Por José Manuel Barbosa
O jornal "La opinión" da Crunha reproduz um artigo que leva por título “El origen árabe de los gallegos”. Nele o jornalista afirma que num estudo realizado pela Universitat Pompeu Fabra de Barcelona e a Leicester University (Reino Unido), no qual colaborou o diretor do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Santiago, o Professor D. Ángel Carracedo, -conhecido das pessoas que participamos no Congresso “Os celtas da Europa Atlântica” celebrado em Narão (Comarca de Trasancos) os passados 15, 16 e 17 de Abril de 2011- se considera a origem dos galegos como árabe.
O jornal "La opinión" da Crunha reproduz um artigo que leva por título “El origen árabe de los gallegos”. Nele o jornalista afirma que num estudo realizado pela Universitat Pompeu Fabra de Barcelona e a Leicester University (Reino Unido), no qual colaborou o diretor do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Santiago, o Professor D. Ángel Carracedo, -conhecido das pessoas que participamos no Congresso “Os celtas da Europa Atlântica” celebrado em Narão (Comarca de Trasancos) os passados 15, 16 e 17 de Abril de 2011- se considera a origem dos galegos como árabe.
No
artigo comenta-se que os galegos, asturianos e leoneses (não fala
dos portugueses do Norte) têm uma herança genética muito
importante proveniente do Norte da África mais alta do que outras
zonas, nomeadamente, Valência, Granada ou Castela-A Mancha onde
supostamente houve mais muçulmanos. As causas, diz-nos o artigo,
foram expostas pelos investigadores. Fala-se-nos que são os geneticistas quem opinam, mas não espertos em história, pré-história, arqueologia, linguistas ou antropólogos... e guardariam relacionamento com as deportações massivas de mouriscos de Granada para outros lugares da
Espanha no século XVI. Parece ser que o Doutor Carracedo indicava já
em 2002, nas Jornadas sobre Genética e História no Noroeste
Peninsular, que isto mesmo poderia ser causa dos primeiros
povoamentos árabes que chegaram a Galiza no século VIII.
Sobre
isto quereríamos comentar o seguinte:
Lembramos que o Professor Angel Carracedo comentou-nos em Narão,
algo parecido sobre o vínculo genético entre os galegos e os
norte-africanos mas naquele caso dissera que eram os norte-africanos
os que conservavam as achegas genéticas do norte peninsular
cantábrico. Justo ao invés de como se nos expõe no jornal.
A
investigadora Paula Sanchez, colaboradora da equipa do professor
Carracedo também nos expus nas II Jornadas de História da Galiza
celebrado em Ourense em março de 2009, o seu pensamento não muito
distante do diretor do seu gabinete
O
próprio Carracedo nos contou em conferência organizada pelo Facho
em novembro de 2011 o que aqui podemos ouvir:
No Congresso de Narão, Carracedo reafirmou as teses que confirmavam
as migrações pré-históricas que levaram as populações do norte
da península até as Ilhas Britânicas mas também até o Norte de
África, dizendo-nos a todos, com a presença de professores
de diversas nacionalidades cujo prestígio científico
internacional é indiscutível que os atuais irlandeses e britânicos são descendentes daquelas populações paleolíticas e neolíticas
que chegaram às Ilhas em épocas de deglaciação.
A sua admirável exposição naquela altura levou-o a considerar que "a
xenética aínda ten moitas limitacións cando as poboacións son moi
próximas pode falar de migracións, particularmente mediante o uso
de marcadores do cromosoma Y e do ADN mitocondrial que falan das
liñas paterna e materna, pero non pode dicir cal era a cultura ou a
fala das persoas que levaban esos linaxes"
O E3b de origem norte-africano no UK |
Reparemos em que...:
… não se pode dizer qual
era a cultura ou a fala das pessoas que levavam essas linhagens...”.
Reparemos por outra parte nas notícias que se deram e em como a deram:
Durante
o seu discurso sobre os movimentos de população do Noroeste galego à
luz da genética, Carracedo confirmou que Galiza serviu de refúgio
glacial e que depois das glaciações, parte desta população se
deslocou até Inglaterra e Irlanda mas também até África...
Mas
apesar dessa afirmação, quis deixar claro que ele, quando se está a
referir aos movimentos da população, não fala de celtismo, nem de
culturas ou línguas mas de genética dos povos. E para analisá-la
disse que “se usam marcadores do cromossoma e do ADN
mitocondrial”
Consequentemente
Carracedo não se pronunciou em favor ou em contra da celticidade da
Galiza, simplesmente manifestou que as investigações oferecem
resultados de mapas populacionais que indicam parentesco, direções
nos movimentos de povoamento e que o labor de interpretar
historicamente os dados não corresponde ao geneticista mas ao
historiador. As suas achegas são ferramentas de muita utilidade para
que os espertos em história, língua, arqueologia e antropologia
usem com precaução e objetividade para integrar no entramado de reconstruirmos a realidade passada, presente e futura da Galiza.
Do que concluímos com esses dados objetivos não é o que o irresponsável
jornalista diz duma suposta procedência árabe. Os dados falam-nos
de vínculos com o norte de África e os povos nativos daquela zona são basicamente berberes, não árabes. Esses povos têm uns vínculos
muito antigos com outros grupos humanos geograficamente atlânticos e
europeus até o ponto de ser em pontos das Ilhas Britânicas, da
própria Gália e de outros lugares do continente onde encontram uma manifestação também importante.
Tom Jones, um celta-galês que muitos acreditariam norte-africano |
Não há muito a dizer sobre a presença física, de muitos
habitantes do Atlas, com elementos muito similares a quaisquer outros territórios europeus mais nortenhos. A pela branca em muitos casos, os cabelos loiros ou
ruivos, os olhos claros... são caraterísticas históricas unidas de
forma importante aos norte-africanos.
Não sabemos se isto tem a ver com a hipótese trabalhada pelo professor
John T. Koch sobre a celticidade ou proto-celticidade da língua
tartéssica, emparentada portanto com as falas celtas do ocidente da
Europa.
Também algo
sabemos, igualmente sobre o périplo norte-africano dos povos cuja
genética reconhecemos a dia de hoje como culturalmente celta..
O ADN do Rei Tut e Aspecto Fisico do Rei Tut
...para além de todas as lendas que ao redor do assunto estão presentes ainda hoje na vida dos povos atlânticos. Na memória mitológica dos celtas está a ideia de que Egito e sobre tudo Scythia foram lugares de origem.
Anthroeurope
...para além de todas as lendas que ao redor do assunto estão presentes ainda hoje na vida dos povos atlânticos. Na memória mitológica dos celtas está a ideia de que Egito e sobre tudo Scythia foram lugares de origem.
Anthroeurope
Contrariamente
a isto e dum ponto de vista etnológico, antropológico, filológico,
(pré-)histórico, arqueológico e mesmo genético não há restos
de presença árabe na Gallaecia entendendo por árabe a cultura,
língua, etnia, tradições.... provenientes do Meio-Oriente. Se algum
jornalista iletrado relaciona islamismo ou norte-africanismo com
arabismo está errado. Os três elementos não têm porque coincidir.
Do nosso ponto de vista a presença, importante, de elementos genéticos comuns com o Norte de África, nem tem a ver com as deportações mouriscas do século XVI, nem tem a ver, pelo menos de forma maciça com a entrada dos berberes como tropa da invasão islâmica na Espanha visigoda. Segundo os dados que contamos fornecidos pessoalmente pelo meu professor Anselmo Lopez Carreira na época na que eu era o seu aluno de História, o Al-Andalus do século X tinha aproximadamente uma população de uns 10 milhões de pessoas entre os que se achavam vários grupos etno-religiosos diferentes: Uma minoria de umas 1000 famílias de origem árabe (sírios ou palestinianos e iemenis) estabelecidas nos vales do Guadalquivir e do Ebro; um grupo importante de berberes que conformavam o exército, sobre tudo os mandos estabelecidos nas zonas montanhosas do Planalto do centro peninsular, Serra de Ronda e o Algarve e por baixo destas minorias dirigentes a grande massa da população conformada por moçárabes (cristãos nativos hispano-godos) e muladis (hispano-godos muçulmanos) que ocupavam a totalidade do território. Aliás havia grupos de origem judeu junto com africanos pretos e eslavos procedentes estes últimos do mercado de prisioneiros e escravos de Bizâncio e de África.
Mulher do Rif com o seu neno. |
Do nosso ponto de vista a presença, importante, de elementos genéticos comuns com o Norte de África, nem tem a ver com as deportações mouriscas do século XVI, nem tem a ver, pelo menos de forma maciça com a entrada dos berberes como tropa da invasão islâmica na Espanha visigoda. Segundo os dados que contamos fornecidos pessoalmente pelo meu professor Anselmo Lopez Carreira na época na que eu era o seu aluno de História, o Al-Andalus do século X tinha aproximadamente uma população de uns 10 milhões de pessoas entre os que se achavam vários grupos etno-religiosos diferentes: Uma minoria de umas 1000 famílias de origem árabe (sírios ou palestinianos e iemenis) estabelecidas nos vales do Guadalquivir e do Ebro; um grupo importante de berberes que conformavam o exército, sobre tudo os mandos estabelecidos nas zonas montanhosas do Planalto do centro peninsular, Serra de Ronda e o Algarve e por baixo destas minorias dirigentes a grande massa da população conformada por moçárabes (cristãos nativos hispano-godos) e muladis (hispano-godos muçulmanos) que ocupavam a totalidade do território. Aliás havia grupos de origem judeu junto com africanos pretos e eslavos procedentes estes últimos do mercado de prisioneiros e escravos de Bizâncio e de África.
Ainda
contando com a possibilidade de que a Galiza fosse povoada na Idade Média com elementos étnicos andalusis, cabe
perguntar-se quantos eram berberes e quantos hispano-godos
islamizados, quer dizer, muladis. Acho que era a populaçao do comum a que fugia das guerras e dos conflitos procurando paz e por isso nem eram árabes, nem provavelmente eram militares berberes por serem ambos grupos dirigentes num conjunto populacional basicamente nativo e hispano. Em qualquer caso não caberia a
possibilidade de que fossem muitos mais dos que hoje andam pelas
nossas ruas sem que isso faça da Galiza (nem da França ou do Reino
Unido... ) um país herdeiro de qualquer ponto de vista da cultura norte-africana.
Pensamos que a hierarquia árabe nunca foi deportada à Galiza medieval, porque eram os
grupos dirigentes da Al-Shban, não assim outros grupos que ainda de religião islâmica não eram de procedência árabe.
Do
nosso ponto de vista os restos genéticos norte-africanos existentes
em maior número na área astur da Gallaecia (Leão e zonas orientais das atuais províncias de Lugo ou Ourense) podem ser provenientes
de grupos de escravos trazidos às minas pelos romanos ou por populações proto ou pré-históricas existentes aqui, quer por
contatos... ou mesmo porque fossem originárias dessa região e que
partissem de aqui para Sul em tempos pré-históricos.. como nos indica Carracedo na sua exposição no ivoxx acima apresentada.
Reconstrução do morfotipo
caraterístico do oito zonas geográficas nas que o fenotipo R1b1a2
atinge percentagens superiores ao 80% da população. De esquerda a
direita e de arriba para abaixo apresentam-se Galiza, Astúrias,
Cantábria, Euskadi, Irlanda (Mayo), Irlanda (Ferry), Sudoeste de
Inglaterra (Devon) e Cornualha. Nenhuma das
fotografias se corresponde com uma pessoa real. Graças a
Anthroeurope.
|
A incomodidade que para o paradigma historiográfico castelhanista supõe a existência duma região, não só étnica e culturalmente celta, mas matriz desse mundo no seu imaginário hispânico é importante. Levam anos tentando botar por terra a ideia de que a velha Gallaecia seja celta e portanto não vão permitir a ideia muito mais contundente e radical de sermos o berço etnocultural e linguístico das Ilhas Britânicas e do ocidente atlântico europeu em geral. A falta de auto-estima dos espanhóis, alimentada durante os últimos séculos pelo complexo de serem um grupo humano dificilmente aceite pelas nações civilizadas da Europa pelos seus vínculos históricos com o islão, manifesta o seu sintoma mais agudo em que não gostam de que dentro da “sua” península haja uma nação que não termina de se assimilar e que represente de forma viva a presença desse inimigo ancestral politica, económica e culturalmente mais desenvolvido e próspero (nunca deixaram prosperar à Galiza por causa desse medo) ao qual nunca terminaram de se parecer e do qual sempre recebeu desprezo. De volta, o mundo hispâno-castelhano-mediterrânico despreza, ignora, desidentifica, agrede, provoca, deturpa e adoece por causa duma Galiza não castelhana nem mediterrânica mas céltica, atlântica e europeia embora empobrecida pela nefasta gestão histórica de Madrid. É essa Galiza que representou os cristãos velhos que nunca foram islamitas enquanto eles se arrogavam essa etiqueta de cristãos velhos como escusa para limpar etnicamente os muçulmanos ou lhe exigirem conversão. Como forma de pobre reafirmação de identidade nacional, manifestavam em épocas obscuras que África começava nos Pirenéus sem tomarem consciência de que onde realmente estava o limite dum ponto de vista étnico e cultural entre África e Europa foi sempre aproximadamente a linha do Douro-Ebro. Risco falava da Euroibéria e da Afroibéria... Esse sentimento infelizmente racista do espanhol surgido do seu complexo de inferioridade manifesta-se hoje no anti-galeguismo (Artigo do Perez Reverte) que mesmo muitos galegos assimilam e aceitam em forma de endofobia gerada na educação emanada desde o paradigma oficial do Estado e incutida desde a escola primária. Os “mouros” sei-que somos nós... não eles. Como se o facto de ter sido adetos da religião islâmica fosse motivo duma legítima infravaloração... Os “párias” da Europa criam os seus próprios “parias” dentro do seu próprio Estado localizando-os no noroeste peninsular com gente próxima etno-culturalmente aos "amos" do mundo para terem em quem malhar, em quem mandar e com quem se sentirem superiores. Uma forma de dopagem auto-identificativa
2 comentários:
A rapaza loira non parece bereber, pola roupa eu diría que pertence á etnia Kalash.
Um erro desse jornalista é atribuir os gens árabes as deportações de mouriscos do reino de Granada, o que ignora esse homem é que esses mouricos eram mais que árabes , arabizados , eram iberos islamizados e arabizados.
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