segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DA LÍNGUA: Etapa de formação



Por José Manuel Barbosa

A Gallaecia, já romana, entra a fazer parte do mundo imperial e adota pouco a pouco o latim como língua culta embora continuasse com a sua língua autóctone até bem entrada a Idade Média, segundo nos manifestam André Pena e Higino Martins. É essa língua galaico-lusitana o substrato do futuro galego-português e é o latim a base dessa  nova língua neolatina galega, portuguesa ou galego-portuguesa (1)
Segundo Eugênio Coseriu (1989: 793-800) a península ibérica recebe a entrada do latim desde dois diferentes pontos: um desde a costa Tarraconense alimentando os Conventus mediterrânicos; e a outra que penetra desde a Bética subindo pela Lusitânia e chegando á Gallaecia onde de Oeste para Leste vai ocupando pouco a pouco as terras bracarenses, lucenses e posteriormente asturicenses. O primeiro é chamado Latim Citerior. Ulterior o segundo. Mas os acontecimentos posteriores à queda do Império Romano fazem com que a chegada dos povos germânicos à península e nomeadamente os suevos à Galiza tornem o latim numa língua franca entre galaicos-romanos provavelmente bilingues (ou talvez diglóssicos), em latim e galaico-lusitano, e suevos de fala germânica trazida do centro da Europa. Ambos os povos distantes linguisticamente entre si procurassem no latim o seu ponto de encontro. 
 Este latim hispânico ulterior acabaria vendo-se determinado por vários fatores:
1- A chegada do cristianismo, que levaria a cabo o seu projeto ideologizador em latim.
2- A criação do reino suevo fazendo que a língua de Roma se assentasse e consolidasse como língua franca entre galaicos de fala celta e suevos de fala germânica. Esta circunstância vai dar-lhe caráter diferencial dentro dos limites dessa Gallaecia tardo-romana e proto-medieval. 
Com isto, a língua dos suevos, mais débil dum ponto de vista demográfico, cultural e do prestígio social vai ver-se afetada e deslocada do seu contorno natural, próprio do povo germânico que até agora o usava, por este latim galaico durante este processo de substituição, mas também deixando uma importante pegada no novo romanço.
Posteriormente à unificação política do Reino de Visigodo e do Reino da Galiza da mão de Leovigildo e sob hegemonia toledana, pouco ou nada se vai ver na direção duma grande unidade linguistica peninsular, que no seu canto Noroeste, protegido pela incomunicação orográfica, pela unidade política entre as duas etnias aliadas –sueva e galaica- e a fácil adaptação entre ambas, começa a delinear uma criação linguística nova, fruto da dialetalização da língua trazida pelos romanos.
Ao mesmo tempo, com a chegada dos muçulmanos à península, acrescentar-se-ia este facto, delimitando-se um território político com o nome de Gallaeciense Regnum segundo nos dizem as fontes historiográficas andalusis, carolíngias, papais, escandinavas, anglo-saxónicas e grande parte das peninsulares segundo nos informa o professor Lopez Carreira (2005:111-141).
 Em troca, esse Reino galaico vai ser denominado de  Reino de Astúrias ou Reino de Leão nos textos da historiografia tradicional castelhanista embora achemos  em aqueles textos de maior fiabilidade e não retocados pelos cronistas castelhanos de séculos posteriores, um Gallaeciense Regnum, Al-Khalikija ou Christianorum Regnum. A sua primeira corte é em Cangas de Onis, na região das Primórias, posteriormente em Právia, depois Oviedo e mais tarde nas cidades de Leão ou Compostela. Duas capitais: uma política e outra religiosa, seguindo modelos do Sacro Império que tinha a Roma e Aquisgrão.
Foi com a chegada dos muçulmanos à península (710 d.C.) quando aparecem as inovações específicas e mais características da nossa língua, resultado do isolamento dos falares da Galiza medieval e da peculiaridade do Reino criado pelos Suevos trezentos anos atrás. Surge assim nos séculos VIII e IX a língua do Reino da Galiza que se vai manter por oposição à Espanha muçulmana, denominada esta última pelos documentos da época de Spanija, ou Al-Andalus.
Éste latim norte-ocidental começa a se diferenciar dos outros latins da península e da Romania. Já não é tanto ulterior, quanto especificamente galaico e vai acabar impondo-se sobre a sua antecessora e céltica língua galaico-lusitana da mesma forma sobre a fala dos imigrantes germânicos centro-europeus gerando por volta do século X um Proto-romanço galaico, Galaico ou Galeco como lhe chama Carvalho Calero (1983:15-27).
Segundo nos contam estes nossos autores podemos deduzir que houve um momento de bilinguísmo substitutivo entre o romanço proto-galaico e a língua céltica galaico-lusitana que acabou com o retrocesso e desaparição da tradicional língua céltica galega, lusitana e provavelmente também cantábrica a partir do ano 1000 aproximadamente, como nos diz Higino Martins (2008: 151).
         Esta forma de romanço primitivo vai ser a base tanto do galaico-português como do asturo-leonês, assim como ulteriormente do castelhano, como forma de asturo-leonês mas oriental. Coseriu chama-lhe a essa língua Galaico-Asturiana, (1987: 793-805) e Rodrigues Lapa simplesmente nomeia-a de Romanço Galaico (1981:54). Nós concordamos com Carvalho Calero e Rodrigues Lapa no nome de Protogalaico ou Galaico por serem nomes mais amplos e abrangentes de toda a Gallaecia histórica.
        É o professor Ricardo Carvalho Calero quem nos comenta o facto de ser esse Galaico o proto-romanço do qual surgem inicialmente tanto o galaico ocidental ou galego-português quanto o galaico oriental ou asturo-leonês indiferenciados entre si num começo e que ele identifica por volta dos séculos IX e X. (1983: 18)
          Do Galaico Oriental, ou asturo-leonês neste caso, surge na sua parte mais oriental o que posteriormente seria o castelhano sob substrato vasconço e importante influência navarro-aragonesa. O próprio professor espanhol Rafael Lapesa (1991: 162) reconhece que as Glosas Silenses e Emilianenses do Mosteiro Riojano de San Millán de La Cogolla não estám num primitivo castelhano como se nos ensina habitualmente, mas num originário navarro-aragonês, o qual não é em absoluto estranho se temos em conta que a Rioja é uma região originariamente vasconça e navarra.
Segundo Lopez Carreira (2005:105) o vínculo parental e originário entre o Galaico e o castelhano pode ficar intuída num comentário que faz o bispo e historiador castelhano do século XVII Frei Prudencio de Sandoval, quem nos fala duma História da Espanha redigida no século XIII e provavelmente traduzida para o galego-português no XIV. Diz-nos acreditando na sua antiguidade que a original está numa “lengua castellana tan cerrada que parece portuguesa”.
O protagonismo dessa primeira parte da Idade Média corresponde ao Gallaeciense Regnum até o momento em que Castela colhe força política e militar. A língua desse território começa a desenvolver-se com a força que lhe dá um poder político forte e soberano e um prestígio na Europa que reconhece a Galiza segundo John Mundy (1991:40) como um dos três impérios do momento: O Império Bizantino, o Sacro Império Romano Germânico e o Gallaeciense Regnum.

“in 1159 the northern annals of Cambrai spoke of three empires: the Byzantine, the German and of the Galicia (St. James of Compostela)”

Os limites do romanço dos galegos nessa altura histórica seriam os limites desse Gallaeciense Regnum -que tanto negam os historiadores pró-castelhanistas- até o ponto de Roger Wright dizer (1991:21-22):

“antes do milénio e quiçá antes do século XIII desterremos também os conceitos distópicos pouco úteis e anacrónicos tais como galego, leonês, castelhano(...); todos esses conceitos modernos estorvam à vista clara. A península (aparte dos que falavam basco, árabe, hebreu, etc) formava uma grande comunidade de fala, complexa mas monolíngue”.

Do nosso ponto de vista talvez não monolíngues em tudo o âmbito peninsular  mas sim monolíngues no que diz respeito ao território do Gallaeciense Regnum por ser esse galaico provavelmente diferente do latim citerior que teria originado as falas catalano-aragonesas. Intuimos com isto que o complexo catalano-ocitânico pudesse conformar outro núcleo linguístico diferente ao do Reino Galaico ligado mais à Gália franca do que ao Noroeste hespérico. No meio, o basco marcaria uns interessantes limites pouco reconhecíveis para um leitor do século XX ou XXI.

Essa situação linguística da velha Galiza medieval -que o professor Carvalho Calero diz “Viveiro de Romanços”-, vai perdurar enquanto dura a hegemonia galaica com um intuito de construção de uma unidade peninsular sob projeto nacional galaico. Isto é até aproximadamente a assunção ao poder do navarro-castelhano Fernando I, no século XI e talvez até o século XII onde o começo dos conflitos políticos pelas estremas castelhanas vão favorecer as ruturas linguísticas. De não se produzirem estas ruturas políticas, a unidade linguística galaica e a sua hegemonia no contexto peninsular seria perdurável. Na altura essa língua é nomeada já de “galego”, bem por ser a Gallaecia o seu berço originário, bem por entenderem os coevos que era a língua desse reino denominado por todos na altura de “gallaeciense”.
Finalmente com as ruturas de Castela no oriente e de Portugal pelo Sul, ficam alterados e deslocados os equilíbrios polítivos e as hegemonias vão ver-se modificadas. Justo no momento de maior florescimento da Galiza acontece a sua desintegração territorial, desequilibrando as forças peninsulares em detrimento do poder galaico e em favor do castelhano-toledano.
Entre os séculos IX ao XII vai dar-se uma etapa na história da língua na que o seu uso vai ser fundamentalmente oral enquanto as formas escritas pelos letrados daquela época vão ser um jeito de latim medieval cheio de giros que havemos de reconhecer como próprios do atual galego-português.


Esta situação de oralidade e tendo em conta a importância do Gallaeciense Regnum e da sua língua em época alto-medieval, causa-nos sensação de estranheza. Surpreende-nos que não sejam conhecidos documentos anteriores ao século XII.


No caso de outras línguas romances como o francês ou langue d’oil existem documentos do século IX como são os Juramentosde Estrasburgo (842) ou a Sequência de Santa Eulália (881) que consolidam esta língua bem diferenciada do Latim. Mesmo nos romanços italianos achamos os primeiros documentos em 960. Porque, portanto, o galego-português só tem textos desde finais do século XII? Quiçá dentro da luta pela hegemonia peninsular entre galegos e castelhanos se chegasse ao ponto de ter-se produzido destruições de documentos antigos por razões políticas e interesses espúrios da mesma forma que temos constância de manipulações e de outras desfeitas conhecidas como é o caso do Bispo Pelayo de Ovedo, Ximenez de Rada, Lucas de Tui, e outros?
Partindo desta oralidade, pouco a pouco o já galego vai ser empregue como língua normal em todas aquelas funções que uma língua tem num país normalizado e soberano, sem distingos sociais. Todas as funções, exceto a internacional, que é reservada para o latim.
            Esta situação funcional é também normal na Europa nesta altura histórica da que estamos a falar. Na Galiza parece apresentar uma situação de diglossia galego/latim que não oferece obstáculos nem anormalidades dentro dum contexto inserido no Orbe cristão europeu que se exprime basicamente em Latim como língua franca continental. É portanto o galego a língua de todos os galegos, mesmo dos reis da Galiza, forem estes coroados em Compostela, Oviedo ou Leão. Os reis -comenta-nos André Pena- falavam galego e mesmo os filhos dos reis eram criados por tutores da aristocracia galega, os quais marcavam o caráter dos futuros monarcas, marcavam a política e mesmo as relações diplomaticas da época (A. Pena, A:1995).
Guardamos provas documentais indiretas da língua dos Reis, como a recolhida por Frei Prudencio de Sandoval, historiador originário de Valhadolid do século XVI-XVII que reproduz os soluços de Afonso VI perante a morte em 1108, na batalha de Uclês do seu filho Sancho, herdeiro do trono. A língua na que chora o Rei não é precisamente o castelhano.
Segundo nos conta Sebastián Rico (1970: 219) na crónica do Frei Prudêncio de Sandoval o Rei diz:

 “...y en la lengua que se usaba dijo con dolor y lágrimas que quebraban el corazón: Ay meu filho! Ay meu filho! Alegria do meu coração et lume dos meus olhos, solaz da minha velheçe! Ay espelho em que me soya veer, et com que tomava muy grand prazer! Ay meu herdeyro mor! Cavaleyros, hu me lo leixastes? Dade-me meu filho Condes!”

Outros autores confirmam isso mesmo como por exemplo António José Saraiva (1995:15), ou mesmo Afonso o Sábio na sua Primeira Crónica Geral de Espanha, Benito Cano em 179 etc...
Mas foi na época de Afonso VII Reimundes o Imperador, que se nos faz passar por castelhano nos estudos oficiais de todas as universidades da península (2) quando o condado portucalense consegue a sua  independência fazendo da nossa língua comum a sua língua nacional. Língua que desde esse momento vai começar a ser enxergada como língua portuguesa.
Também não nos admira que reis posteriores como Afonso o Sábio (Afonso X segundo o cômputo castelhano, mas IX segundo o cômputo galego) ou Fernando III empregassem o galego-português como língua veicular. Era a língua natural desses Reis mas foram curiosamente estes dous últimos os que mudaram o sentido do projeto unificador peninsular. Dum projeto galaico passou-se a um projeto castelhano. É por isso porque a península ibérica de hoje está ocupada majoritariamente pela língua castelhana.

Textos
 
Documento não orginal mais antigo galaico-latino (doação á igreja de Sozelo). Ano 870.

            Christus. In nomine domini nostri Jhesu christi. In honore sanctorum Apostolorum Martirum confessorum Atque uriginum et omnium chorum angelorum salutem Aeternam amen. Ego cartemiro et uxor mea Astrilli abuimus filios et filias nominibus fofinu et gaton et arguiro et uistremiro quinilli et aragunti.et peruenerunt illos filios barones ad ordinem monacorum.et accepit inde fofinus ordinem primiter habitantem in eclesia uocabulo sncte eolalie uriginis fundata in uilla sonosello de presores de ipsa uilla. Ego carterimo et astrilli una cum filiis meis fundaui eclesiam in nostro casale proprio exepre de nostros heredes uocabulo sancti saluatoris sancti andree apostoli sancte marie uirginis et sancti thome apostoli sancti petri apostoli accepit uoluntas dei.et factus de ipsa eclesia cum ipso casale testamentum post partem de propinquis nostris et pro remedio animas nostras et omnes defunctorum que in ipsa eclesia sepulti sunt. Contestamus ad ipsa eclesia illa hereditate per suis terminis qui habuimus de presuria que preserunt nostros priores cum cornu et cum aluende de rege et habuimos VIª de ipsa uilla que habuimus per particione et medietate de illa fonte de salmegia.contestamus cum suo ornamento eclesie libros casullas uestimenta altaris uel templi cruces super euangelia et corona et calice et patena argentea.contestamus in ipsaeclesia cum quantum ominis hic aprestitum esto.sgnum caballos equas boues et uaccas pecora promiscua cubus et cupas lectos et cagtedras mensas sautos et pumares mexinares uineales terras ruptas uel barbaras casas lacar petras mobiles uel immobiles.et diuidet ipso casal ubi ipsa baselica fundata est per casal de louegildo.et inde per rego qui descorret a casa de trasmondo.et inde per ipso uallo et suos dextros et tornat se unde primitus inquoauimus. Ego cartemiro concedo ibidem larea que iacet in çima de ipso uiniale.et habet ipsa larea in amplo VIIIº passales et in longo peruallatur.contestamus ipsum quod in testamento resonat ad ipsa eclesia et ad propinquis nostris fratrum uel sororum monacorum uel clericoru.et qui bono fuerit et uita sancta perseuerauerit habeat et possideat.contestamus ipsa eclesia cum omnia sua ornamenta et sua prestantia.et qui hunc factum nostrum inrumpere quaesierit uel extraneare uoluerit sedeat separatus et excomunicatus et cum iuda traditore habeat participium.et insuper pariat due libra auri bina talenta et a domno qui illa terra imperuerit aliud tantum, et hunc factum nostrum testamentum plenam habeat roborem. Notum die erit pridie kalendas magii era DCCCCVIIIª Cartemiro et astrilli in hoc testamento manus nostras rouoramus.

Gaton abbas confirmo –Zalama abba conf. –Randulfus presbiter conf. –Biatus presbiter confo. –Gundisaluus conf. –Elias presbiter conf.

Pro testes –Aluaro testes –Trasmondo test. –Gondulfo test. –Viliatus test. –Vimara test. –Gaton test.

Menendus presbiter notuit.


Texto original galaico-latino mais antigo que se conserva datado no ano 882 e escrito em letra mal chamada visigótica (3). Fala da fundação da igreja de Lauridosa, hoje Lordosa em Vila do Conde:

Christus. In nomine patri et filii et spiritus sancti.domnis inuictissimis ac triumphatoribus sanctis martiris petri et pauli sancti migaeli arcamgeli.cuius baselica fundamus in uilla quod uocitant lauridosa inter duas annes kaualuno et cebrario subtus monte petroselo territorio anegrie.ego serbus dei muzara et zamora damus adque concedimus ad deum et ad ipsa baselica que nos fundamus in nomine sancti petri et pauli et sancti migaeli arcangeli.damus ipsa uilla ubi ipsa eclesia fundamus in omnique circuitu suos dextruos sicut kanonica sententia docet : duodecim pasales pro corpora tumudamdum (sic) et LXXIIos ad tolorandum fratrum adque indigentium et foru dextruos ipsa uilla pro ubi illa obtinuimus de presuria pro suis locis et terminus antiguiis cum pascuis padulibus montes fontes petras mobiles uel inmouiles aquis aquarum uel sesicas molinarum terras ruptas uel barbaras arbores fructuosas uel infructuosas accessum uel regressum cubus cubas lectus katedras mensas signum de medalo cruce kapsa calice de ariemto cum quamtumque ibidem aprestamo omnis est.damus atque concedimus ipsum que sursur taxatum est pro remedio animabus nostris ad ista eclesia adque sacrosancto altario quod subra taxatum est.concedimus ut diximus pro uicto atque uestimentum monagus et fratres et sirores et propinquis nostris et qui bonus fuerint et in uita sancta perseueraberint seculariter et uia monastica obtinuerint in ipso loco.sibe pro luminaria latariorum uestrorum uel elemosias pauperum.sicut lex et canonica sententia docet.et ibi notuimus ut nec uimdendi nec donandi neque a rex neque ad commide neque ad episcopo neque ad numlo omine inmitendi.se sidea semper inienua usque in sempiternum.et post parte propimquis nostris et qui unc facto nostro infringere uel conare tentaberit reus sit ad sancto comunione separatus et cum iuda traditore accipiat participio in eterna dnanatione sint dimersit (sit) in baradro inferni ubi fletus et ullulatus et anathema marenata accipiar.et in conspectu domini.et não abeant cum domino in prima resurectione ressusitandi.nisi percusus (?) ad eclesia et ab omni cetum christianorum......et insubra parient tantum et alium tanto quantum inde abstulerit et insuper auri talemtum post parti testamenti et coram pontificum.et iudice suo iudigado.et anc scriptura testamenti plena abea firmitate: notum die quod erit VI kalendas abriles era DCCCCXXª. Muzara et zamora in hanc kartula testamenti manu nostras.

Didagu conf. –gumsalbo conf. –uermudo conf. –gutierit conf. –uiliulfo conf. –sisnando conf.

Uimara conf. –gundiarius conf. –quiriagus conf. –gudesteo conf. –gudino conf. –iauini conf.

Floresindo test. –mido test. –pelagio test. -gaton test. – sendino test. –iaquinto test.

Rodorigus abba conf. –Joanne abba conf. –uermudus presbiter conf. –gunsalbus presbiter conf. –didagus presbiter conf. –frariulfus presbiter conf. –froila presbiter conf.

Gudinus presbiter notuit



Referências

(1) O latim galaico é um latim ulterior, diferente em origem do latim citerior. Se bem este segundo foi um latim que penetrou com a chegada dos romanos nos século III a.C. na península pela atual Catalunha, ou a Tarraconense da época, o primeiro, o citerior é um latim que chegou via comercial e militar pela Bética até a Gallaecia passando-se pela Lusitânia. Portanto o latim galaico do qual surgem tanto o galego-português como o asturo-leonês é um latim ulterior, diferente em origem e diferente em substrato do citerior que posteriormente criaria o catalão e o navarro-aragonês. Este último em contato com o basco. 
O castelhano, do nosso ponto de vista é um latim basicamente citerior mas também sob um substrato bascão muito importante que lhe da forma embora numa região na que confluem também outras linhas de convergência linguística: por uma parte a influência galaico-astur de toda a etapa medieval na que o Gallaeciense Regnum marcava as linhas políticas, culturais e portanto linguísticas de toda a Idade Média e da que salientamos o facto de ser Compostela o foco irradiador de cultura como nos diz Eugen Cosériu; por outra parte a colonização da meseta norte pelos faramontãos provenientes da montanha cântabra, provavelmente de história linguística próxima do povo basco; e por último de grandíssima influência navarro-aragonesa, identificativamente citerior. 
Diz Rafael Lapesa na sua “Historia de la Lengua Española" editada por Gredos na sua edição nona na página 162 que  tanto as Glosas emilianenses como as silenses do mosteiro de San Millán de La Cogolla estão num original dialeto navarro-aragonês (não em castelhano). Lógico, se temos em conta que La Rioja é uma região originariamente bascona e navarra. Portanto, como poderíamos enquadrar o castelhano? Do nosso ponto de vista achamos que na península há dous blocos: o ocidental ao qual pertencem o galego-português e o asturo-leonês e o oriental o qual pertencem o aragonês e o catalão. Achamos que o castelhano é um latim surgido de todas as confluências anteriores que em nada teria como dialetos, dum ponto de vista genético, ao asturo-leonês nem ao aragonês. Por isso de fazermos os estudos dialetológicos peninsulares deveríamos tratar o castelhano, ou ibero-romanço central sozinho, enquanto os outros blocos, o ocidental (galego-português e asturo-leonês) e oriental (aragonês e catalão) independentemente do central. Devemos perder o medo a reivindicar o parentesco íntimo e não castelhano do galego-português com as falas asturo-leonesas mesmo tendo em conta a liberdade com a que se fala do assunto em Portugal. Não há mais do que lembrar  Leite de Vasconcelos quando falava em co-dialetos no que diz respeito ao Mirandês, Guadramilês e Riodonorês a quem ninguém lhes discute a sua raiz asturo-leonesa. Digamos portanto que o asturo-leonês é um co-dialeto do nosso complexo linguístico ibero-românico ocidental surgido da velha Gallaecia. Não há vontade de assimilação do asturo-leonês mais que pela parte do castelhanismo histórico político-cultural que desfaz identidades e cria confusão no que diz respeito às origens dos povos da península Ibérica e especialmente no referido ao seu histórico concorrente: o projeto nacional galaico

(2) Castela tinha nascido como reino independente sete anos antes da coroação de Afonso VI em Compostela e o mesmo ano no que se corou em Leão, em 1065. Nas Universidades galegas e espanholas Afonso VI é denominado Rei de Castela, do mesmo jeito do que o seu neto Afonso VII. Mas o primeiro rei castelhano da história foi o irmão de Afonso VI, Sancho o forte, na realidade I (primeiro) de Castela. Na historiografia castelhanista é numerado como Sancho II em vez de III como seria seguindo as matemáticas básicas sem se lembrarem (seguindo a filosofia castelhanista) de que houve antes mais dois Sanchos: Sancho Ordonhes, o I (925-929) e Sancho o Gordo, que seria em realidade o II (955-956, e 960-967). Sancho Ordonhês que para além de ser coroado em Compostela e posteriormente no resto do “Gallaeciense Regnum” alguns textos da historiografia oficial preferiram deixá-lo de fora do cômputo e sem número. Como diz Anselmo Lopez Carreira (2003:90) “só as vezes é catalogado de “Rei privativo de Galiza” (com o que se quer dizer que foi quase um ninguém!)”

(3) A letra chamada de “Visigótica” já existia na península antes da chegada dos visigodos ao ângulo Noroeste. Do nosso ponto de vista seria mais correto chamarmos-lhe letra “suevica” ou “galaica”. http://despertadoteusono.blogspot.com/2011/09/o-que-verdade-esconde-1-parte.html

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1 comentário:

Anónimo disse...

Uma precisão que quereria que alguém na precisasse:
O ditongo -ou- (e talvez -ei-) tão característico da "galeguidade" parece ser não primitivo, mas hipercorreção ulterior, segundo dizem que disse Diaz e Diaz, saudoso catedrático de latim na USC. Alguém pode comprovar se assim opinava o Professor? E seria certo?
AntonioGil

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