quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A nossa língua nas instituições europeias

Por José Manuel Barbosa.

Lá pelo 17 de Novembro de 2005, aniversário do Decreto Filgueira era um dia feliz para os integrantes do novo Governo galego de coligação entre o PSOE e o BNG. E assim ficava dito nos meios de comunicação do nosso País. A razão era que a “Língua galega” passava-se a fazer parte da história das instituições europeias por ser o Presidente Touriño o “primeiro” galego em fazer-se ouvir na língua da Galiza na Câmara das Regiões do União Europeia.

Bem é certo que o nosso País contou sempre com dirigentes políticos de “grande lucidez” desde que em 1981 o Doutor Fernández Albor chegara à Presidência da Junta da Galiza. Também o “formoso” galego oral do Presidente Fernando González “Laxe” comoveu a milhares de galegos nos seus fogares desde a TVG com as suas manifestações num “pulcro” galego “próprio” da sua dignidade. E como não lembrar a energia de “Dom Manuel” –quiçá de todos o que melhor galego tenha falado nunca- o qual pus à Galiza a andar, tão rapidamente, que não nos atrevemos a assegurar que nos chegassem as extremidades, as quatro, para realizarmos o labor e a função que se nos encomendou aos galegos durante o seu governo; mas a final foi o Presidente Touriño quem levou a parte do campeão no que diz respeito da língua, fazendo ouvir música rosaliana num organismo que embora subalterno -como dizem os média que noticiam o facto-, sim por fim pertencente às instituições da Europa Comunitária. 


Mas provavelmente não se tenham percebido nem os média nem o Presidente Touriño dum pequeno pormenor, e é este que se nos apresenta o Presidente Touriño como o PRIMEIRO em levar a cabo um discurso em galego na UE, cousa que se não nos falha a memória não é certo, já que houve como mínimo mais TRÊS pessoas anteriormente as quais realizaram oralmente uma função comunicativa na nossa língua nas instituições comunitárias. Bom, quiçá algo souberem, pois nos jornais, rádios e TVs galegas se chegou a afirmar que anteriormente alguém teve feito algo, e com isto nomeou-se a Camilo Nogueira Romão deputado europeu do Bloco Nacionalista Galego (BNG) entre 1999 e 2004 que fez o seu trabalho –dizem eles- em português. O qual é como dizer que não falou galego...
Do nosso ponto de vista é rotundamente certo se por Português entendemos o galego-português de Portugal na sua forma e norma padrão lusitana. Mas antes de Camilo Nogueira estivo José Domingo Posada também deputado europeu entre Julho do 2003 e Julho do 2004 numa primeira vez, e uma segunda os seis primeiros meses do ano 1999. Foi José Posada deputado pertencente á Coligação Galega (CG), posteriormente refundida no novo partido Terra Galega (TeGa) e mais tarde como Convergência Galega (CG) quem reproduzia a sua fala no seu sotaque das Rias Baixas, segundo ele próprio diz. Tal foi assim que o próprio parlamento europeu –que neste caso não é um organismo subalterno- teve num princípio pequenas dificuldades para reconhecê-lo como o que na realidade é: uma variante duma língua oficial da União Europeia, ficando esse facto claro quando o próprio Posada deu a conhecer que a sua fala galega era e é uma forma de português nortenho, cousa que o parlamento e o seu presidente também reconheceram após o informe feito por um outro deputado, Irlandês neste caso, de nome Mark Killilea.

Mas há que comentar que entre o deputado Posada e o deputado Nogueira ainda se passou por ali uma outra pessoa, Manuel Garcia, que não sendo deputado europeu mas responsável dum grupo ambientalista da Límia: M.E.L. (Movimento Ecologista da Límia), e levado ali por José Posada também falou em galego, nesta caso um galego que tanto os média como o Senhor Touriño não poderiam reconhecer como outra cousa diferente do que eles chamam galego já que a sua fala individual com formas aceites pela normativa RAG-ILG estavam totalmente presentes na sua comunicação (-ción, -ble, léxico RAG, etc...) quando apresentou um relatório ao Grupo Arco Íris -ao qual pertencia a Coligação Galega (C.G.)-, sobre a saúde ecológica da sua comarca após a concentração parcelar dos Concelhos da zona para posteriormente ser defendido pelo deputado Posada no Pleno do parlamento. A esse pleno do Grupo Arco Íris assistimos várias pessoas, entre elas eu próprio, podendo comprovar cada um dos que ali estávamos como uma vez começou a falar o nosso amigo Manuel Garcia  a cabina de tradução do português traduzia imediatamente para as línguas de cada um dos deputados presentes do Grupo Arco Íris.
É de lei comentarmos que o nosso amigo Manuel Garcia nem é, nem era reintegracionista, o qual vem a confirmar um facto cujas conclusões devem ser tiradas pelo próprio leitor deste artigo, e é por tudo o que acabamos de dizer pelo que argumentamos que não foi Emílio Pérez Toriño o primeiro em falar em galego nas instituições da Europa Comunitária, nem o segundo, nem o terceiro, mas quiçá O QUARTO e com tudo isto quem menos se cingiu a normativa da RAG que tanto diz defender ele com tanta fúria e que também com tanta fúria cominam a usar os seus companheiros de partido. Na fala do presidente, mesmo a que usa pública e institucionalmente pululam formas puramente castelhanas como “ciudadano”, “personas”, “responsabilidá”, em absoluto reconhecidas como galego por ninguém, nem sequer reconhecidas como tais pelos defensores das NoMiGa (Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego).

Comentam os média que esses deputados nomeados neste artigo “usaram o português a costa do idioma próprio e do castelhano” o qual -como sabe qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de como funcionam as instituiçons europeias-, é uma manipulação da realidade, já que nessas instituições nunca se pode usar um único idioma, mas vários. Consta-nos que tanto o Deputado Posada como o Deputado Nogueira usaram como mínimo espanhol e inglês no exercício do seu labor parlamentar como é o normal na Câmara Parlamentar europeia, do mesmo jeito do que um deputado italiano, um letom ou um dinamarquês usam para além das suas línguas o francês, o alemám, o português, e outras.
Dentro duns dias, a Deputada do BNG Ana Miranda vai ser a que tenha a voz da Galiza no Parlamento Europeu seguindo os passos dos Deputados Posada e Nogueira. Gostaríamos que fosse com a ideia de reconhecer e usar a língua dos galegos como um galego-português oficial nas instituições continentais. Digo isto porque tenho a ideia de que a Ana Miranda gosta do galego internacional pois assim no-lo disse ela própria em dezembro de 2008, data na que apresentamos o Atlas Histórico da Galiza em Bruxelas, num ato ao qual ela assistiu na livraria Orfeu do nosso amigo Joaquim Pinto. Evidentemente isso sem prejuízo de que use outras línguas comunitárias, como é obrigado nestes casos –e não por imperativo legal, mas por necessidade-  nas instituições da União.

Curioso é também, como o nacionalismo pan-iberista de signo castelhano comunica falsas verdades ao público que segundo a legalidade tem direito à informação veraz. E é curioso porque qualquer País que se diga democrático aceita e admite certas cousas que o historicamente autoritário Reino no que estamos inseridos não é capaz de reconhecer. E isso porquê? Pois a resposta é bem fácil: Porque o Reino é nacionalitariamente fraco e necessita narcotizar o público para cumprir com o seu projeto de assimilação, fracassa no seu labor democratizador duma sociedade pouco afeita à liberdade. O respeito, a liberdade real, a tolerância, e a democracia são só um privilégio das nações e dos Estados fortes que não temem a nada nem tem nada que temer.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobre a amputação da memória


Por Carolina Horstmann

Começamos estas últimas décadas com acontecimentos sociais fortes. Tínhamos por costume nos perguntarmos: Onde é que estavas tu o 11 de setembro? E o tema do World Trade Center deu passagem para o esquecimento, ficou deixado para os comentários e as trocas de opiniões numa noite de canecos de cervejas. Ficamos cheios de palavras como: Talibã, terrorismo, Osama bin Laden, etc... intoxicamo-nos de notícias e novidades.

O ano de 2003 poucos se perguntaram pelos acontecimentos no Iraque após a queima da Biblioteca e a perda de inúmero material do Museu. Muitos menos souberam onde foi que começaram a aparecer os “souvenirs” que tiraram dum país em guerra um grupo de jornalistas duma conhecida cadeia de notícias. A nossa memória sei-que dura o que dura um segmento do noticiário...depois...nada.

Agora hás de te perguntar, com certeza: Como foi que não me inteirei do da Biblioteca do Cairo? São as notícias que correm esta semana (pelo menos por alguns média digitais). O fogo começou nas proximidades da Biblioteca e os manifestantes (enquanto eram atacados pela polícia antidistúrbios) tentaram durante horas resgatar volumes, uma após outro de entre as lapas.

No Instituto Egípcio do Cairo, perderam-se quase 160,000 exemplares, muitos deles únicos. Entre eles podemos contar a obra que Napoleão encomendou a um grupo de cientistas, a chamada Description de L´Egypte, volumes ilustrados por uns 2000 desenhadores e gravadores, que demorou quase 20 anos em ficar rematada..

Como é possível que continuem a acontecer uma e outra vez esses mesmos eventos, ainda com as medidas atuais para a proteção do património mundial?

Sobre a perda da memória.
Se há algo que chama a atenção a dia de hoje, é o letargo que nos corrói. Chega só com ouvir qualquer conversa num lugar público para confirmar o sentimento. Adormecidos, aletargados. Confiados num sistema que dá e responde a todas as nossas necessidades, anestesiados até a medula.

Geração após geração avança este processo de desmemorização perdendo o contato com a nossa história num constante puxar da sociedade atual para nos preparar e nos educar constantemente de cara “ao futuro”. De que jeito havemos de ter futuro se não estamos conetados com o passado, se a história foi apagada, anulada ou re-escrita desde tempos antigos?

John Milton no seu “Areopagítica”, afirmava: “matar um bom livro é quase matar um homem”. Não deixo de pensar que se o aplicarmos à Galiza teríamos os campos cheios de corpos. Não me estou a referir só aos livros destruídos pelo lume ou o deterioramento mas a toda a informação que durante séculos foi silenciada, apagada completamente da nossa história, negada aos estudantes nas suas aulas...

A aniquilação da memória v/s a tentativa de preservação da documentação.
A UNESCO, com o seu programa “Memória do Mundo”, faz uma tentativa de preservar e difundir a documentação mundial, sobre tudo aquela que se acha em lugares de conflito bélico ou destinada a desaparecer pela passagem do tempo. Tendo a encomenda, também, de sensibilizar aos cidadãos sobre a importância que tem para os povos e para os governos este património cultural.
Estabelece este programa quatro razões fundamentais da destruição dos livros:

1.      Catástrofes naturais (inundações, terramotos e incêndios)
2. Catástrofes provocadas pelo homem (guerras, prejuízos, perseguições, lutas religiosas...)
3.      Inimigos naturais (Insetos, umidade, meio ambiente, contaminação)
4.      Papel autodestrutivo (excesso de acidez nos textos actuais)

Estamos perante uma louvável iniciativa, não há dúvida, mas... soluciona realmente os nossos problemas de fundo? Cria reação nos governos? Mobilizam-se as organizações para salvaguardar esse património? Informa-se ao conjunto dos cidadãos? Consegue-se a tomada de contato com as pessoas?

Segundo diz o bibliotecólogo Fernando Báez no seu livro “Historia Universal de la destrucción de libros”, que o livro não se destrui como um objeto físico, mas é que se procura a sua eliminação como vínculo de memória: “O livro dá volume à memória humana”. É este vínculo livro-memória o que dá a força e a constância ao património cultural dum povo ou uma nação. É este património o que conforma o sentimento de afirmação e pertença. A destruição dum livro, portanto, faz-se com a intenção de aniquilar “o património das ideias duma cultura inteira”.

Por cada alínea apagada do nosso passado histórico temos uma alínea menos de verdade num presente que não sabemos compreender. Uma história atual que somos incapazes de enxergar com senso cabal por causa do puzzle aparentemente incompleto no que nos mexemos.

A Galiza tem-se visto enfrentada à luta de poder das altas cúpulas político-religiosas, enfrentando-se com homens profundamente dogmáticos aferrados a um livro irrefutável (e aos seus próprios interesses mundanos). Um livro sagrado que não aceita discrepâncias, que apaga todo posicionamento contrário, que elimina ou tergiversa as verdades que deram alicerce e forma ao Gallaeciense Regnum.

Amputação da memória Galega.
O caso de Galiza, pode ter por resumo “a história contada pelos vencedores”, “Santos senhores” com poder para escrever e re-escrever a vontade. Cronistas, historiadores, eclesiásticos e hábeis políticos que tiveram a encomenda de eliminarem ou manipularem, anulando o nome da Galiza de todos os documentos possíveis.

Figuras salientáveis nesta eliminação de documentos foram: Lucas de Tui, Pelayo de Ovedo e Rodrigo Ximenes de Rada. Todos do S. XII ou XIII a partir dos quais toda contrução histórica feita em adiante ignora Galiza e põe no seu lugar uma Castela neófita e sem experiência. Numa recontrução historiográfica peninsular que a dia de hoje impede que qualquer estudioso chegue a reconhecer a Galiza como o primer Reino da Europa Medieval, ainda existindo Roma.


·    Durante a ocupação romana, a Gallaecia foi uma das províncias do império mais sucedidas economicamente, culturalmente e do ponto de vista artístico sendo o elemento indígena fulcral. Figuras como Prisciliano, Egéria, Paulo Orósio, e Idácio Lémico foram prova da importância da Nossa Terra. A figura de Prisciliano poderia equiparar-se a outras paralelas dentro do mundo céltico e atlântico como São Patrício, São Davide ou Santo André. Aliás, Prisciliano, pode dar pistas a respeito do fenómeno Jacobeu já que há quem assegura que quem realmente está (ou estava) em Compostela não era São Tiago, mas Prisciliano. As provas não são determinantes, mas a lógica leva por esse caminho.

·        Os suevos, um povo germânico dos mais evoluídos e “romanizados”, constituíram na Gallaecia, a zona mais rica e desejável para eles da península, o primeiro Reino independente de Roma com um projeto militar e político de unificação peninsular com capital em Braga e com o apoio, colaboração e implicação dos galaicos que o sentiam como seu. A importância dos mesmos é grande: Com eles a Gallaecia constituiu-se no primeiro Reino medieval da Europa; foram os primeiros em emitirem moeda, o Sólidus suevo; os primeiros em legislar, administrar e construir um Estado; o primeiro Reino cristão após Roma; os criadores da mal chamada “letra visigótica” já que na realidade começou a existir na Gallaecia antes da chegada dos godos; os criadores da primeira arte pré-românica com elementos como o chamado arco de ferradura que na historiografia castelhanista diz-se visigodo; os primeiros em assumirem o cristianismo católico antes do que qualquer outro povo germânico, por isso a sua aceitação pelos galaicos. Na historiografia castelhanista diz-se que foram os visigodos os primeiros em aceitarem o catolicismo...

·        Durante a unificação suevo-visigótica a Galiza manteve a sua personalidade política e administrativa, cultural, social e económica, contrariamente à ideia castelhanista dum Reino unificado visigótico com capitalidade centralista em Toledo e primeira amostra de Estado Espanhol pan-peninsular. Os Reis tinham o título de “Reis de Espanha, Galiza e a Gália” entendendo que a Galiza e a Espanha eram realidades diferentes. A Gália num princípio ocupava a actual Ocitânia para posteriormente ficar só na Septimánia ou Narbonense.

 A dia de hoje, nomear acontecimentos como estes em determinados contextos é motivo de censura, qualificando a quem defende isto como de radical ou no melhor dos casos como anti-espanhol. É por acaso mais sensato guardar os acontecimentos passados para não perturbar a “aparente acálmia” do presente?

Devemos por acaso mantermo-nos na indiferença? Ficarmos com as verdades à metade? Permitir com que os acontecimentos vitais na memória histórica do nosso povo se passem desapercebidas para uma população necessitada de conhecimentos?

Não podemos alimentar a desídia, não podemos deixar nas mãos de organizações muito afastadas de nós o património que vai ficando sem antes escavar e achar a verdade das nossas raízes. Tudo é vital, tudo é um elemento precioso, desde as histórias dos vencedores até os relatos familiares tão ricos em tradição e memória histórica. É tempo já de cada um de nós começar a reconstruir a nossa própria história pessoal e grupal e todos em conjunto a nossa história nacional, tão maltratada, tanto pelos poderosos que no-la escrevem como por nós próprios.

O importante, após reflexionarmos sobre estes pontos em questão, é sabermos até onde estamos dispostos a chegar e até onde somos capazes de permitir a ignomínia da desmemória e da autodesidentificação.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Do trísquel para acô.



Por José Inácio Regueiro Castro (José Capeloso)

A força do três caiu baixo o dualismo ocidental, do mesmo jeito que o gálata moribundo ou ferido baixo o greco-romano poder?..., mas o turcado ainda não ficou ..., morreu?

O trisquel permaneceu nas esquinas atlânticas, como a morralha batida nos recantos das praias.

A simbologia do trisquel, está no fundo do profundo do inconsciente colectivo da humanidade.

O trisquel, o fluir espiral, anda na base da física ondulatória que rege o movimento de tudo, desde o das partículas subatômicas até o das galáxias, no chamado toroide, da matemática vorticial. Simbolizada forma no imaginário comum da humanidade como o ovo cósmico.

O trisquel pode ser entendido como uma representação no plano de algo que tem volume, o toroide, a matriz.
Este ovo cósmico, de vida e morte, está construído polo enguedelhamento das serpes.

A trança começa co três, pois a trança é o trance, é o transe, o começo do movimento harmônico da hélice, o vórtex, a entrada, a saída, a porta da Sila. 

Estados alterados de consciência, meditativos ..., ajudam a emergir esta tríplice forma à superfície do pensado.

A chamada geometria sagrada também nos leva polo trisquel.

Pois o trisquel não é mais que a flor da vida em movimento, a hexapétala em ato ação.

Nas tradições indo-europeias antigas vê-se a força do três:
O sufismo, definido num esboço como a rama mística do islão, tem um símbolo chamado eneagrama, que entre outras cousas serve para o estudo das personalidades.

O eneagrama, divulgado em ocidente por Gurdjieff, nasce do três, faz parte da lei do três, que indica que em qualquer fenômeno atuam, confluem, três fontes ou forças: ativa, passiva e neutra.

Trindade que tem o seu aquele, e quebra a lei de causa e efeito,  que aqui no ocidente é tida por verdadeira. Para outras conceições do fluir do real, a existência dum terceiro fator, no cenário do evento causal, é considerada: Causas e efeitos flutuam a esmo, e no tempo-espaço ambos confluem, "semelhando" que uma é seguida polo outro, mas, doutro local, um terceiro vetor, invisível para a dualidade, conflui no acontecimento, e é presente também, e é necessário para que o facto seja feito.

Isto encontramo-lo desenvolvido também na tradição hindu onde rajas, tamas e sattwa, as três gunas, representam as qualidades da forma, forças que entrelaçadas conformam o real; simplificando-o: rajas é ação, tamas é inação e sattwa é não-ação.

O pensar dualístico, dominante sobre a trinitária conceição, conforma um modelo onde a "inexistência", por impensável, duma terceira posição marca, com um profundo suco, a interpretação da realidade.

Este dualismo rígido pode ser limitante.

No oriente há uma triada que dá muito para cavilar à ocidentalidade: apego, desapego e não-apego. Triada que dizem ser primordial caminhar para atuar com verdadeira integridade, triada talvez conhecida na celticidade e noutras culturas do antigo, onde os touros, vacas ou outros ruminantes tricornes aparecem como emblemas significativos de culto do ser guerreiro.

Um trisquel tridimensional, ou de mais dimensões, leva a um Tudo formado por três partes principais. Nós moramos e somos capazes de observar uma só região, que em certo sentido é fechada em si, existindo "limitada" entre duas das três pás do rodício giratório do trisquel, percebendo o acontecer em duas das três coordenadas, mas ...

É o trisquel um lugar de três universos, talvez um universo fractal do três.
Nas paredes das aspas do trisquel polidimensional espelham-se os aconteceres, no centro rebenta a flor da vida em cada feito. Na tela, na pantalha da parede, apenas somos capazes de ver duas terceiras partes do acontecido.

A flor da vida forma-se pola comunhão das três disposições iniciais (causa, efeito e "terceira força"), e os seus rebotes combinatórios.

Explodem as seis pétalas da flor, mas há outras três que para nós ficam fora do nosso espaço-tempo, projetadas na aspa do trisquel que não podemos enxergar.

Esta flor da vida de nove pétalas está desenhada em diversos símbolos,como no valknut viquingue onde três dos seus nove vértices ficam ocultos.

O trisquel é tão poderoso que alicerça uma cosmogonia, sustém uma interpretação da maia do real diferente do paradigma dual.

Vamos então ver uma das pedras formosas de Briteiros, que o amigo David Outeiro inteligentemente me indicou como representação desta trindade conceitual.

Há dous trisqueis, um levogiro e outro dextrogiro, e uma terceira gravura que completa e harmoniza a composição, mas que está "limpa", no canto inferior direito.

Para alguns autores, esta terceira forma ficou sem talhar por premura ou por esqueço, mas talvez foi assim deixada para indicar o terceiro lugar do paradigma trinitário, por isso é difícil desde o dual compreender e dar com a razão de tal "esquecimento" no desenho do conjunto.

As aspas que viram no sentido horário nos trisqueis projetam a energia cara nós, para quem observa, pola contra se o giro é anti-horário, tiram da energia para o interior da superfície onde estão grafados. É o trisquel, segundo a orientação, gerador ou destrutor ...

Além de vermos, na pedra formosa de Briteiros, que se sinala antiteticamente o progresso e o retrocesso, a construção e a destruição, podemos intuir que estamos diante da terceira aspa que não podemos perceber, ou que não temos possibilidade de sentir desde a herança greco-latina imperante.

Doutro jeito, aqui na pedra ordenam o rajas, o tamas e o satwa da celticidade.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Os políticos, os clássicos e o reintegracionismo.


Por José Manuel Barbosa

Após os critérios dos linguistas também queremos expor aqueles pontos de vista de quem que não querendo seguir premissas  científicas exprimem o seu pensar de pontos de vista políticos. Esses critérios passam a ser, já não linguísticos, mas ideológicos, e  para isso botamos mão em primeiro lugar das duas personagens mais significativas do ponto de vista político na Galiza do século XX:  Daniel R. Castelao e Manuel Fraga.  O primeiro por nacionalista galego, defensor do nosso idioma e do projeto nacional. Ele manifesta aberta e claramente a identificação linguística galego-portuguesa; o outro, Manuel Fraga defensor de todo o contrário,  representante do nacionalismo espanhol, falso promotor da língua e favorecedor da supremacia do castelhano na Galiza. Este último devido à sua condição contraditória de anti-galego e presidente da Galiza, manteve um posicionamento ambíguo com o fim de ocultar as suas autênticas intenções.
De Castelao temos:


“Deseo, además, que el gallego se acerque y confunda con el portugues,[...].” Textos fac-símilares nos apêndices de biografia de Castelao feita por Valentin Paz Andrade em CASTELAO NA LUZ E NA SOMBRA. Crunha. 1982. Carta endereçada a Sanchez Albornoz.

No Sempre em Galiza Castelão escreveu: 

“Pero afortunadamente a nosa língua está viva e floresce en Portugal, fálana e cultivana máis de sesenta millons de seres que hoxe por hoxe ainda viven fora  do  imperialismo español” RODRIGUEZ CASTELAO, A.D.; Sempre en Galiza. Akal Editor. Arealonga.3ªEd. Madrid. 1980, Pág 241

Temos igualmente...:
      
“O galego é un idioma estenso e útil, porque- con pequenas variantes- fálase no Brasil, en Portugal e nas colonias portuguesas.” RODRIGUEZ CASTELAO, A.D..: Sempre en Galiza. Akal Editor. Arealonga. 3ªEd.Madrid. 1980, Pág, 241.


No entanto, da autoria de Manuel Fraga, temos os seguintes textos publicados, o primeiro em Portugal para leitores portugueses, mas o segundo publicado para leitores galegos. Se repararmos no texto veremos que é o mesmo, mas com toda certeza com objetivos diferentes. A ambiguidade calculada é difícil de racionalizar se não é por causas obscuras que nos fazem pensar em princípio, numas intenções pouco claras mas do nosso ponto de  vista pouco amantes da nossa língua comum e em favor da supremacismo do castelhano. Lembremos que na sua etapa de governo a língua dos galegos chegou ao ponto de quebra da transmissão intergeracional baixando no seu uso num 30 pontos percentuais segundo dados da UNESCO:



1º Texto:

“Tui, a sua cidade e a sua terra, com a sua artéria vital, o rio Minho, são o ponto de encontro de dois povos irmãos, portugueses e galegos. É um encontro a que nos chama a pertença geográfica a um mesmo espaço fisico, a herança cultural de uma língua comum e de um património cultural multissecular, [...].” FRAGA IRIBARNE, M.: A Galiza e Portugal no marco europeu. Edita Xunta de Galicia. 1991. Pág 7
2º Texto:


“É un encontro a que nos chama a pertenza xeográfica a un mesmo espacio fisico, a herdanza cultural de linguas con raices comuns, un património cultural multisecular, [...].” FRAGA IRIBARNE, M.: Jornal do Arco Atlantico. 23 de outubro de 1992 nº 1, Pág 3


Finalmente, a terceira bateria de argumentos é referida a textos históricos nos quais os grandes vultos do galeguismo manifestam a sua opção a seguir quanto à língua.

“Si o noso é un idioma vivo que empregan 30.000.000 d’homes entre portugueses, brasileiros e galegos.”
LUGRIS FREIRE: A Nosa Terra. Nº 10, Pág 3

Ou...:


“...El señor Unamuno autor de unas páginas maravillosas sobre el paisaje gallego, sabe muchísimo mejor que yo que Galicia, tanto etnográficamente, como geográficamente y desde el aspecto lingüístico, es una prolongación de Portugal, o Portugal es una prolongación de Galicia: lo mismo me dá.” Discurso de OTERO PEDRAYO no parlamento espanhol. 18/09/31
                                                                               
O seguinte texto é igualmente interessante pronunciado por Otero Pedrayo quando ele era parlamentar galego em Madrid:
        
“Por algo nuestra lengua es la misma de Portugal.” Discurso de OTERO PEDRAYO no parlamento espanhol 24/5/33
  
Mas também temos algum texto do autor da "Teoria do nacionalismo galego" Vicente Risco e Aguero, quem nunca negou o vínculo com Portugal e as falas portuguesas. Este livro que acima citamos de Risco é um dos mais importantes do galeguismo até o ponto de podermos dizer que com a chegada de Castelao com o seu "Sempre em Galiza, a filosofia galeguista esteve sempre impregnada dum importante "risquismo" talvez nunca suficientemente considerado pelo galeguismo. Talvez porque a trajetória vital posteior do autor seja em algum ponto contraditória com a inicial mas isso nunca vai poder impedir valorizar corretamente o papel dele na conformação teórica do galeguismo do século XX.
 


“Agora, o galego e o portugués son duas formas do mesmo idioma: esto indica que nós temos un maior parentesco con Portugal que con Castela.”
RISCO VICENTE.: A Nosa Terra. nº 160, Pág 1

De António Vilar Ponte temos muitos textos. Dele podemos dizer que foi o autentico teórico do galeguismo de princípios do século XX juntamente com Risco. Com Vilar Ponte podemos ver um "lusismo" muito ciente, muito definido e muito claro:


“O galego-portugués falanno mais de 30 millóns de almas entre Europa,  Africa  e America.” VILAR PONTE A:. A Nosa Terra. nº120, 4-5, 21/05/1920 
e ...: 
                                                     
“Eu entendo  que os nazonalistas galegos temos que chegar axiña a maor unificación posíbel, sin mágoa do enxebre, entre o noso idioma e o portugués. ”VILAR PONTE A.: Pensamento e Sementeira. Pág. 257. El pueblo gallego. Vigo. Pensamento e Sementeira de Anton Vilar Ponte. Edición Galicia del Centro gallego de Buenos Aires e Instituto Argentino de Cultura Gallega, Pág. 257

Até os convencidos isolacionistas da época não podiam evitar reconhecer a evidência.

De Aurélio Ribalta:
“Ningien pode negalo: o portuges non é mais q’unha modalidáde do galego. Por desgracia a ortografia portugesa non é nada recomendabre. Como se be, a ortografia portugesa está moi lonxe de merecere os onores da adoucêón polos gallegos”.
 RIBALTA AURELIO.: A Nosa Terra. nº 93, Pág 2


No entanto devemos salientar defensores do reintegracionismo como João Vicente Viqueira que são mais claros, arriscados e inteligentes como é o caso salientável de João Vicente Biqueira grandíssimo pensador e filósofo morto prematuramente. Muitas pessoas acreditam no seu valor como inteletual e o que poderia chegar a ser se ele pudesse ter vivido durante mais anos. O infortúnio impediu que a filosofia galeguista pudesse contar com uma pessoa que poderia ter sido o sustento dum reintegracionismo real durante os primeiros anos do século XX.                   

“Si nosoutros empregamos a ortografia histórica galaico-portuguesa teremos salvado  a  dificultade  que separa as duas linguas e daremos ao galego un  caracter  mais universal, [...]. Asin introduciremos o NH pol-a Ñ, a LH pol-a LL e outras modificacións que o leitor poda adiviñar facilmente.” VIQUEIRA, JOÁM VICENTE.: A Nosa Terra. nº 43, Pág 1, 20/01/1918


Depois da exposição de textos, apresentamos a exposição das razões pelas quais o galeguismo histórico não optou por recuperar a ortografia que Viqueira chamava etimológica.
     
 A saber:

      1º.- O galego não era instrumento de comunicação oficial em Galiza,  nem portanto, matéria de ensino, por isso, para a nossa língua chegar aos galegos alfabetizados em castelhano e com pobre cultura académica e escolar, ele deveria revestir uma farda compreensível para qualquer pessoa que quiser perceber baseada no na língua oficial do Estado.
      2º.- Era, porém, objetivo do galeguismo reintegrar o galego no seu âmbito Ibero-românico ocidental “até a sua confusão com o português” em palavras de Castelão.
      3º.- O momento adequado para essa reintegração, portanto, seria aquele em que a nossa língua fosse por fim idioma oficial de uma administração autónoma galega conseguida finalmente e após muito tempo de sofrimentos e lutas, no ano 1981.

Teríamos que acrescentar que após 30 anos de autonomia política e de sucessivas políticas linguísticas fracassadas (lembremos que a nossa língua perdeu mais falantes nos anos de “autonomia” do que em todos os anos chamados “séculos obscuros”) aqui ninguém denuncia os responsáveis desta desfeita glotofágica e todo o mundo com responsabilidades públicas diz que tudo vai bem, que a língua está no melhor dos seus momentos e que não devemos impô-la porque o castelhano sofre.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uma experiência docente pró-reintegracionista



Por José Manuel Barbosa 

Nas nossas práticas docentes (*) procuramos sempre dar uma visão global da teoria do reintegracionismo, recorrendo a todos aqueles autores que pela sua autoridade científica ou moral, por ativa ou por passiva -que também os há- vêm abalizar os nossos pressupostos.
Quando damos cursos da nossa língua, começamos sempre por ensinar os pensamentos daqueles vultos da galeguistica e mesmo da anti-galeguistica -se esse nome fosse válido para aqueles que quereriam ver-nos sem língua- que podem ser clarificadores para os nossos alunos. Por isso recorremos a diversas personalidades que nos podem ser de utilidade. Começamos por duas autoridades científicas assépticas. A sua objetividade vem dada por não serem galegas nem implicadas na problemática nacionalitária na que estamos mergulhados e aliás reconhecidas internacionalmente de todos os pontos de vista. Eles são: O romeno (moldavo) Eugen Coşeriu  e o catalão Joan Coromines.
Do primeiro temos: 
          “En lo que concierne a este problema, los romanistas e hispanistas están en general de acuerdo en que el gallego es una forma particular del conjunto dialectal gallego-portugués, [...]
[...] si se separase el portugués del gallego, habría que separarlo tambien  del  brasileño.
Con todo, o sea,  a pesar de que durante siglos no ha habido contactos efectivos, el  gallego y el portugués siguen perteneciendo al mismo Continuum lingüístico. La separación puede, sin duda, establecerse en el plano de la lengua común (que para el gallego, en parte, se está todavía elaborando), pero no a nivel popular y dialectal, de suerte que, para la lingüística histórica, sigue teniendo plena vigencia la denominación compuesta “gallego-portugués” creada, según parece, por lingüístas alemanes.
Claro, que esto no significa que el gallego sea “portugués”, sino más bien lo contrario: es el portugués el que es “gallego”.  Históricamente, el portugués es el gallego de la Reconquista y es hasta hoy, en todas sus formas, la continuación de ese gallego [...].  Se trata, por tanto, del caso, bastante raro en la historia de las lenguas, de una lengua que, precisamente en la forma que se difunde y se constituye en lengua común y gran lengua de cultura, se llama con otro nombre: ya no gallego, sino portugués.
E.COSERIU.: El gallego en la historia y en la actualidad. Actas II Congresso Internacional de Língua Galego-Portuguesa na Galiza. Ed. AGAL. Crunha 1989

Por outra parte temos a Joan Coromines:

“Vaia ante todo a miña felicitazón ao autor do artigo en prol da unificazón ortográfica galego-portuguesa, publicado no número 51 de “Grial”. Felicitazón entusiasta: eis a voz da razón, eis o que eu sempre penséi.
Aos meus amigos galegos e portugueses dixen sempre o mesmo, e é precisamente o que se diz nese artigo: o principal adianto a facer na direzón da unificazón lingüística galego-portuguesa é no campo de unidade ortográfica. Dixen sempre isto aos amigos R. Piñeiro, Rodrigues Lapa, Martínez López, Costa Clavell, Xosé L. Pensado, e outros, que poden prestar testemuño. E este adianto é non só eminentemente desexável, mas libre de toda obxeción seria; non só posível mas aínda fácil se existir boa vontade, habilidade e pericia na conduzón do problema.
         Nas outras cousas o movimento de freo, de entrave, marcado polo amigo Piñeiro, paréceme moito razoável, verdadeiramente motivado, profundamente respetável e digno de simpatía.
         [...]
         Aliás, o exemplo do catalán e do basco pode e debe guiar ós galegos e portugueses no esforzo de unificazón. Os casteláns traballaron sempre no fomento das pequenas discrepanzas entre o uso literario do catalán de Valencia e de Mallorca e do catalán do Principado; entre os dialectos navarro, guipuscoano e bizcaíno do basco literario. Foron sempre os partidarios mais ou menos secretos (ou faceiros) da míngua de vitalidade desas línguas os que pretenderon ser os defensores das singularidades locáis, cando se trataba de Valencia, Mallorca ou Navarra, xamáis cando se trataba do catalán ou basco normáis! É sempre o medo da ameaza castelán o que actuóu de freo ante os movimentos de reacción contra as suicidas tendencias centrífugas no seo das línguas minoritarias.
         Son lingüista, son hispano; se, a tiduo de tal, algún consello meu (cheo de boa vontade!) pode resultar técnicamente útil para os galegos, sentiréime satisfeito. Se eu fose galego, tería escrito moito sobre todo iso; se fose portugués, non menos, e tería feito algunha cousa, tal vez eficaz, no mesmo sentido. É únicamente o feito de ser estranxeiro -inda que sexa un estranxeiro benévolo e simpatizante- que me privóu de esplicar as miñas ideas. Temo ser mirado con esplicável desconfianza, ser quizáis menos útil que contraproducente.
         Ainda con estes temores, permítome seguidamente algúns comentarios detallados das propostas expresadas en dito artigo. Espero que estes comentarios ao mesmo tempo demostrarán ao leitor galego cánto, cuán profundamente, me intereséi sempre por estes asuntos. E concretaréi, referíndome especialmente aos pontos que o autor aborda nas partes 5-a e 5-b,
a) PROBLEMAS MERAMENTE GRÁFICOS
1 e 2:  LH e NH
Participo absolutamente na opinión de que se deben adoptar resoltamente as grafías lh e nh.
         [...]
         Joan Coromines. Sobre a unificación ortográfica galego-portuguesa. Revista GRIAL. Nº53.Janeiro-Março 1976, pp.1-13.

      Seguidamente os nossos argumentos passariam a autoridades científico-filológicas galegas implicadas no processo de extensão e normalização da nossa língua.

CARVALHO CALERO: 
“O português é umha forma do galego, como o andaluz é umha forma do castelhano, e a descastelhanizaçom indispensável tem como correlato a reintegraçom necessária.
R. CARVALHO CALERO.: Da fala e da escrita. Galiza Editora. Ourense. 1983, Pág. 81

Também:

      “O galego nom nace cando renace a sua expressom escrita no século XIX.  Entom mais bem morre, porque ao admitir como supletório o castelhano e remodelar a sua forma interior com referência ao mesmo, estende acta escrita, e assinada polos intelectuais galegos, da consciência popular da fala residuária que desde os começos da idade moderna está latente no seu comportamento.  Claro que os seus cultivadores aspiram teóricamente a salvá-lo e fomentá-lo; mas debatendo-se numha evidente contradiçom, porque ingenuamente aceitam a imagem do galego que lhes fornecera a doutrina oficial”.(4).
CARVALHO CALERO, R.: Do galego e da Galiza. Sotelo Blanco Ed. Compostela. 1990, Pág 16

      E ainda:

“Nom podemos renunciar à vantagem que o mesmo castelhano desfruta na sua osmose nom só coas formas peninsulares do espanhol, mas coas próprias das terras ultramarinas colonizadas lingüísticamente.  A história do galego é paralela à do castelhano.  Este como espanhol ou hispano-americano, é falado, segundo ouvimos, por trescentos milhons de pessoas.  Aquel, como português ou galego-luso-africano-brasileiro, pola metade, cando menos daquela cifra.  O galego, pois, norma dentro de um sistema de grande difusom com o que ocupa o segundo lugar dentro das línguas románicas, nom tem por que xebrar-se do seu mundo natural, e se a história política violentou a sua natureza lingüística, estamos a tempo de rectificar”.
CARVALHO CALERO, R.: Do galego E da Galiza. Sotelo Blanco Ed. Compostela. 1990, Pág 17
        
         Veja-se nos textos expostos como Carvalho não só manifesta a unidade substancial do galego-português, mas também reconhece o desvio histórico, junto com a possibilidade de recompor a unidade das duas partes separadas por razões políticas alheias à língua  e exprime com paixão de adolescente nos seus diferentes textos, que os reintegracionistas não vão  ficar parados  perante os argumentos dos elaboracionistas ou isolacionistas que falam  da  inoportunidade do momento da  reintegração.                                      
                                                                                                                              “Nom faltam entre nós os que consideram que o isolamento do ramo setentrional do galego-português com relaçom às suas formas  de expansom  é um feito consumado  de carácter irreversível, e que estamos obrigados a assumir a história.  Se isto significa que devemos aceitar a castelhanizaçom do galego, permitamo-nos formular duas observaçons:
É a primeira que, [...] o galego, conservou polo momento o seu dispositivo estrutural suficientemente firme para que nom se poda falar ainda de consumaçom da sua absorçom polo poder lingüístico central [...].
E a segunda observaçom que nos permitimos formular é que nós nom somos fatalistas, que nom professamos o islamismo lingüístico, senom mais bem o cristianismo libero-arbitrista, e cremos, em conseqüência, que a história  a fam os homes, e que o pam que uns apedrárom, outros o podem soerguer, se nom fosse assi,  nom valeria  a  pena nengumha luita política e cultural, e deveriamos retirar-nos a praticar o imobilismo
nirvânico,  deixando que as pegas ou as cochorras figessem os seus ninhos nas nossas intonsas cabeleiras de eremitas ensimesmados.”

CARVALHO CALERO, R.: Do galego e da Galiza. Sotelo Blanco.Ed. Compostela. 1990 Pág 18

         Imediatamente recorremos agora às manifestações escritas pela oposição, isto é, pelos próprios isolacionistas que à altura dos anos  90 e 91 moderam  os  seus  posicionamentos perante a impossibilidade de negar certas evidências, já começadas a  assumir  pela sociedade:
                                                                                                                                        Francisco Fernández Rei: 

“Na actualidade, desde o punto de vista estrictamente lingüístico, às duas marxes do Miño fálase o mesmo idioma, pois os dialectos miñotos e transmontanos  son unha continuación dos falares galegos, cos que comparten trazos comuns que os diferencia dos do centro e sur de Portugal; pero no plano da lingua comun, e desde unha perspectiva sociolingüísta, hai no actual occidente peninsular duas linguas modernas, con diferencias fonéticas, morfosintácticas e léxicas, que poden non impedi-la intercompresión [...].”
F. FERNÁNDEZ REI,.: Dialectoloxía da lingua galega. Ed.Xerais-2º Ed.Vigo. 1991, Pág 17

Claro que ceder perante uma situação como a que nos ocupa e dar a razão ainda que seja só em parte é custoso, pelo que manter uma imagem de aparente segurança e aparente rigor científico faz-se necessário para evitar a perda da auto-estima e de credibilidade perante os seguidores, razão pela qual  o  autor  adversativiza  as suas mafestações com o fim de fazer ver que o que se diz no começo do parágrafo não é exactamente o que se quis dizer.
         Do ponto de vista reintegracionista, joga com o possível desconhecimento do leitor, acrescentado pela paixão dos possíveis leitores isolacionistas aos que vai dirigida a mensagem ao encher o texto argumental com confusas expressões como  o de “língua comum”(veja-se o que mais acima diz Coseriu sobre a “língua comum”) e “perspectiva sociolingüística” (e veja-se o que diz Carvalho sobre a prática do “imobilismo nirvânico”).
         Nestas alturas, o aluno a quem lhe apresentamos estes pensamentos, vai apanhando uma ideia de como está o assunto, à vez que começa a mostrar interesse ao descobrir cousas que não  se  lhe comunicaram quando ele tinha estudado galego na escola, mas que acontece quando ao aluno lhe apresentamos a realidade do pensamento dos clássicos do galeguismo posicionados em favor da reintegração linguística? Vamo-lo ver no capítulo seguinte...
      
Continuará.....

(*) não dentro do ensino oficial dependente da administração, obviamente, donde somos maltratados, perseguidos e submetidos a mobbing por sermos discrepantes a respeito da normativa RAG.
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