Por José Manuel Barbosa.
Lá pelo 17 de Novembro de 2005, aniversário do Decreto Filgueira era um dia feliz para os integrantes do novo Governo galego de coligação entre o PSOE e o BNG. E assim ficava dito nos meios de comunicação do nosso País. A razão era que a “Língua galega” passava-se a fazer parte da história das instituições europeias por ser o Presidente Touriño o “primeiro” galego em fazer-se ouvir na língua da Galiza na Câmara das Regiões do União Europeia.
Bem é certo que o nosso País contou sempre com dirigentes políticos de “grande lucidez” desde que em 1981 o Doutor Fernández Albor chegara à Presidência da Junta da Galiza. Também o “formoso” galego oral do Presidente Fernando González “Laxe” comoveu a milhares de galegos nos seus fogares desde a TVG com as suas manifestações num “pulcro” galego “próprio” da sua dignidade. E como não lembrar a energia de “Dom Manuel” –quiçá de todos o que melhor galego tenha falado nunca- o qual pus à Galiza a andar, tão rapidamente, que não nos atrevemos a assegurar que nos chegassem as extremidades, as quatro, para realizarmos o labor e a função que se nos encomendou aos galegos durante o seu governo; mas a final foi o Presidente Touriño quem levou a parte do campeão no que diz respeito da língua, fazendo ouvir música rosaliana num organismo que embora subalterno -como dizem os média que noticiam o facto-, sim por fim pertencente às instituições da Europa Comunitária.
Mas provavelmente não se tenham percebido nem os média nem o Presidente Touriño dum pequeno pormenor, e é este que se nos apresenta o Presidente Touriño como o PRIMEIRO em levar a cabo um discurso em galego na UE, cousa que se não nos falha a memória não é certo, já que houve como mínimo mais TRÊS pessoas anteriormente as quais realizaram oralmente uma função comunicativa na nossa língua nas instituições comunitárias. Bom, quiçá algo souberem, pois nos jornais, rádios e TVs galegas se chegou a afirmar que anteriormente alguém teve feito algo, e com isto nomeou-se a Camilo Nogueira Romão deputado europeu do Bloco Nacionalista Galego (BNG) entre 1999 e 2004 que fez o seu trabalho –dizem eles- em português. O qual é como dizer que não falou galego...
Do nosso ponto de vista é rotundamente certo se por Português entendemos o galego-português de Portugal na sua forma e norma padrão lusitana. Mas antes de Camilo Nogueira estivo José Domingo Posada também deputado europeu entre Julho do 2003 e Julho do 2004 numa primeira vez, e uma segunda os seis primeiros meses do ano 1999. Foi José Posada deputado pertencente á Coligação Galega (CG), posteriormente refundida no novo partido Terra Galega (TeGa) e mais tarde como Convergência Galega (CG) quem reproduzia a sua fala no seu sotaque das Rias Baixas, segundo ele próprio diz. Tal foi assim que o próprio parlamento europeu –que neste caso não é um organismo subalterno- teve num princípio pequenas dificuldades para reconhecê-lo como o que na realidade é: uma variante duma língua oficial da União Europeia, ficando esse facto claro quando o próprio Posada deu a conhecer que a sua fala galega era e é uma forma de português nortenho, cousa que o parlamento e o seu presidente também reconheceram após o informe feito por um outro deputado, Irlandês neste caso, de nome Mark Killilea.
Mas há que comentar que entre o deputado Posada e o deputado Nogueira ainda se passou por ali uma outra pessoa, Manuel Garcia, que não sendo deputado europeu mas responsável dum grupo ambientalista da Límia: M.E.L. (Movimento Ecologista da Límia), e levado ali por José Posada também falou em galego, nesta caso um galego que tanto os média como o Senhor Touriño não poderiam reconhecer como outra cousa diferente do que eles chamam galego já que a sua fala individual com formas aceites pela normativa RAG-ILG estavam totalmente presentes na sua comunicação (-ción, -ble, léxico RAG, etc...) quando apresentou um relatório ao Grupo Arco Íris -ao qual pertencia a Coligação Galega (C.G.)-, sobre a saúde ecológica da sua comarca após a concentração parcelar dos Concelhos da zona para posteriormente ser defendido pelo deputado Posada no Pleno do parlamento. A esse pleno do Grupo Arco Íris assistimos várias pessoas, entre elas eu próprio, podendo comprovar cada um dos que ali estávamos como uma vez começou a falar o nosso amigo Manuel Garcia a cabina de tradução do português traduzia imediatamente para as línguas de cada um dos deputados presentes do Grupo Arco Íris.
É de lei comentarmos que o nosso amigo Manuel Garcia nem é, nem era reintegracionista, o qual vem a confirmar um facto cujas conclusões devem ser tiradas pelo próprio leitor deste artigo, e é por tudo o que acabamos de dizer pelo que argumentamos que não foi Emílio Pérez Toriño o primeiro em falar em galego nas instituições da Europa Comunitária, nem o segundo, nem o terceiro, mas quiçá O QUARTO e com tudo isto quem menos se cingiu a normativa da RAG que tanto diz defender ele com tanta fúria e que também com tanta fúria cominam a usar os seus companheiros de partido. Na fala do presidente, mesmo a que usa pública e institucionalmente pululam formas puramente castelhanas como “ciudadano”, “personas”, “responsabilidá”, em absoluto reconhecidas como galego por ninguém, nem sequer reconhecidas como tais pelos defensores das NoMiGa (Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego).
Comentam os média que esses deputados nomeados neste artigo “usaram o português a costa do idioma próprio e do castelhano” o qual -como sabe qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de como funcionam as instituiçons europeias-, é uma manipulação da realidade, já que nessas instituições nunca se pode usar um único idioma, mas vários. Consta-nos que tanto o Deputado Posada como o Deputado Nogueira usaram como mínimo espanhol e inglês no exercício do seu labor parlamentar como é o normal na Câmara Parlamentar europeia, do mesmo jeito do que um deputado italiano, um letom ou um dinamarquês usam para além das suas línguas o francês, o alemám, o português, e outras.
Dentro duns dias, a Deputada do BNG Ana Miranda vai ser a que tenha a voz da Galiza no Parlamento Europeu seguindo os passos dos Deputados Posada e Nogueira. Gostaríamos que fosse com a ideia de reconhecer e usar a língua dos galegos como um galego-português oficial nas instituições continentais. Digo isto porque tenho a ideia de que a Ana Miranda gosta do galego internacional pois assim no-lo disse ela própria em dezembro de 2008, data na que apresentamos o Atlas Histórico da Galiza em Bruxelas, num ato ao qual ela assistiu na livraria Orfeu do nosso amigo Joaquim Pinto. Evidentemente isso sem prejuízo de que use outras línguas comunitárias, como é obrigado nestes casos –e não por imperativo legal, mas por necessidade- nas instituições da União.
Curioso é também, como o nacionalismo pan-iberista de signo castelhano comunica falsas verdades ao público que segundo a legalidade tem direito à informação veraz. E é curioso porque qualquer País que se diga democrático aceita e admite certas cousas que o historicamente autoritário Reino no que estamos inseridos não é capaz de reconhecer. E isso porquê? Pois a resposta é bem fácil: Porque o Reino é nacionalitariamente fraco e necessita narcotizar o público para cumprir com o seu projeto de assimilação, fracassa no seu labor democratizador duma sociedade pouco afeita à liberdade. O respeito, a liberdade real, a tolerância, e a democracia são só um privilégio das nações e dos Estados fortes que não temem a nada nem tem nada que temer.