Por José Manuel Barbosa
O dia anterior a escrever estas linhas, vi o debate sobre o estado da Nação celebrado estes dias passados no parlamento do Hórreo. Como quase sempre nas últimas décadas é tudo muito aborrecido excetuando as intervenções do José Manuel Beiras que são as que lhe dão sabor ao debate. De tudo o que ele falou quereria salientar um ponto que me deu para pensar e consequentemente originou este artigo que estais começando a ler.
O professor Beiras é
pessoa com uma importante lucidez mental e com o seu brilho
particular deu a conhecer a sua vontade generosa ao manifestar que
ele tinha escolhido o bando dos perdedores (Vídeo aqui). Evidentemente isso não
pode sair duma pessoa débil. Quem é capaz de se pôr da parte dos
perdedores tem de ser pessoa de carater poderoso, generoso e estar
bem disposto a recebê-las dos média, sempre prontos a vilipendiar
todo aquilo que vá contra o stablishment originado desde os 80
quando se criou a Galiza autonómica -auto-anémica que diria ele
próprio-. Outros personagens políticos preferiram a segurança do
poder porque necessitam ocultar as suas carências e misérias
humanas, tanto inteletuais, quanto políticas ou morais, debaixo da asa
protetora da grandíssima besta das sete cabeças que é o que
representa esse poderoso construto estatal despótico qual leviatã devorador de tudo aquilo que se lhe puser por diante, onde levamos submersos muito
mais tempo do que seria desejável por qualquer pessoa conhecedora e
amante do Nosso País.
Mapa da Corrupção do PP |
A hipocrisia, a
bastardia, os complexos, a corrução e a malícia ficam ao descoberto
sempre nas figuras de quem nos têm governado os últimos quase trinta anos
-embora nestes últimos tempos com mais baixeza do que nunca-, com personagens de nova
geração que nunca acreditaram em si próprios, nem no povo galego,
mas ocultando essa mediocridade, acrescentada no facto de se refugiarem nas siglas
falsamente populares dum poder sem princípios nobres. Por essa pratica desleal dos políticos que nos regem hoje e pelo abuso ao que estamos submetidos por parte dessa grei de políticos descastados, o professor Beiras identificou-nos aos
galegos com os perdedores.... mas isso chegou-me ao fundo.
Perdedores, talvez, porque não estamos numa situação de libertação mas tudo o contrário...
Para o galeguismo
oficial os obstáculos a vencer são dous: o sistema e o
nacionalismo espanhol. A resposta desse galeguismo oficial ou
institucional é a oposição visceral contra estes dous elementos
como se fossem um só. Lógico, se esse galeguismo se tem definido
como “nacionalismo de esquerdas”, mas duvido da sua lógica se de
efetividade e de eficácia estamos a falar.
Desde os anos 60, o
galeguismo tem sido um nacionalismo de barricada, de resistência,
nunca um movimento com vocaçao de poder. Isso tem feito com que os
partidos políticos com certo sucesso nestes últimos trinta anos -a
maior parte deles integrados no BNG durante os anos 80, 90 e durante
algo mais de uma década do século XXI-, tenham sido mal tratados e
mal considerados desde todos os médios de comunicação,
discriminados, manipulados e até abusados legalmente porque esses
dous inimigos -sistema e nacionalismo espanhol-, aliados entre si têm
colaborado estreitamente fazendo impossível botar abaixo tal
construto. A sociedade galega tem ido de cara à desnacionalização
nestas últimas três décadas muito mais rapidamente do que nos anos
de Franco e de forma mais eficaz do que nos chamados Séculos
Obscuros. A aliança anti-galega -sistema e nacionalismo espanhol-
têm-se apresentado como invulnerável e invencível com um PP no
poder como o PRI em México, intratável e burlador, corruto e
totalmente desleal. Aliás, o PSOE, partido nada vinculado com os
interesses do País (contrariamente ao seu homólogo catalão o PSC)
age como colaborador do PP e obstaculizador do nacionalismo, com
pouca ânsia de governar quando lhe corresponder e favorecendo o fora
de jogo dos seus inevitáveis aliados de governo
nacionalistas. O BNG em minoria e desempoderado foi sempre objeto de
maltrato político e legal, evidenciando uma falta de eficácia
importante a respeito da necessária construção nacional tão
necessitada pelo Nosso País. Só duas ligeiras esperanças foram as
que nos fizeram abrir os olhos estas últimas décadas: a última foi
quando o Bloco chegou a ser segunda força política, pronto a
governar e a primeira quando aquela histórica Coligação Galega chegou
prometendo nacionalismo e governabilidade homologando-se assim aos
sempre eficazes PNV basco e CiU catalão.
Ambas as esperanças morreram. A última por má gestão do Bloco e a segunda por uma muito boa gestão caciquil do PP comprando a vontade e a adesão dos daquelas nomeados “coagas” mais facilmente subornáveis. A gente digna da C.G. ficou no partido, mas fora do parlamento e sem qualquer hipótese de recuperarem os assentos do Hórreo.
Ambas as esperanças morreram. A última por má gestão do Bloco e a segunda por uma muito boa gestão caciquil do PP comprando a vontade e a adesão dos daquelas nomeados “coagas” mais facilmente subornáveis. A gente digna da C.G. ficou no partido, mas fora do parlamento e sem qualquer hipótese de recuperarem os assentos do Hórreo.
Entretanto a Catalunha e
o País Basco caminhavam de cara a sua construção nacional com a
força suficiente como para pôr em apuros Madrid até o ponto de
chegarmos ao momento no que estamos hoje, falando de
independências e de criação de novos Estados livres na Europa fora do poder
madrileno. Mas a isso chegou-se porque o nacionalismo catalão não
se confrontou com o sistema ou pelo menos porque não mesclou a luta
anti-sistema com a luta de construção nacional. A prioridade foi a
reivindicação do direito a decidir em favor da construção
nacional e não o confronto com um sistema, quer dizer, optaram pela
luta política contra o inimigo mais assumptível: o poder
madrileno. Confrontar dous poderosos inimigos ao mesmo tempo não ajudou nunca nada.
As circunstâncias criadas por trinta anos de cousas bem feitas ajudam
na reivindicação da autodeterminação. Por outra parte se o povo catalão
conseguir a sua soberania estaria em condições de atender ao
outro problema, o sistémico, organizando-se conjuntamente com outros povos livres para botar-lhe à mão
ao pescoço a uma situação mundial que se manifesta “anti-pessoas”. Botar
abaixo um sistema dentro do próprio país desde a condição de nação sem Estado não é viável nem possível, ainda que se atenda essa necessidade... A falta de soberania impossibilita mudar as estruturas interiores porque sempre há um poder acima, o do Estado Central, que corta toda iniciativa. Sim é viável, em troca, modificar as próprias estruturas quando o País é soberano e mesmo pode colaborar com outros países
soberanos desde os movimentos sociais para trocar um
capitalismo neo-feudal por uma forma mais humana de nos organizarmos.
Na Galiza ainda não se
tem visualizado claramente que há dous inimigos e aliás duas frentes com diferentes prioridades. O mais imediato problema que
obstaculiza o nosso desenvolvimento é o poder madrileno e é por isso
que não podemos permitir-nos que o Estado se alie com o sistema... ou
dito de outro jeito: o galeguismo deve abrir as portas de imediato a
uma opção política que não seja anti-sistema com o objetivo mais
imediato de inutilizar a agressão menos difícil de neutralizar. O
leque partidário deve estar completo. A esquerda nacionalista já
existe e mesmo com um certo sucesso comparado com outras forças nacionalistas de esquerda de outras nações
sem Estado. Falta no parlamento galego a versão
denominada de centro-direita. As contradições do regime
nacionalitário espanhol são bastante menos difíceis de pôr em
evidência do que pensamos se os esforços se fizerem tanto desde a banda esquerda como desde a banda direita.
Numa situação
partidária coxa na que todo o esforço dos galeguistas se exprime
desde um posicionamento estritamente de esquerda não faz
possível a saída da situação na que estamos e desde a que
recebemos golpes por todos os lados. Não estamos defendidos com este
nacionalismo que ataca sempre pela mesma banda, a banda que está
melhor defendida pelo oponente. No entanto, com todas as opções presentes, o jogo
partidário é mais ágil, mais fácil, as maiorias absolutas do PP
mais difíceis, o progresso da sociedade galega mais viável, a
desgaleguização da sociedade por parte das forças políticas não-galeguistas mais difícil e a democracia mais real. De continuarem as cousas tal qual
são hoje é fácil que deixem de ser uns imperialistas fracassados
mais tarde ou mais cedo. Isso sabia-o muito bem Manuel Fraga que
muito inteligentemente foi contra a Coligação Galega no seu dia.
Ele sabia que era desde esses posicionamentos políticos donde
poderia vir uma situação similar ou parecida à que está a
acontecer em Catalunha porque o sistema poderia aceitar uma Galiza
livre dentro do sistema mas não se permitiria nunca uma Galiza
governada por marxistas.
O nacionalismo dos
últimos trinta anos leva sido pouco prático,
quer porque o galeguismo de centro-direita não soube
manter-se, quer porque o de esquerdas não permitiu que nascesse nada
à sua direita com muito pouca visão “de Estado”. O BNG pôde
ter favorecido forças à sua direita e mesmo teria sido bom para ele
mas isso não o viram os seus dirigentes obcecados nos seus
posicionamentos estreitos. Um nacionalismo com mais dum 20% do voto
não solucionou nem vai solucionar nunca nada. Sim solucionaria, todavia, junto com uma representação dum 20 ou um 30% doutro partido como pôde ter sido C.G. Se essa
possibilidade fosse favorecida desde um BNG aberto e mais
imparcialmente galeguista, a desgaleguização linguística, social,
económica, cultural e política não teria sido possível e a
ordenação e governação do Reino teria sido outra, podendo ter
sido capazes entre todos duma transformação do espaço político estatal no que
nos mexemos na direção dum Estado Plurinacional como o é Suíça
ou Bélgica. Essa situação de controlo do poder central não teria favorecido maiorias
absolutas abusadoras e teria facilitado em troca, coligações em governos plurais onde todos pudéssemos
caber inviabilizando indesejáveis neo-franquismos como o atual. Se
essa visão histórica tivesse sido similar ou parecida à que
estamos a desenhar aqui dum ponto de vista teórico por ter sido viabilizada no seu dia por um nacionalismo com pensamento “de Estado”,
provavelmente hoje estaríamos num contexto político no que nada
teríamos de invejar de Catalunha e portanto não estaria o Professor
Beiras lembrando-nos a sua dolorosa e generosa escolha em favor dos perdedores. Perde-se porque as estratégias são as erradas.
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