Maria de
Fátima Santos Duarte Figueiredo *
Poucas terras como Santarém terão uma história tão
dramática. (…) A posição estratégica, o sítio quase
inexpugnável, a fertilidade das terras da região, a posição entre
Lisboa e Coimbra, tudo explica que Santarém fosse rijamente
disputada por cristãos e mouros, logo que os primeiros iniciaram a
reconquista.(…) No gigantesco duelo entre duas raças e duas
religiões que se prolongou por quatro séculos, Santarém foi terra
mártir, disputada a ferro e fogo, ora a bandeira de Cristo, ora a
bandeira da meia-lua vitoriosas nas ameias do seu castelo roqueiro.
(In “Entre a cruz e o crescente”, O
Correio do Ribatejo, 24 de dezembro de 1948)
preciso
lugar onde acabava o al-Andaluz, para dar lugar à terra dos
“galegos”, dos cristãos do Norte”, depois que, havia muito
pouco, estes haviam conquistado Coimbra. (…)
é o local onde o Islão se separa- e se encontra- com a Cristandade.
(“Em
torno de Santarin: posições e funções”,
de
Hermenegildo Fernandes,
in De Scallabis a Santarém,
48)
A antiquíssima Scallabis1
não é uma cidade que atraía o visitante, à primeira vista. Ao
chegar do norte, ele depara-se com entradas pouco atrativas:
hipermercados e bairros urbanos; vindo do sul, pela
ponte D. Luís I, o
panorama é muito mais agradável, pois avista-se o monte da Alcáçova
com as muralhas das Portas do Sol, olhando imponente a lezíria e o
rio Tejo. À beira deste encontram-se, tristes e escuros, a Ribeira
de Santarém e Alfange; no entanto, das Portas do Sol, o turista pode
deliciar-se com a belíssima paisagem da lezíria que se alonga,
cheia de força pletórica.
A Ribeira e Alfange, outrora
portos fluviais de grande importância, revelam os efeitos de longos
anos de um poder autárquico de costas voltadas para as suas
potencialidades turísticas e económicas que levaram à região
povos de muitas origens, devido à sua localização, aos produtivos
campos e à existência do Tejo. De facto, a cidade, entre o norte e
o sul, o Atlântico e o Mediterrâneo, situa-se numa posição
estratégica única que lhe valeu uma História antiquíssima, cuja
origem remonta à mitologia grega2
e regista um interessante cruzamento étnico: fenícios, gregos,
romanos, focenses, cartagineses, massiliotas, judeus, árabes,
sírios, berberes, normandos, ingleses, suevos, visigodos, alanos,
cruzados do norte, incluindo francos, homens do norte da Península
Ibérica (norte de Portugal, Galiza e Astúrias) e ingleses.
A exploração agrícola das
terras junto ao Tejo começou no neolítico, com o estabelecimento
populacional em Alcácova, cuja prova é o “Vaso de Santarém”,
tendo sido encontrado também o linho chamado Linum
humile, da Ásia
Menor, que chegou entre 2.500 e 1.200 a.C., por via fluvial. Esta
facilitou o comércio da mineração e metalurgia do cobre e estanho
que teve início no Calcolítico, o que revela o caráter mercantil
único desta urbe desde o início.
Os primeiros sinais de ocupação
humana da cidade foram descobertos nas Portas do Sol, num oppidum
pré-romano habitado
entre os séculos X- IX a.C. e I d. C., localizado, como o resto do
Ribatejo, na antiga Lusitânia3,
sendo díspares os estudos e opiniões apresentados pelos diversos
autores no que respeita à origem dos lusitanos4.
Inequívocos, no entanto, são os registos da sua valentia e ousadia,
personificados em Viriato. Diodoro
da Sicília, por exemplo, considerava-os os
mais fortes de entre os iberos5
e, segundo Estrabão,
eram hábeis em
emboscadas e perseguições (….)
usam um pequeno escudo
que tem dois pés de diâmetro e é côncavo è frente, e é manejado
com correias, e que não tem, ao que parece, nem presilhas nem
alças.6,
usando a guerrilha como forma de combate.
Os guerreiros lusitanos
eram um grupo social muito importante e respeitado, por isso, ficaram
imortalizados em estátuas que, pelo facto de serem consideradas
galaico-lusitanas revelam, na nossa opinião, a dificuldade em
distinguir as respetivas tribos, mais aparentadas e próximas, a
nível étnico, geográfico e cultural do que as fronteiras
artificialmente estabelecidas fazem crer7.
No
Ribatejo e na Estremadura portuguesa, surgiu a denominada “cultura
de Apiarça”, que caracteriza a Idade do Ferro no centro de
Portugal, região povoada pelos túrdulos e em que existiam cidades
tão importantes como Olissipo (Lisboa). Outros locais de relevo eram
Sellium (talvez Tomar), onde há um povoamento pré-romano, um castro
(celta) em Torres Novas, em Mação (o de Caratão), em Abrantes e
na Cova Nascente do Almonda, ocupado desde o fim da Idade do Bronze e
durante toda a Idade do Ferro. Contudo, Chões de Alpompé (próximo
de Santarém) destaca-se por ser provavelmente a Morón referida por
Estrabão, onde Décimo Júnio Bruto, em 138 a.C. estabeleceu o seu
acampamento militar contra os lusitanos. Aqui, o achado mais antigo
foi um fragmento de um
machado de talão unifacial, com uma única argola, enquadrável no
chamado “tipo lusitânico”, datável dos inícios do I Milénio
a.C.8,
tendo sido encontrada também cerâmica decorada com os
característicos S da cultura castreja do noroeste da Península
Ibérica. Também da Idade do Bronze foram encontrados, na capital
ribatejana, um machado em S. Bento e esporões na Alcáçova, onde a
presença humana data da Idade do Ferro, portanto, da ocupação
fenícia, havendo vestígios orientais num
conjunto artefactual muito característico e em técnicas de
construção específicas do mundo oriental.9,
o que comprova o intercâmbio interregional na época pré-romana que
se registou também na época do conventos
scallabitanus e na
fase islâmica. Além destes objetos, destacamos também os torques
que foram achados em Almoster
e as arrecadas
descobertas na Golegã, que sugerem uma ligação à ourivesaria
nortenha e, portanto, a um substrato cultural comum entre este
território e o norte.
De quando a cidade era Scallabis
Praesidium Iulium (fim
do século I a.C.), foram descobertas, por exemplo, ânforas em
Alfange, havendo então dezanove villae
no Conventus
Scalabitanus e
importantes estradas romanas perto da urbe que, partindo de Olisipo
(Lisboa), davam acesso
ao norte (Bracara
Augusta) e a Espanha
(Mérida), havendo igualmente uma para Ebora.
Assim, estas estradas ligavam,
pelo interior, o Sul Mediterrânico ao Norte Atlântico. A antiga via
romana que começava em al- Ushbûna (Lisboa) rumava a partir de
Shantarîn para norte, atravessava al-Shârât (as Serras) pelo
estreito corredor natural que seguia do norte de Tomar até às
proximidades de Qulumriya (Coimbra), continuando depois por Burtuqâl
(Portucale) para terminar na Gallîsiya (Galiza)10.
Em 460, Suenerico, servindo o rei
godo Teodorico, conquistou Scallabis, mas os romanos continuaram a
revelar uma forte posição no porto fluvial da cidade, onde a
comunidade judaico-síria se mostrou contra as crenças visigodas11,
influenciando o respetivo povo a participar e a assimilar a religião
cristã bizantina, fazendo assim com que se mantivessem os laços ao
Mediterrâneo oriental. Durante o domínio visigodo, a urbe aumentou,
surgindo Sesirigo, nome
de origem germânica, depois denominada Sanctae
Eirenae (Santa Iria ou
Santa Irene) aquando do reinado de Recesvinto (653-672), para
designar a povoação junto ao rio onde se venerava aquela santa, e
depois, em árabe, Sanctaren ou Xantarin12.
Curiosamente, também existia, na região de
Santiago de Compostela, o
local de Iria (…)
como elemento de
atração dos povoadores (…)
para um lugar sagrado13.
Sede de bispado, Santarém
tinha vários outros cultos cristãos e várias igrejas que
perduraram durante o período islâmico.
Os árabes chegaram no século
VIII d. C., época bastante conturbada: em
714, Abd al´Aziz conquistou a cidade aos hispano-godos e, cerca de
760, terá havido uma conquista da cidade por parte dos normandos. Em
784, houve uma visita do emir Abd al Rahman I, que ordenou a
construção de uma mesquita; dois anos depois, o seu filho
incentivou uma insurreição na cidade que os reis asturianos
aproveitaram, apoiando as populações que se revoltavam contra o
invasor, tendo Afonso II das Astúrias, o Casto, alcançado Lisboa em
798. Durante o domínio
islâmico, o rio Tejo e os seus campos férteis mantiveram-se
preciosos na economia da urbe e despertaram tanto a admiração de
autores árabes que estes compararam as lezírias (al-jarirà)
aos terrenos produtivos do rio Nilo. Essa terá sido certamente uma
das razões pelas quais Shantarin
adquiriu fama nas artes e letras, quando integrou o reino de taifas
de Badajoz.
Aquando do califado de al-Hakam
II, os alcaides mandados pelo califa para combater os majus
(bandos vikings que atacavam as costas cristãs e as muçulmanas)
estavam na cidade, onde souberam que aqueles tinham ido embora, o
que foi confirmado por espiões que tinham sido incumbidos de ir a
Santiago de Compostela. Este facto comprova a circulação de pessoas
e informações entre o norte e o sul, favorecida pela existência de
vias rodoviárias herdadas dos romanos.
Cerca de 936, o governador da
cidade era Umayya ibn Is hâq al-Qurashî al- Marwâni (fundador de
Badajoz e sobrinho do califa ´Abd-al- Rahmân al-Nâsir, de
Córdoba), que teve, na sua briga com o tio, o apoio e proteção de
Ramiro II de Leão, que fora senhor do condado Portucalense. Após
sair derrotado, em janeiro de 939, passou a estar ao serviço do rei
cristão. Estes tempos conturbados não ficaram por aqui: Lisboa foi
saqueada, em 956, pelo rei leonês Ordonho III e, em 30 de abril de
1093, as tropas de Afonso VI de Leão e Castela entraram em
Santarém14.
Então, o rei de Badajoz e do Gharb al-Andalus, al-Mutawakkil ´Umar
ibn al-Aftas, negociou com ele, solicitando a troca de Santarém,
Lisboa e Sintra pelo apoio cristão contra os almorávidas, que
ambicionavam conquistar os reinos taifas15.
Tomando as rédeas do governo da cidade, o rei cristão concedeu-lhe
um foral para fixar cavaleiros vilãos para garantirem a defesa da
cidade e do Tejo e assim, reforçar a presença cristã, que
prevaleceu entre 1093 e 111116.
As fontes árabes
referem, até, grandes obras de fortificação as quais tornariam
Santarém- no dizer de Ibn ´Abdûn de Évora-no melhor protegido das
praças-fortes (qa l´a) cristãs.17,
o que a impediu, durante algum tempo, de ser conquistada pelos
almorávidas e ajudou na reconquista de Lisboa e Sintra até ao
domínio daqueles.
Os berberes saarianos tomaram a
cidade e dominaram-na ainda durante 36 anos, entre 1111 e 1147, mas
os cristãos persistiram na sua reconquista e a urbe voltaria a ter
um importante papel defensivo nas mãos destes, após a sua conquista
por Afonso Henriques, que contou
com o apoio dos moçárabes locais. A cidade
continuou a revelar grande desenvolvimento comercial ligado à
atividade fluvial, com o grande poder económico dos judeus e árabes.
Tal valeu-lhe o primeiro lugar na predileção árabe, sendo Coimbra
referida em segundo
lugar, para o espaço entre Tejo e Mondego, sem mencionarem Lisboa.
(…) E quando a cidade do Mondego deixa de integrar o Dâr al-Islâm,
Lisboa toma o seu lugar, mas sempre em posição subalterna18.
A conquista
definitiva de Santarém ocorreu no dia 15 de março de 1147.
À população local, fruto de
uma miscelânea significativa de culturas, foram também
acrescentadas, ao longo dos tempos, gentes de do norte trazidas pelas
batalhas da chamada Reconquista Cristã (a sua presença já se
faria certamente sentir aquando do domínio de Ordonho III, D.
Raimundo e de D. Henrique), uma vez que a guerra era um significativo
veículo migratório, além das necessidades económicas e
comerciais. Como prova desta mobilidade, encontrámos referências a
indivíduos da Galiza e Alto Minho, no século XIII: João
Mendes de Tui, João Moniz Galego
(…), Domingos Moniz
Galego e
Maria
Joanes, dita
Galega,19
e João Peres, vizinho
de Valença20,
e o topónimo “Val
dos Gallegos”21.
Há igualmente registos do século
XV de indivíduos cuja alcunha faz adivinhar a sua origem, sendo
notável
a frequência do
apelido Galego nos documentos desta época, prova incontestável das
migrações sucessivas de gente do Norte, após a reconquista cristã
e durante os séculos XII-XIII. Residem de preferência na Alcáçova
e na freguesia de Sto. Estevão e alguns são grandes proprietários
rurais, como un João Domingues Galego que, em 1348, tinha o seu
domicílio na freguesia de sto. Estevão e era proprietário na
lezíria do Galego22.
O apelido Galego foi
comum até ao início do século XX, de que é exemplo o nosso caso
pessoal: na árvore genealógica, temos os antepassados do século
XIX João Ferreira Gallego, Manuel Ferreira Gallego e António
Ferreira Gallego, tendo a nossa aldeia o nome Anteporta, existindouma Anteportas no concelho de Padrão.
Dos (inúmeros) acontecimentos
marcantes ao longo dos séculos, podemos ainda referir que foi nos
paços da antiga Scallabis (onde atualmente se encontram o Seminário
e a Sé) que ocorreu a morte de dois dos assassinos de Inês de
Castro (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves), em fevereiro de 1360. Nos
séculos XIV e XV, o hospital de Jesus Cristo, de João Afonso
(nobre, proprietário de terras e benemérito), quer
na perspectiva organizacional, quer no enfoque estritamente
médico-assistencial (…)
denota um (quase certo)
contacto ou conhecimento com a nova realidade hospital de
(…) Santiago de
Compostela23.
Santarém foi residência de reis
e nela tiveram lugar cortes de D. Afonso III, D. Afonso IV, D. João
I, D. Afonso V e D. João II; no Convento de S. Francisco, existe um
alpendre onde, segundo Rui de Pina, foi
jurado rei D. João II24;
no claustro quadrangular, há escudos dispostos alternadamente com as
armas dos Menezes e Castros; a Igreja de S. João de Alporão (fins
do século XII ou início do século XIII), segundo José Anastácio
de Figueiredo, foi
cabeça da ordem de Malta25;
na Igreja da Graça, foi sepultado Pedro Álvares Cabral, depois
trasladado para a sua terra natal, Belmonte; em 1640, o 1º conde de
Unhão, Fernão Telles da Silveira, foi o primeiro a proclamar a
independência, num edifício na Praça Visconde Serra do Pilar; a
urbe combateu os franceses, aquando das invasões napoleónicas, que
a despojaram de grande riqueza, do que é exemplo a Igreja da Graça
e, no período entre 1833 a 1834, defendeu a causa dos liberais, após
o que o general Sá da Bandeira a elevou a cidade. Na madrugada de 24
de abril de 1974, o capitão Salgueiro Maia partiu da Escola Prática
de Cavalaria para rumar a Lisboa e contribuir heroicamente para
derrubar a ditadura fascista.
Após tantas influências
culturais e tantos acontecimentos marcantes inclusive
para a História
nacional, a velha Scalabicastrum esconde, pois, as riquíssimas
memórias por detrás dos velhos e escuros edifícios, becos e
lugares pouco conhecidos e visitados. Neste planalto e lezírias onde
muito se esconde, as lendas e a História atestam a sua milenar
existência, na qual o norte e o sul confluíram intensamente.
*
Licenciada em Português e Inglês (via ensino) e Mestre em Estudos
Ibéricos com a dissertação O
Nacionalismo Galego (o percurso político e literário do século XIX
à década de 1950).
1Scala
pode ser a palavra latina para escada, mas também pode ser um
elemento pré-latino e explicar-se quer pela raiz “Kal”-pedra”
(…) quer pela raiz “Sk”-altura” (…) Como o derivado é
Scalabitanum, o que tem de se explicar é o radical
“
bit”; penso numa raiz pré-indo-europeia bet-bi҃t
(Santarém e Scalabis, uma tese revolucionária, José H.
Barata, Vida Ribatejana, 1955).
2Abidis
é uma divindade
da mitologia
dos celtiberos
e o nome de um rei mitológico ligado a Santarém.
Durante a sua odisseia,
Ulisses
de Ítaca
teria passado por esta região, onde se apaixonou por Calipso,
filha do celtibero Gorgoris,
rei dos Cunetas,
relação de que nasceu Abidis, que o avô abandonou, colocando-o
numa cesta atirada ao
Tejo.
Esta subiu o rio e foi recolhida por uma loba
ou cerva
na praia de Santarém, que cuidou dele. Mais tarde, Calipso
reconheceu-o e tornou-o o legítimo herdeiro do trono, escolhendo
aquela cidade para capital do reino, dando-lhe o nome Esca
Abidis (o
manjar de Abidis).
3Ptolomeu
(…)
menciona
Scallabis
(Santarém) (Viriato,
a luta pela liberdade,
Mauricio Pastor Muñoz, Edições Ésquilo, 5ª ed., Lisboa, 2004,
24) e Fernandez Ochoa apresenta como uma das regiões Lusitânia o
Ribatejo e Estremadura (Viriato,
a luta pela liberdade,
Mauricio Pastor Muñoz, Edições Ésquilo, 5ª ed., Lisboa, 2004,
45), sendo as outras a das Beiras e o oeste da província de
Cáceres.
4Oriundos
das montanhas helvéticas, estabeleceram-se, com certeza, nesta
região, por volta do século VI a.C. (idem,
21). O investigador Lambrino defendia que os lusitanos
constituíam um grupo tribal de origem celta relacionado com os
lusões de Contrebia, que se haviam fixado no Leste Peninsular. (…)
Os lusões ter-se-iam estabelecido na nascente do rio Tejo,
enquanto os lusitanos, descendo pelo vale do rio, acabariam por se
estabelecer no seu baixo curso, por volta do século VI a.C.. O
vocábulo lusitani, de raiz lus- e sufixo –tanus, seria de origem
celta e significaria “tribo de lusos” (ibidem).
No entanto, alguns investigadores como, por exemplo,
Leite de Vasconcelos, consideram-nos autóctones que terão sido
subjugados pelos celtas, sendo, portanto, uma etnia de origem pré –
ibérica. Sendo ou não os lusitanos anteriores à vinda maciça de
tribos celtas para a Península Ibérica, é, pois, tida como certa
a sua origem céltica e a sua língua era indo-europeia e mais
antiga do que, por exemplo, o celtibero.
5idem,
29
6ibidem
7Segundo
Maurício Pastor Muñoz, A norte do rio Tejo e ocupando
totalmente o centro e o norte de Portugal viviam os lusitanos, o
povo de Viriato, cujo território ia do Douro ao Tejo (idem,
21). O seu território era delimitado a sul pelo dos célticos, a
norte pelo dos galaicos e a nordeste pelo dos vetões, ou seja,
ocupavam, entre os dois rios,a zona de declive da Meseta
estendendo-se pela Estremadura (idem,
22).
Estrabão refere que A sul a Lusitânia é
delimitada pelo Tejo; a ocidente e a norte pelo Oceano; a oriente
pelos carpetanos, vetões, vaceus e galaicos (...) alguns também
lhes (aos galaicos) chamam lusitanos (idem,
23). É aqui interessante a (mais do que natural e lógica)
identificação dos galaicos com os lusitanos.
8“Chões
de Alpompé”, de Carlos Fabião, De
Scallabis a Santarém,
151
9“A
Alcácova de Santarém e os fenícios no estuário do Tejo”,
de Ana Margarida Arruda, in De Scallabis a Santarém, 30
10“Madînat
Shantarîn. Uma aproximação à paisagem de Santarém muçulmana
(séculos X-XII)”, de Manuel Sílvio Alves
Conde, in Santarém na Idade Média,
349
11Só
na época visigoda é que desapareceram as tribos, a religião
indígena e as línguas pré-latinas.
12Até
meados do século XII, mantiveram-se os vocábulos Scallabis
para o núcleo da Alcáçova e Sanctaren
para o da Ribeira de Santarém.
13Santarém
e Tomar- A lenda e a posse da terra, in
Santarém na Idade Média,
391
14Quatro
séculos foram precisos para se saber se a terra ficaria com o nome
cristão de Santa Irene, ou com o nome árabe de Chantireyn. A
reconquista cristã aproximou-se do Tejo e Santarém desde que
Fernando, o Magno, se apoderou definitivamente de Coimbra, nos
meados do século XI. Foi, por isso, possível a Afonso VI, o Bravo,
rei de Leão e Castela, avançar com as suas hostes até Santarém,
onde entrou a 30 de abril de 1093. Não houve então propriamente
conquista. A cidade foi-lhe entregue por um príncipe muçulmano de
Badajoz, a fim de obter a ajuda do rei de Leão contra o famoso
general almorávide Sir, o “rex Cyr” das crónicas cristãs. As
guerras intestinas que dilaceravam o império de Córdova
facilitaram assim a posse de Santarém nas mãos de Afonso VI, o
Bravo
que, Afonso VI
reconquista Santarém pouco tempo depois, e em 1095 concede-lhe o
seu primeiro foral, em paga dos bons serviços que lhe prestaram os
santarenos (In “Entre a cruz e o
crescente”, O Correio do Ribatejo, 24 de dezembro de 1948).
15Duas
décadas após a conquista de Coimbra por Fernando, O Magno (1064),
Toledo passa para o domínio cristão, sob a chefia de Afonso VI
(1085). Os árabes andaluzes solicitaram então o auxílio dos
Almorávidas para os ajudarem mas, apercebendo-se da sua ambição
desmedida , pediram ajuda ao rei cristão. Então, o último chefe
de Badajoz, ´Umar al-Mutawakkil, entregou-lhe as cidades de
Santarém, Lisboa e Sintra, o qual, por sua vez, as deu a Raimundo
de Borgonha, nomeado governador da Galiza e Portugal em 1090 ou
1092, após casar com D. Urraca. Mais tarde, Afonso VI separou, como
sabemos, o Condado Portucalense da Galiza, dando-o a D.Teresa
aquando do seu casamento com D. Henrique de Borgonha, mais apto que
D. Raimundo para cuidar da defesa do território, incluindo
Santarém, preciosa para o norte.
16
Temendo um ataque a Santarém, o conde D.
Henrique mandou em 1110 um corpo de tropas a fim de reforçar a
guarnição, mas foi surpreendido em Vatalandi e dizimado. A este
trágico sucesso se refere a Crónica dos Godos (…)
Em 1111 (26 de maio), o famoso general Sir
cerca Santarém. (…) Santarém
cede e a fome obriga a guarnição cristã a abrir as portas à
torrente muçulmana. (…) “Os
cristãos, diz Abdune, preferiram a humilhação à morte, a
submissão ao cativeiro.” (ibidem).
17
“Shantarîn/ Santarém, fronteira ambivalente islamo-cristã”,
de Abel Sidarus, in Santarém na Idade Média, 323
18idem,328
19Santarém
medieval, Maria Ângela V. da Rocha Beirante, 1ª ed.
Lisboa,1980, 56
20idem,
72
21idem,
136
22Idem,
259
23Santarém
na Idade Média,
atas do colóquio 13 e 14 de março 1998, Câmara Municipal de
Santarém, 2006, Santarém, 1ª Edição, 249
24Arqueologia
Scalabitana, Francisco Nogueira de Brito, 18
25idem,
16
1 comentário:
Excelente artigo!
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