terça-feira, 20 de setembro de 2016

Carta de Castelao e Suarez Picalho a Salazar

R. Suarez Picalho
 
A. Daniel R. Castelão
Por Afonso Daniel R. Castelão e Ramón Suárez Picalho 
In Nova Galiza, n.º 2 (20-IV-1937)
Como vosselência não deixaria chegar ao povo português a voz dos patriotas galegos, queremos que, pelo menos, chegue a vosselência a queixa dorida de dois galegos que sempre amaram Portugal. Asseguram que vosselência crê em Deus. Não o sabemos… E não o sabemos porque Deus ―infinitamente bom, sábio, justo e, ademais, imortal― não quis ser Ditador e concedeu-nos o livre arbítrio para que nós mesmos buscássemos o caminho da felicidade, enquanto que vosselência ―cativo verme, que se considera feito à imagem e semelhança de Deus― não teve dúvida em aprisionar a liberdade do povo português, a asfixiar a livre emissão do pensamento e submeter a nação portuguesa ao seu capricho. Grande pecado de soberba, senhor Ditador! Não sabemos se vosselência é um Ditador tão vaidoso como Mussolini e Hitler (vemos que não gosta tanto dos fotógrafos); mais, ainda que o fosse, não cremos que vosselência pretenda tapar com a sua figura os progenitores da Pátria lusa. Eles conquistaram a independência da Nação portuguesa e vosselência está jogando-a agora na roleta internacional, em conluio com os inimigos da liberdade.
Não sabemos se a História perdoará os seus delitos, tão graciosamente como a mais alta hieraquia da Igreja lhe perdoa os seus pecados. Contudo, não se julgue seguro no castelo de fumo que a imaginação de vosselência criou, porque o povo tem um sentido incoercível de justiça e do seu cerne podem surgir juízes terrivelmente vingativos. Mas no entanto é forçoso reconhecer que vosselência manda hoje em Portugal. Por que ajuda vosselência os militares espanhóis, que se ergueram em armas contra o Poder legitimamente constituído? Mediu vosselência os riscos que de semelhante ajuda podem derivar para o Estado português? Porque a beligerância de Portugal na guerra civil espanhola é, simplesmente, uma imprudência temerária, que não abona o talento de vosselência. Tenha vosselência por bem seguro, além do mais, que a Espanha vai ser a campa do fascismo internacional, porque vencer a um povo em armas, dentro do próprio território, não é vencer a força máxima do seu pensamento nem matar a razão que o assiste. A luz das estrelas não se apagará soprando desde Roma. Agora bem; as ajudas fascistas prolongarão a guerra e agravarão os seus resultados, em prejuízo, naturalmente, das concepções que vosselência defende.
Mas nós iremos falar somente como galegos para que apareça mais avultada a gravíssima intervenção de vosselência. Sabe vosselência que Galiza tem todos os atributos de uma nacionalidade: língua, terra, história, arte, espírito, etc., e que, portanto, seria fácil fomentar ali um ideal patriótico de carácter separatista; mas nós aspirávamos, modestamente, a uma simples autonomia que garantisse o livre desenvolvimento da cultura autóctone e que nos permitisse resolver os problemas vitais que a morfologia social e económica de Galiza tem estabelecidos. Sabe vosselência que Galiza apresentou às Cortes da República espanhola, três dias antes de rebentar o movimento subversivo, um Estatuto autonómico proposto pela quase totalidade dos Concelhos e aprovado, em plebiscito recente, por setenta e cinco por cento do Corpo eleitoral; ou seja, depois de vencer com o mais rigoroso zelo as condições que a Constituição exige. Crê vosselência, senhor Professor de Direito, que nós realizámos algum atentado criminal? Pois a fronteira portuguesa não se abriu para os autonomistas galegos, que fugiam da morte, negando-lhes vosselência o direito de asilo a homens que viviam dentro da Lei e que não cometeram maior delito do que defendê-la. E a polícia de vosselência, a polícia de um país que aboliu a pena capital, entregou muitos galegos para que fossem assassinados. Sabe vosselência que Portugal reclamou e conquistou, violentamente, a sua independência nacional, mais do que para romper a unidade hispânica, para não se submeter à tirania centralista. Portugal não queria morrer assimilado por Castela, e num arroubo de génio rompeu as amarras familiares, pediu separação de bens e foi viver a sua vida na melhor frente do lar comum, na grande frente do Atlântico. Não há dúvida que foi Portugal quem quebrou a unidade hispânica. E fez bem. Agora, senhor Professor de Direito, sabe vosselência que o “motivo patriótico” que invocam os militares espanhóis, para justificarem o seu crime, foi provocado pela generosidade constitucional, pois, segundo eles, a concessão das autonomias regionais põe em perigo a “sagrada unidade da pátria”, quando, na verdade, serve para fortificá-la. Sabe vosselência que os militares facciosos defendem, somente, um sistema, um sistema unitário e centralista, que causou a perda do nosso império colonial depois de desintegrar a Península e acirrar novos separatismos. Sabe vosselência que esses militares desprezam olimpicamente Portugal, sem o conhecer, e guardam no seu interior um anseio irreprimível de reconquistá-lo pela força, enquanto que os povos autónomos da República espanhola seriam sempre uma garantia da independência de Portugal e um estímulo eficaz de aliança peninsular. Sabe vosselência que o triunfo do fascismo em Espanha supõe o regresso de Catalunha, Euzcadi** e Galiza à tirania centralista, tirania que Portugal não suportou. E não falamos do que a Portugal pode sobrevir-lhe do triunfo das ideias totalitaristas e a participação de uma Espanha ensoberbecida no concerto europeu. Crê, vosselência, senhor Ditador, que Portugal pode dignamente ajudar os militares espanhóis no afã de abolir as autonomias e contribuir para a morte da democracia na Europa? Pois vosselência ajuda a esses militares, concede asilo generoso aos facciosos e aos políticos do velho sistema, convertendo Portugal em “galinheiro de Espanha”. Sabe vosselência, apesar de ser judeu, que Galiza e Portugal formam, etnicamente, um mesmo povo. Foram-no no amanhecer da História e caminharam juntos muito tempo, a falar e a cantar no mesmo idioma. Juntos ergueram um dos mais belos momentos do mundo: a grande poesia lírica dos Cancioneiros galaico-portugueses. Juntos criámos uma cultura e um modo de vida. E o rio Minho era o nosso pai. Sabe vosselência que ainda depois da malfadada separação, Galiza e Portugal queriam-se como dois namorados. Portugal era o moço forte, que partiu para a guerra e Galiza foi a moça que ficou a tecer saudades. Galiza dera a Portugal, como prenda de amor, a fala e a arte; Portugal deu muitas vezes a Galiza o socorro do seu braço forte. Sabe vosselência que a separação foi desventurada. A Portugal faltou-lhe a força “frenética” de Galiza e enloqueceu; à Galiza faltou-lhe a força “simpática” de Portugal e esmoreceu. A Portugal faltou-lhe o “caminho estrelado da Europa” e à Galiza faltou-lhe a continuidade na História. Portugal esqueceu-se da Galiza e desgastou o seu sangue com misturas de cor; Galiza esqueceu-se de Portugal e ficou estéril para conceber. Pois bem, senhor Oliveira: sabe vosselência que os galeguistas éramos algo mais que políticos. Respeitávamos, como não! a fronteira que separa os dois Estados peninsulares: mas queríamos asas para voar e comunicarmos convosco, sobre o Minho, por cima dos carabineiros e dos guardas fiscais. Queríamos voltar a falar e cantar no mesmo idioma. Com canto amor pensávamos em Portugal! Deve saber vosselência que o nosso amor a Portugal valeu-nos o ódio dos chamados “nacionalistas” espanhóis e que foi justamente esse amor o delito mais grave que se nos imputa. Crê vosselência, senhor Oliveira, que os galeguistas estávamos infectados de alguma enfermidade perigosa para o povo português? Pois vosselência tratou-nos como empestados, metendo galeguistas em cadeias imundas ou entregando-nos aos assassinos da “Falange Espanhola”. Sabe vosselência que os intelectuais portugueses e galegos começavam a formarem uma comunidade cultural que seria outro expoente da nossa estirpe atlântica. Chamávamo-nos “irmãos”, e Rosalía de Castro era o “corpo santo da saudade”. Um poeta amigo de vosselência, quis engaiolar a Galiza com este chamamento: “Deixa Castela e vem a nós!” Sabe vosselência que os galeguistas fechávamos os ouvidos a todo chamamento ilícito; mas queríamos ser fiéis aos legados da tradição, e cada vez nos sentíamos mais empurrados face a Portugal. O rio Minho queria juntar-nos de novo. Sabe vosselência que os jornais portugueses, submetidos à censura governativa, seguiram com simpatia os incidentes do movimento autonomista em Galiza e não dissimularam o seu contentamento ante o resultado favorável do plebiscito estatutário. Outro tanto fizeram já quando se resolveu o pleito catalão. Tudo nos fazia supor que Portugal ansiava uma estruturação federativa do Estado espanhol, e nós sonhávamos, para quê negá-lo, com que algum dia se consagrasse definitivamente a irmandade galaico-portuguesa. Pois bem, senhor Oliveira: vosselência matou as nossas ilusões. Crê vosselência que se pode ajudar descaradamente aos imperialistas espanhóis? Pois vosselência tornou-se cúmplice desses assassinos que cometeram em Espanha o crime mais arrepiante que a História regista. E vosselência fechou as portas, sempre abertas, da nossa República, aos seus próprios amigos, que algum dia renderão contas ante a justiça inexorável do povo português. Sabe vosselência que na Galiza, ainda irmã de Portugal, cometeram-se muitos milhares de assassinatos. Massacrou-se o melhor e mais puro da nossa mocidade. Fuzilaram-se centenas de mulheres. Mataram-se rapazes cheios de vida na presença de seus pais. As estradas apareciam, e ainda aparecem, diariamente orladas de cadáveres desfeitos, que não podem identificar-se. Sacavam-se da cadeia os presos inocentes para serem assassinados pela noite. As autoridades ordenavam fuzilamentos sem prévia formação de causa. Enfim; abonda dizer que era uma honra ser julgado e fuzilado “oficialmente”. Sabe vosselência que falamos em tempo passado, mas que ainda hoje continua o massacre dos cidadãos galegos. Pelos jornais da nossa Terra, submetidos ao controlo militar, verá vosselência a insaciável criminalidade dos seus aliados e amigos. Sabe vosselência que para reconstruir o nosso lar desfeito provavelmente não nos fica mais que a reserva dos galegos que andam pelo mundo? Pois bem; estes galegos vingarão os nossos mártires e criarão uma nova Galiza que já não medirá sonetos em louvor de Portugal. Crê vosselência que os bons galegos, enlutados para sempre, podem viver sem amaldiçoar? Pois nós dizemos-lhe que vosselência causou o luto de muitas famílias galegas por não abrir generosamente as portas de Portugal. E dizemos-lhe mais: vosselência será para os sobreviventes de Galiza algo menos que um assassino; será um cúmplice de assassinos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Como e quem nos manipula?






Por José Manuel Barbosa
(Ver: A manipulação do ser humano através da linguagem)
A manipulação é um dos mecanismos aos que estamos submetidos no mundo que vivemos. A guerra é substituída pela política na Era da democracia o qual não significa a ausência da agressividade mas tudo o contrário. A agressividade converte-se numa arma subtil tanto no pessoal quanto no social e político. Perante isso cumpre reconhecermos os mecanismos, as estratégias, as formas e os modos para nos podermos mexer entre as espadas. É de obrigada aprendizagem para nos podermos defender bem.

Nestes momentos de destruição da Galiza de todos os pontos de vista vejamos como é que age o poder connosco para que a nossa destruição seja totalmente eficaz. De nós depende o sabermos contrapesar essa energia negativa e convertermo-la em energia neutra.
Os dez princípios usados pelos manipuladores e pelos psicopatas segundo nos informam os psicólogos podem dar-nos informação do que se faz com os galegos.
Vejamos a que estamos submetidos:

1- Volver-te tolo com enganos: "Isso não aconteceu nunca", "imaginache isso", "Volviche-te tolo", "Estas errado".... Serve para distorcer o teu sentido da realidade tentando bombardear a tua auto-confiança e impede a tua defesa frente o abuso.
(O paradigma historiográfico castelhanista em que a Galiza não existe na História é um exemplo. Se falas do "Gallaeciense Regnum", se falas dos celtas, se falas dum País medieval soberano.... são imaginações de historiadores que baseiam as suas teses na Ciência Fição)
Mapa do Historiador castelhano Modesto Lafuente do seu livro "Historia General de España" editado entre 1850 e 1867 onde se pode ver a tradução que ele faz do nome que os muçulmanos lhe davam ao NW peninsular. A "Jalikiah2 árabe é traduzida por "Reino de León"

2- Projetar a culpa em ti e não em quem te está a manipular: "A culpa é tua", "A mim que me contas"... Tenta descarregar toda a responsabilidade em um e livrar-se dela o/a manipulador/a
(Os incêndios são culpa da cultura galega, a cultura do lume; os galegos são os culpáveis dos incêndios porque sempre há alguém que por uns euros é capaz de pôr-lhe lume a um monte. Os galegos são parvos porque sempre votam ao Pepé que não faz mais do que fazer-lhes dano pelo que os galegos são uns masoquistas que não merecem crédito..)

3- Tirar as cousas de contexto sem reconhecer os matizes de uma manifestação ou as múltiplas formas de perceber um assunto.
(Lembrais a notícia que se dava nos média da imposição aos escolares para apreenderem o hino galego escrito por um tal "Arturo" Pondal e no que se dizia que os que não sabiam falar galego eram "imbecis e escuros"?)


4- Mudar as regras de jogo ou utilizar duas varas de medir. O que vale para mim não serve para ti. (Quintana não pode negociar com um empresário sobre os eólicos... mas Feijó pode enlear-se com um narco ou o Rajoi pode estar no iate de outro... No primeiro caso "não se pode tolerar", no segundo e terceiro "isso não tem importância". Também poderíamos falar das duas varas de medir quando dos assuntos da língua falarmos: o bilinguismo está bem para os galegos mas para os demais não... ou como disse um parlamentar catalão num dos últimos debates: "Vcs, (dirigindo-se aos parlamentares do Pepé) são monolingues que querem que nós, bilingues, sejamos trilingues")
5- Desviar o tema e não querer ouvir o que um quer dizer deixando a tua opinião sem comunicar e fazendo-che ver que o que pensas não tem importância. (As manifestações dos tratoristas galegos não saem nos informativos... as de Sevilha ocupam 20' do Telejornal da noite; na época do "Prestige" censuramos o que diz a gente, o presidente do governo não vai à Galiza porque esse assunto está controlado... etc.. Falamos dos problemas do Pais Basco e de Catalunha... os problemas galegos não nos importamos se não é na seção de "Sucesos")
Notícia que se fez viral na Espanha: Um homem morre esmagado por uma rocha quando violava uma galinha em Ourense.
6- Insultar. É muito destrutivo e ataca a auto-estima do manipulado.
(Rosa Diez de UPyD, Arcadi Espada de C's, Aznar do Pepé e José Montilla do PSOE ou a TV5 são só alguns exemplos de políticos ou empresas que não tiveram pudor de insultar galegos desde um meio de informação público... e ainda nenhum pediu desculpas. Por outra parte, os dirigentes galegos do Pepé não as pediram)

7- Desprestigiar ao manipulado aos olhos dos demais. Os mártires são eles e tu um malvado que te dedicas a extorsionar. (Na Espanha existe o "problema" nacionalista; o nacionalismo galego é insolidário; Galiza nunca melhor esteve porque o Estado é muito solidário com ela; "los nacionalistas son unos radicales", "Nosotros los constitucionalistas buenos y ellos los nacionalistas malvados ....)
8- Fazer brincadeiras agressivas com ironia. O ataque nunca é direto porque te defenderias bem, mas há que recorrer ao ataque pelas costas. Ao final segundo eles "tudo é brincadeira" dito com um sorriso nos lábios. Se insistes em culpar ao agressor finalmente vai ser que não tens sentido do humor. (Lembramos a polémica sobre as piadas de galegos? Depois dos protestos pelo racismo dos conteúdos, os média desqualificaram aos que denunciaram esse facto dizendo que não tinham sentido do humor, que os galegos têm complexos, etc....)

9- Alimentar inimizades de terceiros para fazer-che perder energia em te defenderes de outros e não defender-te do agressor principal. (Lembramos também os conflitos com os asturianistas que veem o inimigo no Oeste e não no Sul; talvez nestes momentos se esteja tentando criar um problema com o mundo lusófono e no seu nome com Portugal pela tentativa de inclusão dos anti-reintegracionistas nas instituições lusófonas...

Conclusão: O projeto nacional imperante manipula no seu favor e em detrimento da Galiza.



quarta-feira, 11 de maio de 2016

Manias anti-galegas, falta de inteligência e pailanismo.



 Por José Manuel Barbosa

A Teima de alguns contra a Galiza e contra todo aquilo que reafirme a sua identidade chega a um ponto de deturpação importante da realidade, auto-repressão da inteligência e de escorço psicológico traduzido em mania irracional.

Isso é o que deduzo das manifestações deste senhor:

Ele fala de...
1- Non mesturar política e deporte....?

- Quem conheça o livro de José António Jauregui "Las Reglas del Juego" que eu li com muito poucos anos (talvez 18 ou 19) poderá ver que o desporto não é nem mais nem menos que uma forma "civilizada" de transcender a política e a territorialidade própria do animal carnívoro por adopção que somos desde os primeiros antepassados pré-históricos. Talvez o individuo este do Pepé queira negar-nos a nossa genética? Talvez queira reprimir a nossa necessidade de reivindicar a nossa condição humana? Talvez o homem não lê ou tem carências culturais importantes?


2- Desexar unha selección galega suprimindo a española... ?

- Qual é o problema? É pecado? É delito? Não se passaria nada... Há nações sem Estado que a têm (Escócia, Gales, Faeroe...) e isso não implicaria necessariamente deixar de ser espanhóis.
Não é esta manifestação a dum nacionalista convencido que manifesta o seu desejo de mijar nas pedras e marcar território?


3- Galiza está mal e é pecaminoso... Há que dizer "Galicia".

- Não foi o Pepé quem defende a atual norma RAG onde se diz que a forma Galiza é legítima? Qual o problema da opção? É um filho de Torquemada?

4- "Non cómpre ser tacaño nin ocultar as ideas"

- Da mesma forma que as oculta ele dizendo-se democrata e negando a opção da seleção galega? "Galiza" é anátema? Demonizando a opção de querer suprimir a seleção espanhola pela galega? Esse partido diz-se liberal-conservador? Nem é liberal (laissez faire, laissez passer) nem é conservador... porque não quer conservar a identidade da Galiza...

5- Exaltación nacionalista---?

- Exaltação nacionalista como a da "roja"? Que nem original é o nome esse de a "roja", pois já o Chile denominava assim à sua seleção nos anos 70

6- Todas as crónicas" xornalísticas, se convertera o último partido da Irmandiña, tamén en Riazor en 2008.

- Bom, eles ocupam os informativos de todas as TVs sobre as que têm poder em exaltar os seu valores de pureza e honestidade.

7- O objetivo "non de mellorar do deporte senón político"

- Alguém acredita que uma seleção nacional não melhora a qualidade duma equipa? Jogar com seleções de outros países talvez rebaixe a categoria duma equipa? Que aconteceria se qualquer seleção das grandes deixasse as competições internacionais? Seria melhor e mais competitiva?

8- aludiu a sentenzas do Tribunal Constitucional que limitan a oficialidade dos combinados deportivos non estatais e asegurou que "o límite" para exercer o dereito á competición "é o autonómico. Se se excede está o Estado", dixo, tras engadir que "a unidade é a mellor vantaxe competitiva que España pode representar".

- Qual é o medo? Porque aqui está-se a manifestar um medo.... que não é mesmo desportivo... Isto não é priorizar o político sobre o desportivo?

9- Tendo em conta que mesmo há pessoas dentro do Pepé que não sentem como negativo o facto de jogar a seleção galega, acho que este senhor manifesta complexos e medos que nada achegam a uma pessoa teoricamente comprometida com a administração pública.


10- Artigo relacionado: AQUI

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Relatório das V Jornadas das Letras Galego-Portuguesas de Pitoes


O autor do relatório ao lado do Poeta Agostinho Magalhães, autor da letra da canção "Vals Galaico" interpretada por Carmen Penim com música de Maurizzio Polsinelli (2naFronteira).

 Por José Manuel Barbosa

Os passados dias 2 e 3 de abril, decorreram na vila de Pitões das Júnias (Montalegre-Portugal) as V Jornadas das Letras Galego-Portuguesas com ampla participação de público apesar da adversa climatologia.
Uma representação das entidades organizadoras abriram o evento por volta das 10:00 horas da manha para dar passagem a dous painéis a celebrar durante o sábado no que participaram primeiramente, Marcial Tenreiro, com o tema de etno-arqueologia intitulado “A lança na água e a espada na pedra” no que se falou sobre o costume entre povos célticos e germânicos dos rituais com finalidade jurídica, militar, da posse da terra, de conquista e de entronização aplicados e registados em âmbito galego-português.
A seguir, decorreu a palestra de Marcos Celeiro intitulada “A simbologia da cruz céltica e a sua evolução”. Nela o conferencista deu a conhecer as origens religiosas e o significado da simbologia céltica assim como a apropriação, por parte do cristianismo dessa iconografia adaptada a épocas posteriores. Deu a conhecer aspectos interpretativos da arte céltica e a sua presença no espaço galego-português quer em restos pré-romanos, quer em iconografia medieval, cristã e mesmo atual.
Posteriormente a ambas exposições abriu-se um espaço de meia-hora para debate no que uma importante parte do público participou com interessantes perguntas sobre o tema.
O painel foi apresentado pela Professora Doutora Maria Dovigo moderando o debate e os tempos das intervenções, finalizadas as quais, tanto público como conferencistas participaram de uma comida no restaurante pitonense “A Casa do Preto”.
O segundo painel, da tarde do sábado foi igualmente apresentado por Maria Dovigo. Contou com a excepcional presença do Professor Doutor FrancescoBenozzo, da Universidade de Bologna foi candidato a Prémio Nobel de Literatura e integrante do grupo de investigação científica “Continuitas”  que juntamente com Mário Alinei elaboraram o novo paradigma da “Teoria da Continuidade Paleolítica” que a dia de hoje ocupa a investigação de várias universidades europeias de prestígio e que situa a etno-génese dos celtas no ocidente e norte da península ibérica. O Professor Benozzo achegou informação sobre a possível relação entre o topónimo “Galiza”, e o seu etnónimo com o vínculo às pedras e ao megalitismo fazendo relacionar este último ao espaço de ocupação dos celtas em épocas pré e proto-históricas, épocas às que devemos ir para visualizarmos o contexto da sua etno-génese.
Posteriormente, o debate, muito animado e especialmente enriquecedor ofereceu mais elementos interessantes sempre dentro do contexto de uma Galiza e um Portugal centrais dentro da celticidade atlântica embora as circunstâncias históricas tenham feito desse centro originário uma periferia que assinalou como vantagem para a abordagem do tema da identidade longe de ostentações etno-centricas.
Por volta das 18:30 e depois da atividade científica veio a parte artística da mão do duo 2naFronteira que interpretaram várias canções do seu repertório com a novidade do tema intitulado “Vals Galaico” com letra do poeta portuense Agostinho Magalhães com música de Maurizzio Polsinelli e interpretação de galega originária do Couto Misto CarmenPenim.
Chegada a noite celebrou-se mais uma ceia-convívio ao lado da lareira do restaurante “A Casa do Preto” . Depois da refeição, os Gaiteiros de Pitões e as leituras de contos populares da região, dentro da sala de conferências da Junta de Freguesia encerraram a sessão do sábado.
O domingo amanheceu com uma formosa nevada na montanha geresiana que a imediata saída do morno sol desfez. Com esse lindo contexto estético abriu-se a sessão da manha do segundo dia da mão da Presidente da Junta de Freguesia Lúcia Jorge e da académica e Vice-Secretária da AcademiaGalega da Língua Portuguesa Concha Rousia.
Abriu o dia a palestra do Professor Graciano Barros tocando o tema da “Ourivesaria e arte célticas no Século XXI no Noroeste Peninsular”. A exposição cheia de imagens de peças ornamentais de épocas diferentes, relacionou as técnicas de elaboração pré-romanas com as atuais, ligando temáticas, materiais e motivos artísticos do passado com o presente.
A seguir, o Professor Doutor em Direito Sr. José Domingues falou sobre “A raiz céltica dos Ordálios medievais” dando um ponto de vista desde o conhecimento da legalidade portuguesa e a sua evolução através do tempo. Igualmente a anteriores painéis, o debate ajudou a ampliar informação, a relacionar novos elementos não tratados anteriormente e ajudou ao surgimento de ideias no que diz respeita da investigação de ideias relacionadas com a investigação sobre o tema do ordenamento jurídico celta e a sua evolução e deriva nos direitos galego e português.
Uma vez acabadas as exposições, levou-se a cabo a elaboração de umas conclusões que acompanharão as atas que desejamos ver publicadas proximamente.
O ato de encerramento veio uma vez expostas publicamente as propostas de todos os participantes no evento e recolhidas pelas diretoras dos três paineis com o fim de serem incluídas nas atas uma vez publicadas. Acabado o ato, celebrou-se uma comida no restaurante “A Casa do Preto”.
Por motivos climatológicos a visita ao Eco-Museu, ao Mosteiro e à Cascata foram finalmente suspendidos. A neve e o frio não permitiram fazer a excursão programada, tornando perigoso o trânsito pelos arredores da vila quer a pé, quer de carro.
O resultado final, para nós, foi muito satisfatório, tanto do ponto de vista da qualidade das palestras, como apesar do clima de assistência do público. Aguardamos ao ano próximo para organizar uma nova edição das Jornadas das Letras Galego-Portuguesas, desta vez as VI, que já estão na nossa mente. As entidades organizadoras, aguardamos mais ajudas e menos obstáculos para fazer deste tema uma grande oportunidade tanto para galegos como para portugueses.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Acrescimo à proposta de supressão das Deputações provinciais.


Por José Manuel Barbosa 
A provincialização é uma velha ferida que a Galiza mantém viva desde o 30 de Novembro de 1833, dia em que o velho Reino da Galiza na altura com 1422 anos de História sobre as suas costas deixou de existir. O provincialismo, primeiro movimento galeguista do século XIX, tentou adaptar a legalidade vigente ao quadro político surgido da chegada ao trono da Rainha Isabel II de Bourbon (1), propondo o reconhecimento da Galiza como um território uni-provincial, longe da artificial e artificiosa divisão em quatro absurdas províncias a partir das quais o nome do País ficou banido da nomenclatura administrativa. 
Essas quatro províncias, durante estes últimos 183 anos serviram para manter uma classe dirigente anti-galega, localista, servil a Madrid, agressiva contra os interesses do País e subsumida na corrução, tolerada pelo alto poder político do Estado como pagamento aos serviços emprestados. É o historicamente denominado de "Caciquismo" que o galeguismo político leva criticado desde os inícios.
Nas notícias destes dias e perante a possibilidade e probabilidade de uma mudança política que incluiria uma modificação da legalidade constitucional e com ela uma posta em questão e talvez supressão das Deputações provinciais, organismos de governo das províncias espanholas, pensamos que recolher a velha reivindicação da província única galega como uma possibilidade assuntível pelo galeguismo institucional deste momento, com visos de poder levar-se a cabo se este galeguismo tomar consciência real da sua capacidade para atingir o objetivo. 
Certo que temos muitas dúvidas deste "galeguismo" que nos tem defraudado tanto e que demonstra dia após dia a sua debilidade, tanto ideológica quanto prática e estratégica... mas por propor que não fique.
O possível novo Governo espanhol teria como provável presidente ao Secretário Geral do Partido Socialista que nas negociações destes últimos meses tem pactuado com o grupo político de "Ciudadanos" com quem têm elaborado um documento programático comum com pontos a levar a cabo durante a legislatura no caso de se materializar o apoio do Congresso. O partido político de "Podemos" dentro do qual esta o grupo galego de nome em castelhano "En Marea" (2) é o (sub)grupo galego dentro do parlamento que diz defender interesses galegos, por isso parece-nos oportuno fornecermos informação e propostas que poderiam ir adiante se houver vontade, consciência e o suficiente poder como para influir no do seu grupo parlamentar.
É assim:
Isto foi o que achamos no texto do pacto entre PSOE e C's:
"Supresión de las Diputaciones Provinciales de régimen común y creación de Consejos Provinciales de Alcaldes para la atención al funcionamiento y la prestación de servicios de los municipios de menos de 20.000 habitantes de la provincia respectiva.


O galeguismo que tem representação parlamentar com qualquer capacidade de decisão, quer pela banda do BNG, quer pela banda de "En Marea" ainda poderiam fazer valer a ideia do velho galeguismo de conformar Galiza, enquanto estiver dentro da Espanha, como uma província única. Se isso fosse assim, as deputações provinciais tal como se conhecem hoje ficariam na História e dariam cabo a uma etapa obscura da organização territorial do nosso País. As competências desses "Consejos Proviciales de Alcaldes" saídos deste reforma, finalmente seriam para o Governo Galego da Junta da Galiza. Posteriormente a própria Junta poderia implementar uma divisão territorial interior fazendo cumprir o artigo 40.1 (reconhecimento da Comarca como entidade local com Entidade Jurídica própria) e 40.3 (reconhecimento da Freguesia ou Paróquia Rural com entidade jurídica própria) derrogando a legalidade atual que as proíbe contradizendo o Estatuto da Galiza.
Valorizem se é que merece a pena tomá-lo em conta agora que há vontade de modificar a legalidade vigente por parte dos partidos que vão conformar o novo governo espanhol. Chamo com isso aos responsáveis para que valorizem uma mudança pelo estilo, de importância vital para o País, para evitar o despovoamento da Galiza e para revitalizar o corpo demográfico, geográfico e mesmo económico dum País em perpétua falência desde já há tempo demais.... Ou será que as medidas de (re)construção nacional vão ficar adiadas até que sejamos uma curiosidade historiográfica do futuro?
 * * *
1-  Isabel de Bourbon foi na realidade, a  primeira rainha Isabel da Espanha, Isabel I, portanto, pois Isabel de Trastâmara, conhecida como a Rainha Católica a incorretamente reconhecida como Isabel I da Espanha não era da Espanha, mas de Castela, de Leão, de Granada, de Toledo, de Galiza, de Sevilha,  de Córdova, de Múrcia, de Jaém, dos Algarves, de Algezira, de Gibraltar, das Ilhas de Canárias, Senhora de Biscaia, de Molina. Aliás era Rainha consorte de Aragão, de Sicília, de Valência, de Malhorcas, de Sardenha, de Córsega, Condessa de Barcelona, Duquesa de Atenas e de Neopátria, Condessa do Rossilhão é de Cerdanha, Marquesa de Oristà e de Gociano...é e portanto não podia ser Isabel I da Espanha) 
2-  O nome de "En Marea" está em castelhano mas não temos muito mais a dizer do "Bloque" que também tem o seu nome em castelhano. Na nossa língua seria "Bloco"... U-lo galeguismo linguístico? Já sabemos: não é prioritário nem importante. "Como em Irlanda, como em irlanda...."

quinta-feira, 17 de março de 2016

Programa das V Jornadas das Letras Galego-Portuguesas de Pitões





Dia 2 de Abril sábado: (Hora portuguesa)
    1º Painel: Modera: Maria Dovigo

  • 10:00: Apresentação em Pitões das V Jornadas das Letras galego-portuguesas.
  • 10:30: 1º Palestra: Marcial Tenreiro: A lança na água e a espada na pedra. Rito e Território entre germanos e celtas
  • 11:15: 2ª Palestra: Marcos Celeiro: A Simbologia da cruz céltica e a sua evolução.
  • 12:00: Debate
  • 14:00: Comida
     2º Painel: Modera: Maria Dovigo
     
  • 16:30: 3ª Palestra: Francesco Benozzo (Trad. Joam Paredes): Uma paisagem Atlântica pré-histórica. Etno-génese e etno-filologia paleio-mesolítica das tradições galego-portuguesas.
  • 17:15: Debate
  • 18:30: Actuação de 2naFronteira e convidados.
  • 20:00: Ceia-Churrascada popular.
  • 22:00: Programa Erasmus: “Adventure of Reading”, Folião e Gaiteiros de Pitões
Dia 3 de Abril Domingo (Hora portuguesa)
    3º Painel: Modera: Lúcia Jorge (Presidente da Junta de Freguesia)

  • 10:00: 4ª Palestra: Graciano Barros: Ourivesaria e arte céltica no S. XXI no NW peninsular.
  • 10:45: 5ª Palestra: José Domingues. A raiz celta dos Ordálios medievais.
  • 11:15: Debate
  • 12:00: Conclusões (Maria Dovigo e Lúcia Jorge)
  • 13:30: Encerramento das Jornadas
  • 14:00: Comida
  • 16:00 Visita ao Eco-Museu
  • 16:45 Visita ao Mosteiro de Pitões.
  • 17:30 Visita à Cascata

domingo, 13 de março de 2016

Entrevista a Francesco Benozzo que vai estar connosco nas V Jornadas.





[Versão galego-português – English version below]
Entrevista com o Prof. Francesco Benozzo:
A Galiza e o Norte de Portugal são a origem da celticidade europeia”
O Professor Francesco Benozzo (Módena, Itália, 1969) é um dos grandes nomes por trás do Paradigma de Continuidade Paleolítica, afirmando que existe uma continuidade clara nas origens e desenvolvimento dos povos europeus, origens que podem ser colocadas ainda mais atrás no tempo do que normalmente é considerado. Esta mudança no compreensão da arqueologia, pré-história e linguística europeia é de enorme relevância para a Galiza e (Norte de) Portugal, pois situa este território no centro da génese da chamada Cultura Celta, entre outros aspectos.
Com dois doutoramentos em linguística e filologia pelas universidades da Bolonha (Itália) e Aberystwyth (País de Gales), na actualidade lecciona na nomeada universidade italiana. Contudo, Francesco Benozzo não está limitado pelo formalismo que normalmente acompanha a vida académica. Ele também é um reconhecido poeta e harpista, com um grande número de obra e música editada, o que fez com que o seu nome fora proposto como Prémio Nobel de Literatura.
Teremos a fortuna de recebê-lo este próximo Abril (dias 2 e 3) na quinta edição das Jornadas das Letras Galego-Portuguesas (Pitões das Júnias, Montalegre, na “raia” galego-portuguesa), onde debaterá sobre estes e outros temas, como vai indicado na entrevista a seguir.
- Qual foi a primeira coisa que chamou a sua atenção sobre a Galiza e Norte de Portugal? Foi algo puramente académico ou houve algum outro factor motivando que se centrara em nós?
Desde que era criança o meu instinto sugeria que o significado original das coisas reside nas áreas e localizações periféricas. Com isto não quero dizer “periférico” simplesmente num sentido geográfico mas, principalmente, num sentido poético. Esta é uma das razões pelas quais fui viver ao País de Gales (e não Inglaterra) durante uns anos, e também a razão pela qual deixei a minha cidade natal de Módena, no norte da Itália, e decidi viver nas montanhas. Também acredito que, como académicos, devemos estudar e concentrarmos-nos em tradições “periféricas”: tradições populares, dialectos, textos orais, culturas das pessoas marginais e assim por diante, porque o que agora é percebido como “marginal” e “periférico” foi , em muitos casos, o centro original do que na actualidade percebemos como centro.
A Galiza e o Norte de Portugal sempre foram parte desta minha “topografia poética” e da minha concepção poética, começando pelas suas lendas e tradições e grandes poetas como os trovadores medievais, até mesmo Rosalia de Castro ou Eduardo Pondal.
- Considera que o noroeste ibérico pode ser considerado a origem da “celticidade” na Península desde um ponte de vista linguístico?
Não só. Penso que pode ser considerado a origem da celticidade em toda a Europa.
- Qual é a sua opinião sobre a relação entre o mundo céltico e Tartesso, como postula o Prof. Koch?
John [Koch] tem produzido um trabalho extraordinário sobre isso na última década. Não vejo quaisquer razões linguísticas que puderam negar essa conexão postulada. O problema com a teoria de Koch é que auto-limita-se à Idade do Bronze Tardio, o qual contradiz a sua ideia de “Celtas do Oeste”. Em vez disso, se falarmos de etnogénese, devemos ir além das restrições das fontes escritas e termos a habilidade para conectarmos-las com outro tipo de fontes como assim as lendas, tradições, genética, etno-textos ou léxico dialectal. Em consequência, poderemos falar de “Celtas Paleolíticos” nesta área. Dentro deste quadro, Tartesso pode ser visto como uma das muitas relíquias escritas “recentes” de um fenómeno muito mais antigo.
- Por que acha que há este esforço renovado em algumas partes da Europa para desacreditar o termo "celta", ou mesmo até a existência de uma cultura celta?
Por três razões principais. Em primeiro lugar, sendo eu mesmo um anarquista, diria que há uma tendência inata por parte dos que estão no poder de excluírem a diversidade e, acima de tudo, “centralizarem” qualquer tipo de estratégia ligada ao seu poder. Assim, como sabemos, desde a sua proto-história os celtas sempre foram os “perdedores” em termos geopolíticos e foram excluídos logo de qualquer jogo de poder das elites europeias.
Em segundo lugar, podemos encontrar um desconforto geral com a celticidade se a compararmos às culturas oficiais padronizadas que, de certa forma, governam o mundo. Noutras palavras, admitir que a inquietante, multiforme, colorida, rural, estratificada e arcaica cultura celta possa ser parte de nós é, em muitos casos, difícil de aceitar para as pessoas criadas com a certeza e o mito conformista da estabilidade e um conhecimento superficial da história europeia.
Por último, e em relação às razões mencionadas acima, a cultura celta representa, em termos psicanalíticos, o subconsciente da Europa, o que provoca uma contínua tentativa para reprimi-lo e suprimi-lo.
- Como reconhecido investigador, mas também como poeta e músico, há algum tipo de conexão entre o seu trabalho académico e o seu trabalho artístico? Ou tenta manter ambos mundos separados?
Espero que estes três aspectos convivam, como acontece com diferentes elementos duma mesma paisagem. A minha expectativa é provavelmente parecer como um músico que estuda filologia, um poeta que toca harpa e um filólogo que compõe poemas.
- Depois de todas as suas viagens e investigações, como resumiria o “carácter céltico”? Por exemplo, quando visita a Galiza-Norte de Portugual, que sente em conexão com outros territórios célticos?
Primeiro de tudo, há um sentimento especial com o mar, que é diferente do que tenho observado noutras comunidades, tais como as das Ilhas Féroe ou do Mediterrâneo. Nas terras celtas este sentimento está ligado a uma atitude "lendária" e melancólica na percepção da paisagem marinha, e na capacidade de conectar lugares com histórias.
Há também uma clara, inata, não previsível, percepção musical do mundo. Além disso, existe a consciência do valor arcaico e civilizador de coisas que foram esquecidas noutros lugares, como partilhar umas bebidas, alimentos e histórias.
Nas V Jornadas das Letras Galego-Portuguesas, o Prof. Benozzo participará com a palestra intitulada “Uma paisagem atlântica pré-histórica. Etnogénese e etno-filologia paleo-mesolítica das tradições galegas e portuguesas”.
O evento é aberto e de assistência livre e gratuita, e a intervenção do Prof. Benozzo será em inglês com tradução ao português.

quarta-feira, 2 de março de 2016

V Jornadas Galego-Portuguesas em Pitões das Júnias.


Pela Equipa do DTS:
Foto: Paulo Ferreira
Cartaz: Noa Rios e José Goris.

Mais um ano, aqui estamos para celebrarmos uma nova edição das Jornadas  Galego-Portuguesas de Pitões das Júnias. Cada ano vamos consolidando o nosso trabalho e a qualidade das nossas Jornadas ainda com tremendos obstáculos gerados por múltiplas circunstâncias. 

O programa será publico em poucos dias, assim como a lista de apoiantes.
Neste cartaz só fazemos referência à celebração do já tradicional evento nas datas acima indicadas, adiantadas este ano por razões alheias a nós e para ir preparando o público para a festa e a cultura.

Haverá palestras, música, festa da maneira em como enxergamos galegos e portugueses e aguardamos dar com o ponto de união de ambos povos vizinhos.
Ide preparando esse fim de semana para nos vermos, para desfrutarmos e para nos sentirmos mais próximos os uns aos outros.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Entrevista ao Professor Higino Martins



Equipa do DTS: José Goris e José Manuel Barbosa

O Professor Higino Martins Esteves esteve connosco entre o 5 e o 21 de outubro de 2015 apresentando o seu livro "Etimologias escuras ou esconsas".


Tivemos a oportunidade de partilhar com ele estes dias de atendimento à sua pessoa e aproveitamos para fazermos-lhe uma entrevista para o DTS.
A entrevista foi feita, como sempre, com a colaboração técnica do nosso amigo e colaborador José Goris. Eis o nosso trabalho:




Outras obras do professor Martins:











sábado, 6 de fevereiro de 2016

3ª GUERRA MUNDIAL OU ACORDO GLOBAL?




Por Artur Alonso Novelhe:

Como bem vínhamos observando, em contradição com aqueles que agoiram sempre a pronta queda do Império Ocidental, Ocidente que segue a controlar os três tabuleiros principais, onde se joga a partida pela supremacia (a saber: Militar, Econômico e Social – Cultural), comanda e toma a iniciativa, em todos os campos de jogo. Depois de um pequeno período em que parecia a China poder desafiar o gigante Norte-Americano, dentro do tabuleiro económico, de novo o comando imperial anglo-saxão, volta reconduzir a situação em seu favor...

A Rússia, que muitos acreditam possa desafiar o poder militar do Ocidente, está claramente à defensiva em este jogo, a pesar de seus esforços bem encaminhados tanto na Crimeia, como na Ucrânia ou na Síria (exercícios combinados de bom fazer militar, diplomático e político)... Vimos advertido duma prolongada guerra encoberta entre Emergentes (com direta implicação do binómio Rússia – China) e Ocidente, que a cada dia se torna mais visível. Realmente o confronto direto é sem duvida com China – única potencia capaz de desafiar economicamente Ocidente. Mas a Rússia, ao ser a única potencia com capacidade real de defrontar Ocidente – alem de sua situação geo-estratégica e seu gigantesco tamanho, bem como suas riquezas energéticas – deve ser dominada; pois controlando Rússia, não é possível grande mobilidade ao expansionismo chinês... A tentativa de deteriorar a economia russa através da combinação de sanções exteriores e declínio dos preços do petróleo; obrigando, paulatinamente, a um aumento do défice orçamental e do défice da balança de pagamentos... 

Não tem funcionado de tudo, mas tem minorado consideravelmente as capacidades da economia russa e sua angariação de fundos de reserva. As sanções exteriores, pela contra não tem sido muito haveis a hora de aumentar a pressão sobre a sua económica, na tentativa de obrigar a seu governo a privatizar em favor de investidores internacionais. Na Rússia atual, desenvolve-se um poder bicéfalo, onde neoliberais mais achegados ao Primeiro Ministro Medvedev e os nacionalistas mais estatistas mais achegados ao Presidente Putin, convivem em relativa harmonia. A contração da economia não tem ajudado a criar um clima favorável a privatizações, dado a baixa cotação agora dos ativos russos. O qual impede um plano que seria de interesse do ocidente, de transformar a economia russa numa economia rendista, que num prazo mais alargado – vencera as leis aprovadas por Putin, que impedem o acesso maciço do capital estrangeiro a Federação – permitindo na pratica o domínio exterior, por meio da retirada continua de lucros em benefícios de proprietários estrangeiros (com a desculpa duma maior industrialização)... Algo que de momento o governo russo tem evitado. Mas uma tentativa de privatização, embora seja com intuito de voltar os capitais dos oligarcas russos no estrangeiro, poderia abrir essa porta, se o poder russo não manter um vigoroso tecido publico industrial, em contrapeso do privatizado... 

E este jogo ainda está andamento, variante que faz possíveis acordos mais globais entre a Rússia e os EUA– que mesmo possam concluir no reverter das sanções a Moscovo. A sua vez Ocidente tem melhorado suas posições por todo o planeta, com a criação na Ásia, de acordos de Livre Comercio que tem debilitado a posição anterior dominante da China, regredindo para uma posição de participante ativo e sócio muito importante. A criação dum banco de investimento Emergente, e alça da Bolsa de Valores de Xangai – obrigava a um movimento rápido do Ocidente, na corrida pelo poder económico global. Na América do Sul, a tentativa brasileira de criação dum marco geográfico de interação e poder, que possibilitasse uma independência econômica do Continente – por meio de reforçar Mercosul e fundamentar Unasul – tem sido bem contrapesada, com a criação da Aliança do Pacifico, e a queda da presidência da Argentina, com laços muitos fores com Brasília; assim como a grave crise gerada na Venezuela. Brasil tem reagido com habilidade, tacto e sutilidade; mas as pressões dentro da sua própria casa – onde o sector neoliberal, aliado do Ocidente, está a aumentar seu poder, impedem grandes contra-ataques. 

Uma futura Privatização do Banco Central do Brasil – com a subida ao poder de partidos de corte neoliberal, converteria sua economia numa plataforma rendista, onde o poder inversor estrangeiro se faria com o controlo total de seu património, ao privatizar o poder creditício real, comutando para bancos privados (dependentes do poder financeiro ocidental) o planeamento económico, que deveria permanecer na posse do governo, se quisermos seguir avançando na agenda de emancipação continental. África anda está para desenvolver em próxima agenda – ainda que as tensões provocadas no Centro do Continente – os desequilíbrios imensos no Norte (nomeadamente no Magrebe) e a baixa do petróleo, comodities, controlo do monopólio dos diamantes pelas companhias internacionais (a pesar da concorrência chinesa, que tem aberto alternativas novas), não permite ainda criar nem sequer uma ilusão de independência económica, mesmo nem no Sul continental. Lastres como a corrupção, em países dum poder geo-estratégico tão imenso como Sul África, complicam mais a situação, em favor duma agenda de unidade regional (já de por si muito complexa, pela difícil relação da Angola com Pretoria). 

No Oriente Meio surgem as maiores incógnitas. Eis aqui onde o poder Ocidental, tem de evitar ambições de outras potencias regionais, como Rússia e China ou a Índia, dado serem esta região a ponte de transição dos três mercados mais rentáveis no nível global: energia, armas, drogas. Drogas e armas que normalmente vão associadas ao trafico de seres humanos. Segundo um relatório da Oficina de Crime e Droga, da ONU de 2012 – as máfias ilegais (que derivam dos três mercados) movem perto do 1,5% do PIB mundial, afirmando que o 70% destes ingressos são lavados através do sistema financeiro global. Para consolidar o controlo desta região, o poder Norte Americano, tem trabalhado em vários relatórios sobre a necessidade de criação dum novo Oriente alargado – com supremacia relativa sunita, dos aliados do Ocidente. Mas sua implementação tem chocado com os interesses regionais de potencias menores como Turquia, Arábia Saudita, e potencias maiores como a Rússia, que tem intervido militarmente em defesa de seu aliado Bachar Al Assad, com um relativo sucesso. Devido a esta situação tão poliédrica, os Estados Unidos, tem chegado a um acomodo razoável, sobre a situação Síria, dentro dum acordo global mais amplo que inclui ao Irão e Israel. Mas que não deve ter convencido muito aos sauditas e turcos... O Ministro de Assuntos Exteriores da Arábia Saudita, Al-Jubeir, bem de ameaçar a Bashar Al-Assad com uma intervenção militar direta na Síria, em caso este não abandone voluntariamente o poder (que se levaria a cabo desde território turco, onde já estão a ser concentradas tropas)... Turquia pela sua parte, bombardeia posições do exercito sírio, mas sobre tudo enfrenta diretamente às YPG curdas, pois a pesar da aliança curdo – norte-americana, os turcos não se fiam por causa dos estreitos laços entre YPG sírio e o PKK, turco... 

A madeixa enreda-se cada vez mais... E tudo faz pensar que a tentativa de Serguei Lavrov e John Kerry (responsáveis de exteriores dos Estados Unidos e Rússia), de uma cessação de hostilidades, na Síria, pode ficar em águas de bacalhau... Arábia Saudita, que está a ver como na pratica seus aliados rebeldes estão sendo banidos do mapa pelo exercito sírio, graças ao poder da aviação russa, está a ficar muito nervoso, pela possibilidade de ficar fora do grande tabuleiro de xadrez, em que se converteu o Oriente Meio... No entanto o primeiro ministro russo em entrevista ao jornal alemão  “Handelsblatt”, advertiu: “Os norte-americanos e nossos parceiros (referindo-se ironicamente aos árabes) devem pensar bem: querem mesmo guerra permanente?” O problema duma guerra permanente, com implicação direta de protagonistas que antes estavam por trás do cenário – cada um ajudando a seu aliado – é, que nunca se sabe quando o confronto indireto, pode derivar em um confronto direto das potencias implicadas. Sabendo que Turquia pertence a NATO, não da muita confiança que uma frição de exércitos turcos, árabes e russo possa derivar em algo que ninguém, sendo sensato, desejar... Mas o ser humano tem demonstrado – por ativa e passiva – que em situação de medo, custa-lhe muito manter-se saudável mentalmente...
Pelo lado positivo, de momento Washington não se deixa pressionar pela Turquia, para que escolha entre os turcos e os curdos; a pesares de Erdogan ter conseguido excluir as YPG das negociações de Genebra. A nomeação de Brett McGurk, como encarregue de lutar contra o Daesh (Califado Islâmico) pelo presidente Obama é uma boa noticia. O apaziguamento com o Irão, trás a queda de Ahmadinejad e a subida ao poder dum grupo menos anti-ocidental, tem facilitado uma reviravolta na Administração Obama, que agora mesmo tenta deitar fora da agenda o confronto regional xiita – sunita. Mesmo no Iraque, a colaboração dos EUA e os iranianos, fez-se cada vez mais evidente... Esse acomodo também poderia possibilitar uma paz entre as diversas facões curdas, que mesmo ameaçava com a cisão em dous da YPG Síria. Pelo lado negativo, isso alimenta o medo saudita, a ficar marginalizado. Um acordo mais amplo, que incluía Irão, Turquia e Arábia Saudita, baixo supervisão de EUA e Rússia, tem de ser alcançado, para evitar o confronto... Mas ele será possível?
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