas que pela sua falta de profundidade não são sensíveis com os problemas mundiais, nem se preocupam o mais mínimo por dar-lhes uma saída positiva. A formação fornecida por essas Universidades perpetua o sistema sem que lhe dê conhecimento ao cidadão do comum de como foi que outros sistemas passados acabaram, nem como surgiram outros novos. Esta ignorância inoculada desde o ensino primário e continuada até a formação superior, ajuda aos diferentes povos a cair repetitivamente nos mesmos erros históricos que derivam em conflitos onde o sofrimento e a penúria são normais. Assim é que quando a situação é insustentável surgem as mudanças paradigmáticas, justo porque as necessidades levam a isso. Nunca porque as pessoas dirijam sabiamente essa mudança com adaptações segundo as necessidades do momento e com previsão de futuro. Habitualmente aqueles que sofrem a precariedade só lutam para conseguirem um posto dentro da sociedade estabelecida, não para mudarem sistemas caducos mas por entrarem no já existente e participarem dele com todos os privilégios possíveis. Assim foram formados.

As dirigências que governam os países determinam as políticas educativas. Estas ficam claramente viradas para a formação de pessoal vinculado ao pensamento oficial. Canaliza-se o descontento com alternativas que também não saem do sistema e que tiram a força de qualquer movimento de contestação real que queira verdadeiramente mudar as cousas. As alternativas reconhecidas pelo próprio sistema nunca vão modificar a filosofia de base do cidadão, baseada numa forma materialista de levar a vida que leva marcado a história do planeta desde a Revolução Industrial e o surgimento do capitalismo. Qualquer ação universitária de formação e investigação é destinada para beneficiar a ideologia em vigor, para manter o sistema internacional e para controlar a sociedade desde arriba de jeito que fique nas mãos egoístas de quem precisa de operários dependentes formados para essa forma de escravatura evoluída.

Em alguns países, os sistemas de ensino superior incluem os chamados “colleges”, centros técnicos aos que acedem aqueles alunos aos quais a Universidade rechaçou “indiretamente” (1) ou aqueles que vem saídas mais práticas para a sua formação e futuro laboral. Originariamente seriam de categoria Pós-Secundária mas não estariam incluídas numa formação superior de prestígio...ou assim era como inicialmente se originaram, mas os valores e as capacidades de muitos alunos dos “colleges” chegou a superar amplamente aos formados nas Universidades convencionais porque estas últimas não desenvolveram a inovação nem a criatividade. O exemplo está no criador do blackberry, formado num sistema de ensino tipo “college” ainda que formalmente e legalmente figure como Universidade de Waterloo (2) 

Há mais exemplos de tudo o que estamos a comentar, como por exemplo a ação dos alunos de Introdução à Economia da Universidade de Harvard que no passado mês de outubro de 2011 tomaram a decisão de se retirarem massivamente da cátedra da sua matéria como protesto pelo conteúdo e o enfoque desde o qual esta se ministrava. Eles criticaram “...a falta de conteúdo inteletual e a corrução moral e económica de grande parte do mundo académico, cúmplices  por ação ou omissão na atual crise económica”.

O protesto teve como objetivo direto o conhecido economista Gregory Mankiw, ex-assessor do ex-presidente George W. Bush e autor de um dos manuais de macroeconomia mais utilizados nas escolas de Economia dentro e fora dos EUA: "Principles of Economics". Numa carta dirigida ao seu professor optam por abandonarem as aulas em apoio ao movimento “Occupy Wall Street

Vem se vê que o mundo está revolto, que novos ventos se aproximam. Os valores e paradigmas que até agora eram válidos estão começando a ver-se obsoletos e ultrapassados. O sistema universitário formador dos dirigentes e dos operários não está sendo eficaz nem de utilidade porque forma com conhecimentos, matérias, práticas, valores, éticas e estéticas contrários ao bem do planeta e da humanidade. Há metodologias novas que até agora não eram consideradas mas por outra parte há matérias, conhecimentos, técnicas e inclusivamente métodos ancestrais que estão sendo recuperados. Está-se pondo em dúvida o chamado “método científico” tal qual se nos transmite e grandes massas da população mundial estão optando por metodologias igualmente científicas mas de mais longo alcance e de maior eficácia ainda que muito vilipendiadas pelo paradigma tradicional porque põe em questão as mesmas raízes do poder aristocrático atual.

O materialismo que formou milhões de dirigentes e operários durante mais de duzentos anos, gerador de sistemas políticos ultrapassados e obsoletos como o fascismo, o comunismo e o capitalismo está vendo-se substituído por um acordar global e coletivo da humanidade que tem como valores fundamentais a sustentabilidade, o ambientalismo, a ancestralidade em muitos casos e a própria humanidade como sujeito e objeto do progresso, tanto físico, como moral, ético ou espiritual. O cartesianismo morreu definitivamente tal como nos foi transmitido e os seus seguidores não têm saída filosófica nenhuma para um mundo como o que se nos aproxima. Só o acordar das consciências é a chave para o futuro do ser humano. Neste contexto e atendendo ao tema relacionado com a universidade, queremos dizer que defendemos a morte das universidades tal como no-las deram a conhecer e aplaudimos a ideia da “pluriversidade” entendida como um sistema de matérias e valores formativos e pedagógicos que atendem a imensa pluralidade de saberes, de conhecimentos, de metodologias destinados à formação dos indivíduos longe de poderes dominantes e aristocráticos, dirigidos a fazer da pessoa um todo plural e adaptativo, com conhecimentos modernos e ancestrais, naturais e artificiais, éticos, estéticos, materiais e espirituais. Esse sistema de valores necessita uma nova forma de percepção e de expressão. Não tanto desde uma praxe racionalmente pura quanto desde uma combinação de racionalidade e intuição, de prática lógica mas também analógica.



 



(1)   Oficialmente nenhuma Universidade vai reconhecer qualquer rechaço de qualquer aluno, mas essa rejeição é indireta e subtil, bem por razões económicas (quem não tem dinheiro não entra), bem por outras razões que só aparentemente não atentam contra a suposta igualdade legal sobre a que se couraça o sistema. 

(2) Há que clarificar que Mihail Lazaridis criador e empreendedor que inventou o blacberry estudou na Universidade de Waterloo (Canadá). Esta nasceu como “college” em 1955 e foi transformada em universidade em 1959 mas continuou a funcionar como “college” mesmo quando ele recebeu a sua formação. Só por razões administrativas e legais aparece como Universidade de Waterloo a identificação deste centro de estudo mas o sistema de ensino, os objetivos e o conjunto de elementos formativos são próprios dos “college”.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A vontade reintegradora dos clássicos





Por José Manuel Barbosa


O facto de reintegrar a língua dos galegos manifestava-se como uma urgente necessidade entre a maioria dos clássicos galeguistas por motivos de utilidade prática e dignidade, isto é arrancar a nossa língua das garras depredadoras dos políticos de Madrid de vinculação castelhanista; outras vezes é um desejo de unificação do nosso território quebrado, passando-se do linguístico ao político e falando inclusivamente de temas tão à moda hoje como a incorporação do Berzo e outros territórios ao território originário.

 

"Eu entendo que os nazonalistas galegos temos que chegar axiña a maor unificación posible sin mágoa do enxebre, entre o noso idioma i o portugués. Así o portugués lerase en Galizia doadamente acabando coa vergoña de que se nos ofreza polo intermedio do castelán o seu xenio."
 
António Vilar Ponte

Pensamento e Sementeira

Op. Cit. Pag. 257





"...no hay palabra netamente portuguesa que no sea netamente gallega y viceversa y que cuando en el portugués suena a extraño, para nosotros resulta extranjerismo o exótismo colonial. Quea opso facto trazado el camino que conduce a la anhelada unificación de las dos ramas de idéntico idioma"
 
António Vilar Ponte.

Pensamento e Sementeira

Op.Cit 152



“Pela gravitación inevitábel dum pasado grorioso, por desbordantes semellanzas que non son casi que sempre ao estudialas identitás, pola contextura interna que non acerta a diferenciarse sinón pola acentuación do matiz, e, porque anque no nos entendamos nas verbas, comprenderíamonos sempre escoitando o próprio peito n’haberá quem teña a potestade d’impedir que por cima de  todas as fronteiras s’abracen a língoa galega e a língua portuguesa”



Manuel Portela Valladares

En col da Língua Galega

Revista Nós 1-Marzo-1923



“Os galegos non aspiramos a confundir politicamente a Nosa Terra co Portugal rexido dende Lisboa (...). Pero dentro de Portugal quedounos a mitade da nosa Terra, do nosso espírito, da nosa língoa, da nosa cultura, da nosa vida, do nosso ser nacional”.



Afonso Daniel R. Castelão.

Sempre en Galiza

Pag 343



“A potencia era galega; a impotencia provén da desintegración galaico-portuguesa”



A.Daniel R. Castelão

Sempre en Galiza

Pág. 336



“ Calquer día afundese a inxenieiria política e os portugueses e galegos volvemos a falar e cantar no mesmo idioma; pero tamén se podem restaurar fronteiras que foron demoidas...”



Castelão

Sempre en Galiza

Pág. 335



“...pero ainda é doado creer que, pol-as mudanzas do mundo, se restaure a unidade galega, se non na sua integridade da província romana ou no reino suevo, pol-o menos na do periódo cultural eu na esfera da crítica literária se vem a chamar “galaico-portuguésa”.



Castelão

Sempre en Galiza

Pág. 227



“O território galego sigue dividido politicamente pol-a fronteira que separa a Portugal da Hespaña...”



Castelão

Sempre en Galiza

Pág 225



“As tres nacionalidades –Cataluña, Euzkadi e Galiza- están tronzadas por fronteiras políticas, que dificultan a restauración da sua unidade, e soio por un feito iolento sobre de Franza e Portugal, ou por mudanzas de lindeiro (...) lograrian xuntarse os anacos dislocados das tres nacionalidades”



Castelão
Sempre en Galiza 
Pag.223



“A terra galega é, ao mesmo tempo unha entidade étnica pero de dificultosa reconstrucción política, porque a fronteira portuguesa róubanos a esperanza de anovar en breve a comunidade nacional dos tempos suevos e visigóticos –com todo é doado esperar que o Bierzo e demais comarcas limítrofes de Ourense e Lugo se incorporen ao seo da sua nación natural; e o tempo –gran curandeiro dos erros hestóricos- posibilite a reconstrucción total da nosa unidade. Non se pode creer que o río Miño, vello pai de Galiza –representado na franxa azul da nosa bandeira- siga sendo un lindeiro perdurable de dous Estados”



Castelão

Sempre en Galiza

Pag. 44-45



OUTROS EXEMPLOS DE REINTEGRACIONISMO



A defesa do reintegracionismo tem como sustento, para além do seu argumentário filosófico-linguístico, outro que tem a ver com os exemplos anteriores. Na época dos clássicos botava-se mão do exemplo neerlandês, quer dizer, do reintegracionismo entre o flamengo e o holandês do qual também botou mão o nosso lembrado e saudoso Professor Ricardo Carvalho Calero. A dia de hoje na Europa podemos constatar mais exemplos, como é o caso do moldavo-romeno, do norueguês-dinamarquês, do albanês-cosovar, etc...

Eis o que diziam no século XX os galeguistas:



“...y su unificación (do galego e do português) es tan fácil, sinó más que la realizada por flamencos y holandeses en el idioma común, que sólo se diferenciaba en la ortografia y en algunos giros prosódicos”



António Vilar Ponte

Pensamento e Sementeira

Pag. 346



“Os flamengos usaban unha ortografia diferente da  d’os holandeses, as suas línguas se4ran entre si tan semellantes como o galego e o portugués. Un día chegou en que os partidarios do idioma flamenco tiveron que abandonar a sua ortografia e admitir a holandesa para fazer mais eficaz a sua fala.

(...) Cato mais tempo pase mais difícil será facelo pois a ortografia irase arraigando coa gran riqueza de produción literaria galega”.



Johan Vicente Viqueira
Pol-a Reforma ortográfica
A Nosa Terra. Nº 43. Pág. 1



O ISOLACIONISMO NAQUELA ALTURA



O chamado isolacionismo também existia nos começos do galeguismo nacionalista; não é novo hoje. No que se diferenciam os de aquela época dos de hoje, para além da ortografia que eles empregam e ainda empregam hoje, é na filosofia de fundo. Aqueles isolacionistas dos anos vinte e trinta, conseqüentes com o seu galeguismo, não eram seguidistas das normas do castelhano. Eles escreviam com uma ortografia fonética que poderia ser válida para a nossa língua se esta fosse uma ilha no mundo das línguas, como é o basco, por exemplo, mas hoje escrevem com a ortografia que Viqueira denomina de “Vulgar”.



Os mesmos autores isolacionistas se decatam que a ortografia empregada hoje nos documentos oficiais é a do castelhano. Isso leva-nos a podermos definir esse isolacionismo de inconseqüente ou mesmo seguidista do castelhano perante o qual se submete. O pior do assunto é que nesta altura histórica não quer nem se ocultar para quem tem olhos na cara, obscurecendo-se com um argumentário capaz de convencer à gente menos preparada do ponto de vista linguístico contando mesmo com o poder de estar presente no ensino e nos média.



“Por desgracia a ortografia portuguesa non é nada recomendabre. Como se be, a ortografia portuguesa esta moi lonxe de merecere os onores da adoucêóm polos gallegos
 Aurelio Ribalta
A Nossa Terra nº 93
Pág 2



“Dixen en no número 93 de ANT qe a ortografia portuguesa non e centifica nin sistemática  e qe por ende, non bal a pena d´imitala.



Esta proposición miña leba impricita esta outra: fai falla crerare unha ortografia gallega. A esto tendia eu; a qe se fagan estudios serios para creala, pra que sallamos dunha bez da rebolta morea de pedantes qe nos afoga”.


Aurelio Ribalta
A Nosa Terra Nº 96

Pag 3


“E perciso pensar en un-a ortografia galega. Estamos nun periódo de rreboluzión, enke kada un eskirbe a sua maneira e iso nin pode segir, si se llá dar forza o noso idioma ¿Ken se mete adeprender un-a lingua ke pola sua anarkia ortografika bolbe parbo o ke a eskirbe?
Ortografia fonétika.
Xosé Palazios
A Nosa terra nº 100 Pág 2




Contrariamente a isto, os que poderíamos chamar reintegracionistas (e estou empregando uma terminologia atualizada) que são maior número, argumentam em favor da unificação galego-portuguesa que isolar-se é morrer e é não viver no mundo.

“Teño unha razon fundamental contra a ortografia fonética: Admitindoa apartaria-mo-nos do mundo lingüístico inteiro. !E isolar-se é morrer! Sobre todo isolariamo-nos do portugues. O galego non sendo unha língua irmá do portugués senon un portugués, unha forma do portugues (como o andaluz do castelán), ten-se que escribir pois como portugués. Vivir no seu seo é vivir no mundo; !é vivir sendo nos mesmos!Escribindo c´a nosa ortografia etimológica (admitida po-la nosa Academia) escribimos cuase como en portugués.

 Po-a reforma ortográfica
Johan Vicente Viqueira

A Nosa Terra Nº 102 Pag 2



Veja-se que a Real Academia Galega admitia a Ortografia etimilogica, cousa que nom fai hoje; veja-se assin mesmo que Viqueira utiliza o traço em palavras como “isolariamo-nos” “isolar-se”, etc.



“A ortografia etimológica debe se-la nosa. Nos é preciso estudala. ¿Como?. Aprendendo a escribir en portugués”.




Da renascenza linguística
J. V. Viqueira

A Nosa Terra Nº 77 Pag 5



“Prencipalmente no que se refire a ortografia foetica, con ista ortografia ninguan estranxeiro poderá traducire as cousas galegas”.


Iglesia Roma.
A Nosa Terra Nº 94

Pag 3



“A ortografia galega de hoxe é a ortografia castelán aplicada por corrución á nosa língua. Teria, pois de se modificare”.




Florencio Vaamonde.
A Nosa Terra Nº 94 Pag 3



“E derradeiramente temos forzosamente que reformar a ortografia. Unha delas é a fonética: ésta ten o inconveñente de que en Galicia hay moitas fonéticas, algunhas ainda descoñecidas, e que nos ailla do resto do mundo, sobre todo, do portugués, pois nen este nen ningunha outra lingua escribese hoje foneticamente. Deixando a un lado ésta, temos ainda duas ortografias: a vulgar, usada por Rosalia de Castro, Curros, Carvajal e hoje usualmente, e a academica ou etimológica, admitida sabiamente pol-a Academia Galega, emprega por Pondal e en gêral, pol-os eruditos.



Nosos problemas educativos.

J.V. Viqueira

A Nosa Terra. Nº 62 pag 4



 DIFICULTADE DO GALEGO CORRECTO



Os isolacionistas dizem contra a versão reintegrada da nossa língua que é dificultosa, pois muito diferente da utilizada pelos média, pelo ensino e pelos documentos oficiais.



A isto atualmente responde-lhe-íamos dizendo...



1º) Outros povos utilizam a norma própia da sua língua sem decalques nem submissões embora tenha existido um idioma mais poderoso como língua A durante muitos séculos. (Catalunha, Euzkadi, Irlanda, etc)



2º) A utilização da norma castelhanista em galego é síntoma do submissão línguistica e de aceitação duma diglóssia que marca uma tendência substitutiva.



3º) Nenhuma norma é difícil se esta se aprender convenientemente. Não são mais inteligentes os nenos irlandeses, bascos ou catalães do que os galegos por apreenderem líinguas e normas diferentes do inglês ou do castelhano.



Poremos o exemplo do ocitano. A maior parte da gente nesse país, não estuda ocitano mas francês. Ali têm o francês como língua de poder e o idioma pátrio está na categoria já de “patois”. Se uma pessoa do povo quer escrever a palavra que em occitano significa “Cão” não escreveria como corresponde à sua língua, mas com à francesa, isto é: “Tchou” que lhe há de parecer mais viável, do que “Chu” que seria o correcto. Em qualquer caso essa palavra pronunciar-se-ia (t∫ W).



Isto já se discutia entre os clássicos galeguistas.



“Mais esta ortografia é dificil ja que o galego non se ensina na escola”.



Pol-a reforma ortográfica

Johan V. Viqueira

A Nosa Terra. Nº 102 pag 2



“Certo, non podemos d´un golpe introducir unha ortografia â que non estamos habituados. Pol-o momento debemos aceptar a ortografia erudita, etimológica, o que será un gran paso.



Mais conseguido esto, precisamos continuar a nosa obra e camiñar pra a total unificación da ortografia galega e potuguesa. Asin introduciremos a NH pol-a Ñ, a LH pol-a LL e outras modificacions que o leitor poda adiviñar fácilmente. Fara-se isto primeiramente n`as publicacións eruditas, científicas, depois, n´os populares”.



Pol-a reforma ortografia

Johan V. Viqueira

A Nosa Terra. Nº 43

Pag 1




A MODO DE CONCLUSSOM



Há que salientar que todos os autores que escrevem as citas expostas neste trabalho não são lingüístas, mas afirmam umas cousas às que se chega não o sendo precisamente. Chega com ter os ouvidos salutáveis. Os lingüístas por outra parte também chegaram à mesma conclussão mas dando a argumentação válida que o tema precisa e confirmando a intuição de todos os nossos grandes personagens.



O facto de os nossos galeguistas utilizarem a versão castelhanizada explica-se por estarem eles alfabetizados na língua oficial do Estado por uma parte, por não terem conhecimentos científicos de língua e por um  salientável interesse pedagógico ao saberem que se utilizarem a norma válida não poderiam ser facilmente acessíveis ao povo que os lê. De qualquer forma, vê-se também que os mais cultos e eruditos como é o caso de Viqueira, chegam a  aproximar-se mais do que outros ao desejado por eles próprios,  muito adiantados para aquela época, empregando G, J, e X de forma etimológica e até escreve com Ç.



“Nom pode supôr canto ll`agradezco a sua atención, agás do meu persoal sentimento de gratitude, tamém, pol-o qu´eu admiro a sua produçom poética...”



Borrador da carta de Viqueira a Teixeira de Pascoães agradecendo-lhe o envio de livros por meio de Cebreiro.

             

Depois da morte de Viqueira publica-se o seguinte texto...





“Johan Viqueira, Noso Grande Morto”



“Paresce como si a Galiza tivera a mala fada de perder seus filhos melhores. No pequeno cimiterio de Ouces, nas doces e tenras marinhas de Betanzos, repousa ja para sempre endejamais o gran poeta Johan Viqueira, cando a sua vida escomenzaba a florire. (...)



Revista Ronsel. Pag 14

Do Nº 2 do Mês de Junho de

1924

 Está muito presente entre o comum adia de hoje e também naquela altura de que o elemento que marca a diferença básica entre galego e português é a ortografia. Segundo nos tem comunicado muitas vezes o nosso prezado lexicógrafo galego Isaac Alonso Estraviz, o 95% das formas léxicas galegas são comuns e ainda outras não registadas até agora em qualquer dicionário português são formas dialectais ou formas populares existentes em Portugal. Algumas são por exemplo a segunda forma do artigo, comparativo com ”mais ca”, S final nos perfeitos de indicativo, formas em CA envez de QUA, etc... o que não é motivo para considerar como diferentes línguas falas ao Norte e ao Sul do Minho.



Há autores que falam de língua galega e de língua portuguesa e poderia parecer desde o ponto de vista atual que ao falarmos assim poderíamos considerá-las línguas diferentes; o que acontece é que nos anos do surgimento do galeguismo, as ciências da linguagem não tinham muito claro o conceito de língua e por outro, a pouca ou nula preparação lingüística dos nossos galeguistas que empregam a sua terminologia de forma inexata muitas vezes.



Vemos portanto que quando houve a necessidade de aplicar um mínimo trabalho científico surgiu o reintegracionismo na praxe. Quer dizer, acabou-se por levar à realidade escrita uma teoria que vinha de muito atrás. O que não é lógico e talvez também não seja ético é que gente que se auto-proclamam como científicos da língua façam uma norma como a ensinada hoje nos centros de estudo, a usada nos média e a utilizada nos centros administrativos. Só o explicaríamos por vinculações políticas espúreas e por necessidade de defender os seus postos de trabalho em origem. A dia de hoje, a inercia dos acontecimento e o peso de quase trinta anos de insistência faz mais amplo este leque e mesmo acreditamos na bondade de muitas pessoas que têm fe no que lhes ensinam, as suas ocupações não se encaminham para assuntos linguísticos e não têm porque entrarem nos assuntos muito ocultos e nada publicitados dos assuntos da língua.

             

Os anti-galegos (já não anti-galeguistas) quereriam que não existisse uma língua que os galegos pudessem ter como fruto do seu génio e se por qualquer circunstáncia tivessem tolerá-lo, prefeririam descafeiná-lo quanto mais melhor. O resultado é o que temos temos. Algo que se pode vender aos galegos como un producto light que não põe em perigo a hegemonia do castelhano e impõe-nos a nós a máxima da divisão.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A lógica da Xenofobia anti-galega


Por Adrião Morão
 
Pretender que na Galiza, tendo uma língua própria (o galego), mantenhamos sinalização em castelhano é xenofobia e nacionalismo espanhol.
 
Explico:
Um espanhol que não empregue o galego pode comunicar-se igualmente com a administração em castelhano. Não vou entrar em se isto per se é justo, porque num Estado democrático a sério, eu deveria poder entregar documentos oficiais em galego na Crunha, em Madrid ou em Valência. Claro que o do plurilinguismo a Espanha não o leva nada bem... 

Um espanhol que não empregue o galego segue podendo entender praticamente todo o galego escrito. Ou isto é certo ou o resto de espanhóis padecem qualquer tara mental, argumento que é racista e portanto fica descartado. Ou eu sou muito listo e entendo 90% de catalão ou asturiano sem os ter estudado na vida, que também pode ser!
 
Se eu sou galego e falo galego com galegos, a nossa língua comum é o galego. Portanto, o castelhano não é a língua comum de todos os espanhóis, porque eu tenho nacionalidade espanhola desde o nascimento e não utilizo o castelhano com galegos nunca. Não é a minha língua em comum com o resto de galegos. Por que então o castelhano tem esse falso status de língua comum? Há línguas melhores e línguas piores? Noutro caso, não se explica. A não ser que voltemos à teoria da tara mental, que acordáramos que é um argumento racista porque põe o resto de espanhóis como "marcados" genética ou culturalmente ou qualquer cousa do tipo.

Portanto, se temos um hipotético Estado que garante que um cidadão qualquer se poda comunicar com as instituições na sua língua oficial de preferência, não entendo onde está o problema de termos diferentes línguas de coesão social. A ver se vai ser que o nacionalista não sou eu...

 
Existem pessoas que se zangam por não perceber qualquer cousa num sinal por não estar em castelhano? Curioso: não se zangam quando saem do Reino da Espanha. Portanto, não existe um problema de incomodidade causado pola incompreensão, mas um problema político: se a Galiza ou a Catalunha fossem Estados independentes desde há séculos, toda essa gente que se molesta fecharia a boca. Exatamente igual que fazem quando não entendem a sinalização da City de Londres. No caso da Galiza, ainda o têm mais fácil: dizem «galleguiño, ¿qué pone ahí?» e como todos os galegos aprendemos castelhano por imperativo constitucional, podemos responder. Se a petição é educada, evidentemente.

Devemos portanto manter sinalização em castelhano porque outros espanhóis sintam hostilidade pelas línguas diferentes dessa? Devemos manter letreiros em castelhano porque, no Reino da Espanha, a xenofobia se bebe com o café da manhã e se come com a fruta da sobremesa? Estou certo de haver muitas pessoas que, sem falar galego, nunca se sentiram nem se sentiriam molestar por ver que, em troca de "Centro Ciudad" põe "Centro Cidade". Ou "Centre Ciutat" ou como se escreva na Catalunha.

Portanto, manter um uso social do castelhano num país com língua própria, o galego, é legitimar a xenofobia dos espanhóis hostis ao resto de línguas.

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