Tomei a moléstia de recompor o guião dum Telejornal da TVG o dia 30 de dezembro de 2014 para ver qual é a
mensagem dos média galegos dependentes da Junta da Galiza e deu o
seguinte:
- A Siriza preparada para as eleições à
presidência. (Manifestações de personagens do Pepé espanhol
comparando com Podemos e o perigo que suporia que houvesse uma
ruptura na Europa. Não houve opiniões de partidos galegos)
-Imagens e informações sobre o acidente do avião
que caiu em Malaysia.
-Imagens e informações sobre o naufrágio do
barco italiano no Adriático.
-Abertura da Auto-estrada Crunha-Irun. (Um
grande mérito do governo. Rajoi chupando câmara com manifestações
de recuperação da crise)
-Informações sobre Venezuela. (Maduro falando e
opiniões críticas de políticos vinculados ao poder em Espanha)
- Baixam os Preços em Espanha (Grande sucesso do governo).
-Problemas de duas empresas galegas (Fecham... Que lhe vamos fazer!).
-Tribunal Constitucional abaliza fusão das
caixas galegas. (O recurso foi posto pelo Presidente Feijó e foi um
mérito do governo galego. As caixas galegas já não existem
como tais. Não parece que se vão recompor).
-Informação sobre o chamado "Céntimo
Sanitário" nos combustíveis para ajudar na sanidade. (Foi
reconhecido como ilegal pelos tribunais e vai ser o Estado quem tome
a responsabilidade. O lucro a conta deste imposto sobre os combustíveis era grande. As autoridades competentes vigentes são as responsáveis da consideração como ilegal deste imposto.... e claro, é luta contra a corrução. Quem se lucrou? Não sabemos)
-Alfonso Rueda, vice-presidente da Junta de
Galiza substitui à Conselheira de Meio Rural provisoriamente por
doença desta (Há que estar a todas. Trabalhamos muito).
-Pleno da Deputação de Lugo.
-Recorde de turistas em Galiza durante o ano
2014. (Um sucesso do regime. O comentário lembrou-nos com o seu tom triunfalista, teatral e surpreendida essas
comentaristas norte-coreanas que emitem a retransmissão dum desfile
militar na honra do Brilhante Camarada. Quando morreu o Patrão também nos pareciam as pragideiras do Presidente Eterno...o seu pai)
-Translação dos restos do Apóstolo Santiago e
pedido de ajuda ao santo para erradicar a corrução da Espanha por
parte dum representante do Estado. (Rezemos. O santo já nos livrou dos mouros... agora vai-nos livrar da corrução. Por certo... haveria algo na caixa do morto?)
-Fiscal Superior de Galiza fala contra a
corrução.
-Caso NOOS que implica ao genro do Rei Juan
Carlos e a sua filha. Rebaixa na multa (A lei é para todos...).
-As condena por corrução contra o
ex-presidente do Barça permitem que saia do cárcere no Natal para
estar com a família. (Outros não voltam à casa pelo Natal... Esses serão os de sempre)
-Problemas com um ERE (Redução de pessoal duma
empresa) em Andaluzia.
-Climatologia adversa e muito frio em Galiza (Falando do tempo e da saúde).
-Empresa de Salinas andaluza destina o seu sal
para as estradas galegas com o fim de produzir descongelação das
mesmas e evitar acidentes (... o que eu diga: O tempo e a saúde).
-Clima produz problemas de saúde na Galiza (Já o venho dizendo: o tempo e a saúde).
-Um homem mata à sua mulher em Venuezuela para
cobrar um subsídio. Detido o assassino pelas forças da ordem (Cumprindo com o dever quando se pode).
-Sequestro fingido que provoca detenções. Bom
trabalho das forças do ordem (Cumprindo com o dever.....).
-Raparigas adolescentes provocam o suicídio
duma companheira por acosso escolar (De injustiças também se fala na TV).
-Fabricação de moedas falsas. As forças da
ordem fazem o seu trabalho muito bem feito. (Bem feito)
-Desarticulado um grupo narco em Ourense. Bom
trabalho das forças da ordem. (Pois isso. Bem feito)
-Cultura:
Organização da obra de Teatro Musical "Los Miserables" de Vitor Hugo. (Victor Hugo falava castelhano)
A TVG emite uma série sobre o roubo do "Códice
Calistino". Entrevistas aos protagonistas reais, responsáveis
da Catedral e do trabalho policial (Há que deixar tranquilos aos espectadores. Tudo é normalidade e tudo acaba bem)
A FUNDEU (Fundación del Español Urgente) nomeia palavra do ano "Selfi" (se E final) adaptando-a ao castelhano (Cumprindo com a função do governo e da TV galegas na sua promoção do castelhano).
Livro do Jornalista de La Voz Fernándo Ónega
sobre o Rei Juan Carlos dando a conhecer o seu pensamento sobre os
episódios dos últimos anos que o levaram à abdicação (Que a gente não pense que somos uns irresponsáveis)
-O Tempo (...e a saúde. Já o disse)
-Desportos (Isso sim, mais de 20 minutos... que a gente tem direito à informação por mandato constitucional que isto é uma democracia!!)
Pelo demais, de vida parlamentar galega, da opinião dos partidos galegos, do posicionamento dos partidos galegos sobre este ou aquele outro tema, de debates parlamentares, de atividade interna dos partidos, de espectativas nas próximas eleições, sobre temas conflituosos galegos onde não há acordos, das críticas às ações do presidente ou do governo galegos, de novas leis galegas que saiam do parlamento galego,... sobre essas cousas, nós não nos metemos porque o lema da TV galega é "Fazemos como Franco, como Aznar e Feijó que não se metiam nunca em política". Pelo demais? A economia vai bem, a crise já não existe, é Natal.... ups! desculpem... Nadal!!! e como dizia aquele paisano de Lobeira que não sabia falar castelhano do que nos falava o nosso amigo Medela: "Nós falamos castelhano, que é o nosso".
Falam de que a língua perde falantes e está ao borde do desastre. Dizem os responsáveis que eles não são responsáveis porque a culpa não é deles, é das famílias.... Responsabilizar ao povo da política linguística? Tenho visto as famílias aguardar na porta do médico da Segurança Social (hoje Insegurança...) com nenos nos colos; tenho visto famílias aguardando pelos seus filhos nas portas dos colégios; tenho visto famílias de muitas maneiras mas nunca vi famílias na porta da Conselharia de Cultura, Educação e Ordenação Universitária aguardando para assinar ações políticas na seçao da Secretaria Geral de Política Linguística...
Desenho de Siro
Será que o facto de existir uma Secretaria com tal nome que não tenha culpa da deriva da língua é possível? Será que o facto de as famílias não terem conhecimento do valor duma língua, da sua língua é responsabilidade delas ou é da Conselharia de Cultura, Educação e Ordenação Universitária na sua seção da Secretaria Geral de Política Linguística? Será que não conhece a Conselharia essa lei que diz o que há que fazer com a língua? Será que não sabe o que fazer com ela? Será que não se importa? É possível não se importar? É possível a ignorância? É possível o que acontece... Será possível que quando eu não cumpro uma lei posso andar pela rua com total tranquilidade e ainda ser saudado pela gente e ter toda a honorabilidade? Como é que se chama quem não cumpre a lei? Como se chama a figura legal que define e determina ao governante que não cumpre um mandado legal?
Desenho do humorista ourensano Xosé Lois "O Carraboujo"
Será
que quando não se cumpre a lei cabe denuncia? Ou não há denuncia para
estas cousas? Se não cabe denuncia... que lei é essa que pode não ser
cumprida? Se é uma lei que pode não ser cumprida... que fez o
nacionalismo durante mais de 30 anos seguindo uma lei que pode não ser
aplicada se for a vontade dum governo? É que existe a possibilidade de
que haja governos que possam não cumprir uma lei? Mas se pode ser
denunciável... a que aguardamos? Se estamos a aguardar ao final do processo... será que quem não denuncia é também responsável? É desejável essa legalidade linguística? É preferível outra legalidade ou é preferível a alegalidade?
Polémica surgida porque uma família de Barcelona não aceitou um trabalho em Vigo (cidade onde mais se fala castelhano na Galiza junto com a Crunha). A razão foi que o grupo supremacista castelhanófono "Galicia Bilingue" informou a essa família que em Vigo estava proibido o castelhano no ensino.
Por outra parte, que faz um indivíduo presidente da RAG que não está do lado dos defensores da língua? Que academia é essa?
É possível que um indivíduo, presidente dum País (aqui dito Comunidade
Autónoma) não defenda o seu País nem a língua do seu País? Cabe essa
possibilidade? É responsável essa pessoa ou é irresponsável como por lei são os reis da Espanha? Que é isso? Quem é esse? Que País tem credibilidade quando um
responsável político não é responsável legal perante os seus cidadãos e
os seus votantes? Pode-se suster isso? Que possibilidade existe de o
botar fora? Com votos? Votos sequestrados no País onde até os mortos votam? Como é que até os bisnetos de galegos no estrangeiro, que não conhecem Galiza nem se lembram dela, nem se consideram já galegos,
podam votar sem saber nada dela? Como é que esses descendentes de galegos que já não são galegos votem tão maioritariamente o Partido dos que não têm culpa de nada? Que galegos temos que votam a quem não
usa a sua responsabilidade para governar, defender o seu País nem os interesses do
conjunto da sociedade que os vota? Como é possível que um Partido que não é responsavel de nada apesar de ter responsabilidade de governo, governe com maioria absoluta com um 76% de galegos que não os votaram?
(Ir)Responsáveis da política linguística da Galiza. Vazquez Abad, Conselheiro de Cultura e Alonso Montero, Presidente da RAG (Real Academia Galega)
Que direitos tem o povo
consciente de obrigar a cumprir com o País, com a língua, com os
interesses do País, com a sociedade que o vota e que não o vota...? Que País é este que se deixa extinguir sem mexer um dedo? Que é isto? Uma brincadeira?
Por causa do Facebook fui ler o artigo que José Luís Barreiro publica em 15 de dezembro de 2014 e contradizendo-me a mim próprio até reproduzo
aqui o nefasto texto que publica essa nefasto jornal que é La Coz.
Contendo o rechaço
que me produz esse jornal em geral e esse «tertuliano» em particular,
fui ler, e não me surpreendeu: como sempre, pura verborreia jornalística.
Falo do conteúdo, porque na forma, o primeiro que deve chamar a atenção é
que esta malta sempre fala do galego... em castelhano . Ou em
pretenso castelhano («vos tienen sus eivas...»).
Desenho do Carraboujo
Primeiramente
cumpre lembrar a sua responsabilidade como exterminador linguístico nos
governos pepeiros de Fernández Albor, onde para além de «normalizador» foi o
máximo responsável da RTVG (esse maravilhoso modelo linguístico que
resulta extraterrestre para os galego-falantes e aquela dublagem com
pessoal não galego-falante), antes disso o seu papel apelando aos tribunais contra o
Estatuto de Autonomia para que nele o castelhano fosse de obrigado
conhecimento e com o galego só houvesse «direito de usá-lo», o tratamento no ensino
como língua estrangeira em vez de como língua veicular, etc, etc. Também
cumpre lembrar que o «persoeiro» é um desses bandulhos cheios colocados
na Universidade de Santiago de Compostela, na Menéndez Pelayo, no
CICETGA, na EGAP, etc. Muita gente não conhecerá que foi misteriosamente
absolvido depois de graves delitos de prevaricação, etc, etc.
O indivíduo, junto com Blanco Valdés é um dos principais adaís do
Fernandez Latorre -lógico que este ano fosse premiado com o seu
galardão- que se dedica a predicar «la Galicia según La Voz», esse
modelo nacional-católico de «región».
Mas que o gajo seja quem é,
não supõe qualquer impedimento para isso. Contudo eu faço uma
leitura crítica do seu artigo em base ao seu conteúdo, não a quem for o
seu autor.
Em primeiro lugar, é o discurso de "Galicia Bilingue" de
«las lenguas mueren, el gallego es una lengua muerta y ya está», «El
gallego es de paletos o nacionalistas», «se muere por ciencia infusa, no
hay responsables», etc.
Em segundo lugar, os argumentos são muito pobres e miseráveis, e aqui vão os contra-argumentos:
1º) Na Galiza, como em quase toda parte, o modelo de língua culto é
imposto pelo poder. Esse poder define a língua da administração, a
língua do ensino, a língua dos meios de comunicação públicos, a língua
das etiquetas dos produtos, etc. E desse poder, a poder de subvenção,
dependem uma série de instituições (Real Academia Gallega, Instituto da
Língua Galega, Consello da Cultura Galega, Instituto Padre Sarmiento,
etc) e as três universidades, para além de uma extensa rede clientelar de
meios de comunicação (subvenções «al gallego» para La Coz», editoriais,
audiovisual,.... etc), quer dizer, o «sistema cultural galego». E em tudo
isto foi imposto um sistema de «BILINGUISMO HARMÓNICO» e um modelo de
língua «REGIONAL, MENORIZADA E MINORITÁRIA» com uma ORTOGRAFIA
ISOLACIONISTA e um modelo linguístico de CRIOULO CASTRAPO no léxico,
morfológico, sintáctico, etc. E agora resulta que esse poder não tem
responsabilidade?
2º) O poder está nas mãos do NACIONALISMO ESPANHOL
e ESPANHOLIZADOR, cujo projeto político visa construir uma nação
(ainda) inexistente denominada Espanha, e como qualquer projeto político
nacionalista utiliza a língua com fins políticos, concretamente para
uniformizar culturalmente o âmbito que eles consideram nação. Por um
lado há a necessidade de impor as «super-estruturas culturais» da
pretensa nação, dentro delas a língua, e por outro, a necessidade de
eliminar as das nações existentes sobre as que se sobrepõe. Para o
primeiro, os mecanismos são evidentes, não precisamos comentar, para o
segundo, sob um hipócrita «eco-linguismo» e «co-oficialidade»
(assimétrica), na Galiza está-se a aplicar o modelo BLAVERO que tão bem
lhes funciona no País Valencià e que deriva do modelo BABLERIZADOR que
tão bem lhes funcionou em Astúrias e Leão. Combinam o isolacionismo
(divide et impera), a hibridação (crioulização), e outras cousas das
quais falarei mais adiante. Trata-se de, no puramente linguístico,
separar uma comunidade de falantes do seu espaço linguístico com o
conseguinte enfraquecimento na concorrência de línguas num mesmo espaço,
para posteriormente fazer-lhe perder o status de língua transformando-a primeiro
em crioulo (mistura de duas línguas) e finalmente dialeto da língua
dominante que assimila a língua «menor». Isto é desde o puramente
linguístico, sem entrarmos no sócio-linguístico o qual se faz dominando as
instituições e os linguistas que definem e estabelecem a própria língua.
3º) No sócio-linguístico, todas as línguas têm diglóssia (ou melhor
dito, «poliglóssia»), ou seja, dentro duma mesma língua há diversos
registos linguísticos que são utilizados em diferentes âmbitos. Há a
língua culta (técnica, administrativa, académica, jornalística,...), há a
língua coloquial, há a língua vulgar... etc. No modelo
sócio-linguístico
imposto na Galiza, define-se o galego para os usos coloquiais e
vulgares (família, amigos, etc) e o castelhano para os usos cultos. O
registo culto estabelecido pelo isolacionismo não é tal, e essa
neo-língua carece dele. Pode parecer uma exageração, mas só há que
tentar
escrever um trabalho académico sobre química para comprovar que é
inservível. Vejamos algum exemplo: OXI- é um prefixo que indica
«oxidação» e OSI- indica
«açúcar». Chamar ao oxigénio «OSÍXENO» significa dizer que tal
elemento é «açúcar estrangeiro». Em arquitetura não é o mesmo uma
VENTANA do que uma JANELA, etc... O modelo «neo-línguístico» elegido
para o
galego não é casual. Conheço advogados galeguistas a morte que utilizam
no julgado o castelhano para não dizer as asneiras que implica a
linguagem jurídica «made in RAG».
4º) No sócio-político, não toda a
culpa é do nacionalismo espanhol, o auto-denominado «nacionalismo
galego», esse rebanho de autonomistas com o pinheirismo inserido até a medula, incapaz e sem ideias que só age por mimetismo, até imita ao
nacionalismo espanhol, e para ele a língua, antes do que FACTO CULTURAL é
FACTO POLÍTICO-IDENTITÁRIO, e antes do que INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO é
INSTRUMENTO POLÍTICO. Ao igual que o nacionalismo espanhol se auto-proclama possuidor da língua (possuidor sem o poder de possuir,
ainda não repararam...) e dono exclusivo e quinta-essência da língua. A
língua tanto é do BNG como do PP, tanto é do de esquerdas como do de
direitas, tanto é do pobre como do rico, do proletário como do patrão.
Mas eles não repararam nisso, e ainda hoje proclamam «a língua
proletária do meu povo». Claro, o resultado é nefasto, porque a língua
deixa de ser cultura para ser marca ideológica, ou marca de grupo (rural
vs urbano, trabalhador vs burguês, etc).
5º) A obsessão da
utilização política do nacionalismo galego também os leva ao «uma
língua, uma nação», burrada escandalosa. Nessa apropriação da língua não
compreendem que a língua das galegas é das galegas, mas não só, também
das portuguesas, brasileiras, etc. Por isso penetrou tão bem o
isolacionismo, promovido desde o espanholismo para dividir e debilitar,
exaltado ainda com mais ímpeto pelo galeguismo com fins ideológicos de
«marca de nação».
Bem, o tema é complexo e extenso, haveria que
falar dos temas «clássicos» tais como o prestígio social associada uma
língua à boa posição e outra à miséria, uma culto e outra ao vulgar,
uma ao urbano e outro ao rural,.... e toda a complexidade que deriva
delas, mas quase tudo isso se pode reduzir a um problema da inexistência
da diglóssia natural (tudo isso associado ao uso dos diferentes registos) porque o que existe é a diglóssia do conflito (uso de
diferentes línguas segundo a situação). E haveria que falar de outras
muitas cousas, mas não é a minha intenção escrever uma tese doutoral
aqui.
O Barreiro escapa à problemática, e reduz tudo a «naturalizar»
a situação de diglóssia do conflito, onde os usos são ganhos para uma
das línguas e perdidos para a outra, fazendo ver normal que isso que é
consequência irremediável da situação é «normal» devido a que temos uma
sociedade cada vez mais urbana (=castelhano), cada vez mais rica
(=castelhano), cada vez mais culta (=castelhano), etc. E seguindo no
projeto exterminador do nacionalismo castelhano, o galego só deve
existir por valor afetivo / identitário, não por questões funcionais e
culturais, que são as que verdadeiramente fazem ter sentido a uma
língua.
Eles jogam a ganhar, o «galeguismo» aceita o seu discurso e joga a perder. Os resultados estão bem à vista!
Comemoramos este ano o 200 aniversário do fim da francesada em Galiza e a expulsao dos exércitos napoleónicos do País. Com isto queremos lembrar os sofrimentos do povo galego e o seu comportamento como um autêntico reino soberano naquelas datas de há dous séculos. Para celebrar este evento recuperamos a Palestra do Doutor e Académico da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) Ernesto Vasques Souza em 14 de março de 2009 com motivo das II Jornadas de História da Galiza organizadas pela AGAL em Ourense entre o 6 e o 21 de março de 2009 nas que fizemos parte da organização. A interessante palestra diz-nos claramente como foi a resistência popular perante os franceses, como é que foi a organização em ausência do monarca fugido, com uma Junta do Reino da Galiza com plenas competências políticas, económicas, diplomáticas e militares recuperando de facto a sua soberania e a sua independência organizativa. Narra o nosso companheiro e professor crunhês as vitórias e a eficácia da Junta do Reino, as Campanhas exteriores fora da Galiza do exército galego para, finalmente, com a chegada do Bourbon ceder a sua Soberania para sempre. O (des)agradecimento do rei. pouco tempo depois da sua chegada à Galiza foi apagando a condição de Reino que tinha o País depois de quinze séculos exercendo-o como tal desde aquele 410 em que o Rei Hermerico se convertia em primeiro Rei da Galiza mesmo ainda existindo o Império Romano. Assistamos à palestra.
Título:
De mouchos avisados e podengos corredores: A
Francesada (1809-1814). Notas sobre a organização política e militar dos galegos na Guerra
contra os franceses (1809-1814). Resistência popular. Organização,
independência e eficiência da Junta do Reino. Vitórias na Galiza.
Campanhas exteriores. A cessão da Soberania.
Todas as conferências decorrerão no edifício Politécnico do Câmpus de Ourense. O horário será às 18:30, excetuando a do dia 14 que será às 10:00.
Dia 9 André Pena: "A Galiza: O berço dos celtas atlânticos"
Dia 10 Paula Sanchez: "Recolonizações do oeste europeu desde o Norte da Península Ibérica: Genes e migrações"
Dia 11 Marcial Tenreiro: "Repensando a romanização: indigenismo e romanidade"
Dia 12 Anselmo L. Carreira: "A Galiza alto-medieval (1230-1485). Os irmadinhos"
Dia 13 Francisco Carballo: "A Galiza moderna: fidalguia, proto-indústria"
Dia 14 Ernesto V. Sousa: "De mouchos avisados e podengos corredores: A Francesada (1809-1814)"
Dia 16 J.M. Barbosa: "Dous momentos da pré-história da língua"
Dia 17 Camilo Nogueira: "Uma nação no mundo"
Haverá ainda outras atividades não computáveis para a obtenção do diploma.
Todas elas vão decorrer no Centro Social A Esmorga. A entrada aos conta-contos e aos concertos será de 4 euros. O resto das atividades são de graça.
Conta-contos
Dia 6 às 22h30 Celso F. Sanmartín
Dia 7 às 22h30 Carlos Blanco
Recital de poesia
Dia 20 às 22h30 Poetas Vivos
Música
Dia 14 às 22h30 Os Tres Trebóns (Xurxo Souto)
Dia 21 às 23h Duo Fdz. Quintá
Concurso tipo Trivial
Dia 13 às 21h30 Planeta NH
Equipas
de 4 pessoas. Para se inscrever historiaourense[@]gmail.com Este
endereço de e-mail está protegido de spam bots, pelo que necessita do
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Lançamento
Dia 7 às 12h no Ateneu Atlas de História da Galiza, de J.M. Barbosa e J.M. Ribeira.
As origens das línguas com as que temos uma relação parental estão neste esquema que acrescentamos. Acreditamos na crioulidade da nossa língua originada no canto norte-ocidental da Península Ibérica. Ela foi produto duma mescla entre o Galaico-Lusitano originário (em palavras do linguísta Ulrich Smoll) de identidade céltica ou proto-céltica com o latim importado pelos romanos. A criação da língua à moda dos crioulos de base portuguesa da Ásia ou da África faz com que nem sejamos tão latinos como se nos identifica, nem deixemos de ser linguisticamente celtas. Ambos os ingredientes fizeram esta língua, em origem galego mas conhecida a dia de hoje no mundo com o nome internacional de "português". As achegas posteriores vieram quando já estava formada acrescentando e enriquecendo o idioma.
Sabido é que o mês de novembro é o mês no que os galegos celebramos o Magusto. Desta vez tivemos a oportunidade de recriar como poderia ser uma celebração desta festividade num passado mais ou menos longínquo e tentamos fazer. Com certeza que há de haver alguma falta ou algum erro mas esses vamos procurar ir limando isso pouco a pouco segundo vamos organizando mais. Queremos deixar com isto muito claro que tudo o que em Pitões fizemos nada tem a ver com qualquer ritual religioso legalmente constituído. Nem somos sacerdotes de nenhuma religião nem queremos sê-lo. Tentamos simplesmente reconstruir seguindo critérios de investigação mas nunca levarmos a cabo atos prescriptivos nem preceptivos.
Contamos-vos: A organização levou-nos semanas... mesmo meses e com a ajuda dos nossos amigos de Pitões e do grupo reconstrucionista Oinaikos Brakaroi onde os nossos também amigos Francisco Boluda e o Xavier Bobillo foram fundamentais no arranjo do evento. O primeiro que fizemos foi reunir à gente no Salão de Atos da Junta de Freguesia para dar-lhes um explicação do que é e significa o Magusto para nós, galegos e portugueses. Com um simples PDF demos uma visão do que para nós é a festa que nos outros países celtas recebe o nome de Samhain na Irlanda, Samhuinn, na Escócia, Hop tu Naa na Ilha de Man, Calan Gaeaf no Gales, Kalan Gwav na Cornualha, e Kalan Goañv na Bretanha) e os vínculos existentes entre todas as variantes atlânticas da festividade.
O positivo do assunto foi que mesmo a gente da aldeia quis recuperar nomes perdidos há milénios sentindo a chamada dos ancestrais e dum passado remoto que vive ainda no nosso subconsciente coletivo.
Acabados de explicar sobre o assunto e torcendo pela denominação de
Magusto em vez de pelo nome incorreto mas muito popularizado na Galiza
por causa do sistema de ensino "Samaín" procedemos a oferecer ao todos
os participantes uma lista de nomes galaicos recolhidos nas aras achadas
em época galaico-romana onde aparecem nomes de pessoas, tanto de género
masculino como feminino, nomes como: Nicer, Klutamo, Kaitia, Maturo,
Loucia, Atlos, Katueno Fronto, Avia, Boutio, Kaila, Klutamo, Ammia,
etc... (comentar-vos que de agora em adiante eu sou Katuro).
Finalizamos o batizado por volta das 14:00 horas que foi quando na
Taberna Terra Celta da Margarida e o Bruno pudemos desfrutar dum jantar
(segundo a moda transmontana e galega mas pequeno almoço segundo o
padrão) onde não faltou o presunto barrosão, os cogumelos, queijinho,
alheira, caldo transmontano e picadinho de carne de vitela. Os
participantes pudemos desfrutar das conversas e das não mesmos
engraçadas tormentas de ideias próprias destes casos que nos levaram a
acrescentar atividades para enriquecer e melhorar o evento.De tarde já e
preparados os elementos com os que íamos trabalhar vimos aparecer o
espetacular Sol de palha e cana que íamos queimar queimar essa noite.
O simbolismo é a queima do Velho Sol, quer dizer, do ano velho. Ao lado dous crânios de vacas barrosãs que simbolizavam a prosperidade duma sociedade que vive entre outras cousas da ganadaria. Fizemos colares com castanhas e landras (bolotas) e fitas vermelhas para identificar no tempo o primeiro Magusto Celta de Pitões.
Uma vez chegada a noite desfilamos pela aldeia com o estandarte solar e os crânios de vaca pedindo "longa vida aos nossos mortos" e pedindo prosperidade futura.
Chegados ao Largo do Eiró e já com o lume acesso chantamos o estandarte solar no meio da praça e preparamos a churrascada com febras, pão do Barroso, vinho, jeropiga e doces feitos pela nossa amiga Marta Delgado. A música do grupo de gaiteiros fez que a gente bailasse ao redor do Sol Velho ainda com algo de chuva sobre as nossas cabeças. Tivemos o temor de que a palha ficasse húmida impedindo que o Sol pudesse ser queimado. Foi por volta da meia-noite quando queimamos o Sol Velho (o Ano Velho). Ardeu dificilmente por causa da chuva mas ardeu. Posteriormente pudemos desfrutar do Celti-Rock de Pitões, com música de grupos de música celta.Contamos com o seguimento informativo da TV Barroso quem por meio do
nosso caro João Xavier e da sua equipa teremos informação pontual para
toda a região. Igualmente e por obra e graça da net também vamos poder
estar informados em qualquer outro lugar do mundo,... evidentemente,
também na Galiza onde com total probabilidade vamos estamos atentos já
que este tipo de
festividades têm por finalidade recuperar na medida do possível
aquelas tradições galego-portuguesas que nos vinculam à natureza, ao
nosso passado histórico comum e nos unem mais uma vez neste nos
so espírito
céltico e atlântico ao qual nunca deixamos de pertencer por direito.
O resultado final foi ótimo mas serviu também para que outros anos possamos adequar ritualmente e temporariamente o nosso evento com intuito de perdurar no tempo.
12:00-13:00: Batismo celto-galaico. Recuperação de
nomes celto-galaicos e entrega de fitas da sorte (uma fita anual com
cores diferentes). 13:00: Almoço livre. 16:00: Concentração no Largo do Eiró para assistir ao pregão do Magusto. 16:30: Desfile pela aldeia trajados com mandis e capas de burel. 17:00: Despedida do verão. 18:00: Magusto convívio no Largo do Eiró com animação dos gaiteiros de Pitões.
Ricardo Carvalhal foi um dos mais ativos redatores do semanário A
Nossa Terra desde a sua fundação em 1916 e até 1918. Começou escrevendo peças
de opinião e a partir do número sete publicou também os seus "Contos do Pobo". Textos que pela sua qualidade literária e imaginação bem merecem atenção e resgate do esquecimento histórico.
"De min pra vós" foi o título da seção onde
apareceram os contos de Carvalhal desde o ano 1917.
Para além deste volume póstumo, o autor publicou um único livro em 1919 titulado "O secreto acobillado", editado na Crunha
pelo jornal "El Noroeste" no
suplemento "Terra a Nosa!"
A dia de hoje decidimos publicar este texto do autor que nos ocupa tirado da ediçao do Jornal A Nossa Terra de 10 de Maio de 1917. As suas palavras são fortes em alguns momentos, de tal forma que a dia de hoje alguns parágrafos seriam politicamente incorretos de muitos pontos de vista mas decidimos publicar porque vimos uma ideia básica que ainda hoje está na atualidade como é a de dividir os galegos em quatro classes de pessoas segundo a sua visão e atitude a respeito da Galiza: os parvistas, os centralistas, os libertistas e os nacionalistas são os tipos que ainda hoje podemos distinguir no nosso País. Talvez esses quatro grupos evoluíram e acabaram refinando-se de tal forma que hoje parecem mais "normais" mas independentemente da sua denominação e atitude social e política continuam a existir. Rogamos obviem os conceitos patriarcais e machistas que ele manifesta e mais algum outro a ver com termos como "raça" e cousas parecidas por outra parte bastante comuns na época que lhe tocou viver e portanto fruto da sua educação decimonónica. Esqueçam as diferença temporais (todo o mundo criticou aos seus pais ou avôs por estarem ultrapassados e fora da moda) e extraiam o fundamental da mensagem porque é de tremenda atualidade. O texto originariamente estava escrito com uma grafia e uma morfossintaxe própria da Galiza dos começos do século XX, afastada da sua origem galego-portuguesa e próxima ao castelhano, língua oficial da Galiza na altura, cuja norma conheciam aqueles autores galegos por estarem alfabetizados nela ainda que os seus usos habituais fossem no seu português galego nativo. Nós, transliteramos o artigo àquilo que os lusófonos de hoje percebemos como a nossa ortografia e à nossa morfossintaxe, históricas e próprias. Se conservarmos o original, o artigo viraria de dificultosa leitura e compreensão para quase 300.000.000 de pessoas em todo o mundo. Deste jeito, sem deixar de ser galego nem perder o seu sabor natural e espontâneo pode chegar a todo um mundo que fala a mesma língua do que nós, galegos.
Desde que o regionalismo
tomou cartas de natureza na Nossa Terra, surgiram quatro jeitos de
regionalistas: parvistas, centralistas, libertistas e nacionalistas.
Se não os conheceis, vamos vo-los apresentar:
Parvistas:
São a força maior, mas
a sua força é passiva, dormida, morta, inútil para o bem e para ao
mal. Força que constitui a nossa juventude falta de fé e de crença,
pela que se passa a vida, insensivelmente, como se passa pelas penas
baixas da costa a rompente do mar.
Se lerem, não o fazem
por apreenderem, pois estão faltos de senso comum para isso; lêem
os filósofos para depois nomeando-os na conversa ou nos escritos,
adquirirem uma miúda camada de verniz de falsa cultura.
São os eternos escravos
do “diz bem”. Se algum dos pro-homens a quem olham de joelhos
-não porque defenda o ideal X ou Y mas por ser um chefe ou um
caudilho- o viram comendo canhotos -que alguns comem às ocultas-
pela rua, tende por certo que os labregos achariam uma funda riqueza
na venda do que agora queimam por não servir para outra cousa. Têm
o mundo por um gigantesco cenário onde há que brilhar e ter luz,
ainda que este seja como a dos fogos-fátuos que sendo luz não
alumia e sendo fogo não aquece.
Para eles pertencerem a
um grupo de idealistas, precisam ver na longínqua um cargo de brilho
ou um emprego de estronício. Os ideais em que não há próximos
frutos onde o labor é anónimo e faz falta fé e constância sem ter
em prémio nem uma só e triste gabança, não serve para eles. São
por ser, não são porque o são.
Centralistas:
Os verdadeiros
regionalistas de folclore. Não são ativos nem passivos: não são
nada. Gabam em castelhano a formosura do nosso idioma e a doçura dos
nossos cantos porque o ouviram dizer, não porque o sintam nem o
compreendam. Nasceram aqui, como puderam nascer no Egito, na China ou
no Congo, pois esta classe de homens sem vontade, são fenómenos com
os que a sabia natureza quebra o conjunto viril duma raça.
Para eles não há outro
ideal do que as cousas feitas. Acharam feito o centralismo e
centralistas são. Se nasceram escravos, seguiriam-no sendo, não como a mansedume do boi que guiado por cativo rapaz é que o segue
aonde aquele o levar, sem se lembrar que com ...... (incompreensível no texto original) dondamente
chega-lhe, não com a força que tem, mas só com o peso do seu corpo
para desfazer-se dele com um singelo tirão da corda.
São os pobres de
espírito que vivem da esmola que lhes dão. A palavra rebeldia não a têm no seu dicionário. Onde os põem... ficam.
Eles vão chegar às filas do
nacionalismo quando o nacionalismo esteja feito. São homens a dispor
de menos serviços do que os calendários da parede, pois enquanto
estes têm uma folha para cada dia, eles só dispõem em troca de uma
folha para todo o ano: a das múmias.
Libertistas:
Pássaros de conta.
Escravos ao fim, acostumados à tralha do dono e que tendo pujos para
se redimirem e serem livres, querem dar um pulo até ficarem em
libertos, para não achar de menos a influência do dono.
Pregoam um regionalismo
com certas traças nacionalistas. Regionalismo que há que conseguir
-segundo eles- sem estridências de linguagem, com nojenta humildade,
com panos quentes. Aconselham temperança por rebeldia, agarimos por
ódios e silencio por berros, como se de este jeito chegássemos a
conseguir o mais pequeno adianto para a Nossa Terra, ou como se isso
não fosse o que se veio fazendo até agora.
A Nossa Língua para eles
é letra morta. Querem a Galiza em castelhano e ao cantarem-lhe os
seus quereres, só fazem dedicar-lhe em cada agarimo uma poutada e em
cada gabança uma ultraje.
Fitam a Galiza pelo
cristal de Castela e acham-na formosa sem lhe verem a pobreza e
valente sem lhe verem humildade. Lembram-se de Castela para
esquecer-se da Lusitânia. São tão maus e desleixados filhos que
odeiam à irmã de raça para dedicar-lhe os amores à madrasta. São
suas aspirações: ajoelhando-se e arrastando-se, conseguir um anaco(Anaco2)de liberdade para chegarem a libertos.
Somo-lo nós. Os bons e
generosos que empregamos o nosso idioma numa prosa baril e ergueita
que os que não a perceberam não souberam fazer. Temos poetas e
também não choram: berram! Cabanilhas, Rodrigues Gonçales, Taibo,
Lopez Abente e mais alguns que estão connosco, falam da terra
assovalhada para pedirem justiça e das injúrias para pedir
vingança. São poetas nacionalistas dos que não choram nem se laiam
como fêmeas. Seguem a escola de Curros e Pondal, os visionistas, os
que mantiveram aceso através duma época de poetas chorões e de
homens castrados, o agarimo à pátria.
Temos fé na luta e
esperança no porvir da Nação galega. Somos os rebeldes, os que
ignoramos a humildade, os que empregamos estridências de linguagem,
os que predicamos ódios para recolhermos tempestades e que elas caiam
sobre os culpados do nosso assovalhamento. Somos os guardadores da
tradição da nossa raça, o pequeno feixe de enxebres (significados 7, 13 e 14) que hão de
dar exemplo às consciências dormidas dos nossos irmãos. Os que
achamos que o sacrificar-nos pela pátria é um dever e lutar pela
liberdade é um direito. Ou galegos ou nada!!
Há na história da lexicografia portuguesa uma grave lacuna, esquecer,
propositada ou inconscientemente, uma realidade: que a língua e o léxico
de que consta, nasceu no território conhecido historicamente como
Gallaecia –GALIZA-, que abrangia, não as quatro províncias da atual
Galiza unida politicamente a Espanha, mas o território que ia de
Cantábria passando polas Astúrias, Leão e Samora, até ao Douro, ou ainda
usque ad Mondecum, como dizia sempre o saudoso Rodrigues Lapa.
Essa Gallaecia deu origem em romance à Galiza, não só à que pertence
hoje à Espanha, mas também a Portugal. Dizer que a língua nasceu na
Galiza (estou a referir-me ao território espanhol) é totalmente falso. O
mesmo de falso se dizemos que nasceu em Portugal. Nasceu num território
comum que hoje pertence politicamente parte a Espanha e parte a
Portugal, gostemos ou não da História. Disse politicamente porque
culturalmente continuamos a sermos os mesmos. E Galiza, como
reconheceram muitos intelectuais portugueses, que ultrapassaram o Minho,
é física, cultural e linguisticamente uma continuação de Portugal ou
vice-versa.
"Galiza é uma prolongação de Portugal ou Portugal é uma prolongação da Ggaliza, o mesmo me faz" Outeiro Pedraio.
De 18 a 23 de julho de 2005 celebrou-se na
Universidade de Santiago de Compostela o VIII Congresso da Associação
Internacional de Lusitanistas. Congresso no qual houve muitos
intervenientes galegos que desvendaram muitas questões do galego e da
cultura da Galiza. De então a hoje a Diretiva da AIL está constituída
por galegos. Os intelectuais amigos não podem ignorar isto se não querem
cair no ridículo. Nele apresentei eu também um trabalho intitulado Do
Návia ao Mondego Semente da Língua Portuguesa (Estraviz, 723-732). Nele
começo por justificar o título e digo:
Cartaz do Congresso da AIL (Associação Internacional de Lusitanistas) do ano 2014. O Autor está a se referir ao Congresso de 2005
O título podia ser: Do
Mondego (Paróquia de Sada, Corunha) ao Mondego (Coimbra), Semente da
Língua Portuguesa. Do Eu ao Mondego, Semente da Língua Portuguesa. Ou Do
Návia (nas Astúrias) ao Mondego, Semente da Língua Portuguesa, para
estabelecer os limites de um rio a outro, considerando-o mais de acordo
com a realidade histórica e corrigir em parte as palavras de João de
Barros na sua Gramática da Língua Portuguesa que fala no Minho e o
Douro.
"Nã sómēte ôs que achamos per escrituras antigas, mas muitos
q[ue] se usam antre Douro e Minho, conservador da semente portuguesa: os
quáes alguns indoutos desprezam, por nam saberem a raiz donde náçē"
(Buescu, 168).
Sempre houve pola parte portuguesa um afã por
ignorar as origens territoriais completas da sua língua. Não nego que
tanto da parte de Além como de Aquém Minho, se reconhece um momento na
História de uma literatura comum a ambas as partes, a dos Cancioneiros
Galaico-Portugueses das cantigas medievais. Mas a partir de uma
determinada altura, fora de importantes e contadas exceções, existe um
grande cuidado em prescindir da Galiza e dos Galegos. Ainda hoje, depois
de toda uma série de estudos, ao estarmos em grupo onde galegos e
portugueses reconhecem a unidade linguística, aparece sempre alguém que
fala na língua portuguesa e na língua galega como duas realidades
diferentes.
O problema parece surgir porque a Galiza do Sul se
converteu em reino independente e a do Norte passou a formar parte do
que seria com o tempo o Estado de Espanha. De aí que os dirigentes
portugueses confundissem independência linguística com independência
política, o qual dá origem a um crasso erro. Portugal politicamente
nunca foi território galego e Galiza cultural e linguisticamente nunca
foi território espanhol. Portugal não perde nada reconhecendo a
realidade galega como reconhece a brasileira junto com os países aos que
levou a língua e a cultura e que hoje formam a comunidade internacional
da Lusofonia. E Espanha ganha reconhecendo no seu conjunto um
território político onde se fala outra língua de igual categoria e
parecidas perspetivas internacionais. Galiza pode viver dentro de um
Estado de língua diferente, com cultura e língua comum a outro Estado
sempre que não se imponha nada contra a vontade. Há países onde convivem
harmoniosamente territórios de línguas diferentes e Espanha e Portugal
contam com outros estados independentes que falam as suas línguas.
Como nasce o nome da língua?
Em textos redigidos em território da atual Galiza temos diferentes
vocábulos ao referir-se a aquele falar que se vai diferenciando do
latim. Assim
"Na Historia Compostellana, texto latino do século XII,
aparece a expresión gallaeco vocabulo; e nunha relación de libros da
biblioteca do arcebispo compostelán Bernaldo II dáse notícia, arredor de
1226, dun libro vello de sermóns de littera galleca, que con seguridade
quererá indicar que estaba escrito en galego e non en latín" [...] Porén, a denominación
predominante era, en contraposición a latín, a de romanço (aparece a
fins do século XIV na Crónica Troiana e tamén nos Miragres de Santiago,
por exemplo), xuntamente coa de lenguagem, linguagem ou a nossa
linguagem, estas máis frecuentes en textos escritos en territorio
portugués".(Monteagudo, 1994: 171; Freixeiro Mato, 26)
O mais frequente é romanço, linguagem ou a nossa
linguagem, sem especificar território algum. Mas nos Miragres de
Santiago aparece já especificado:
"Osana fili[o] Dauidi", que quer dizer
en lingoajen galego: "señor faysnos salvos!" (Pensado, 27).
E na
Crónica de 1344 aparece especificada a linguagem com outro adjetivo:
"... el rei dom Vermudo era mal doente de hũa door dos pees a que os
físicos dizem pedraga, segundo a lĩguagem de Portugal" (Cintra III,
180).
Como se pode ver, dão-lhe o nome do território onde está o escriba
ainda que empreguem o mesmo léxico.
Resulta por isso muito
interessante pesquisar o que pensam os gramáticos portugueses a respeito
do território onde nasceu a sua língua. Nas primeiras gramáticas não se
fala para nada da Galiza, quer como parte integrante na Espanha, quer
como realidade política e linguística dos tempos antigos.
Fernão
de Oliveira, é o primeiro gramático português. Ele só menciona a Galiza
no capítulo 41 quando nos diz que de Galiza deriva o gentilício galego.
De resto quando tem que falar das particularidades linguísticas
históricas sempre fala do Minho para o Douro. Ignora totalmente o que
acontece do Minho para cima, do Minho até as Astúrias. Vejamos o que nos
diz:
"Mas porque dixemos que os nomes de nações faziam no
plural em ãos, alemão não faz assi, mas faz alemães, e bretão, bretões, e
assi haverá outros muitos. A parte desta regra que mais comprende é dos
nomes que mudam todo o ditongo, como lição, lições; podão, podões;
melão, melões. Estes nomes, posto que parecem mudar mais que nenhuns
dessoutros que já dissemos, todavia, se olháremos ao singular antigo que
já teveram, não mudam tanto como agora nos parece, porque estes nomes
todos, os que se acabam em ão ditongo, acabavam-se em om, como liçom,
podom, melom, e acrecentando e e s formavam o plural lições, podões, e
melões, como ainda agora fazem. E outro tanto podemos afirmar dos que
fazem o plural em ães, como pães, cães, dos quaes antigamente era o seu
singular pã, cã, cujo testemunho aindagora dá Antre-Dourominho (Torres,
147)
Resulta igualmente interessante o que nos diz no capítulo 47
ao falar dos verbos onde já não fala do Douro e o Minho, mas da Beira.
Eis o que nos diz:
"Nos generos dos verbos não temos mais que ha só voz acabada em o pequeno, como ensino, amo e ando, a qual serve,
como digo, em todos os verbos, tirando alghuns poucos como são estes:
sei, de saber, e vou e dou e estou e mais o verbo sustantivo, o qual
huns pronunçiam em om, como som e outros em ou, como sou, e outros em
ão, como são; e também outros, que eu mais favoreço, em o pequeno, como
so. No parecer da primeira pronunciação com o e m, que diz som, é o mui
nobre João de Barros; e a rezão que dá por si é esta: que de som mais
perto vem a formação do seu plural, o qual diz somos. Contudo, sendo eu
moço, fui criado em são Domingos dEvora, onde faziam zombaria de mim os
da terra, porque o eu assi pronunciava segundo que o aprendera na Beira
(Torres, 150-151).
Nestes textos Fernão de Oliveira, como veem,
não faz a mínima referência a como se dão esses fenómenos na Galiza. Só
se limita à parte portuguesa, do Minho para baixo. Como se sabe, essa
forma som que ele aprendera de pequeno, típica da Beira natal (e não
só), é ainda hoje a forma mais geral na Galiza. O seu texto naquela
altura era galego-português e hoje muito mais galego do que português.
João de Barros, que se atribui a honra de ser ele o primeiro a fazer
uma gramática da língua portuguesa, publica a sua obra em 1540. Segue na
mesma linha de falar do idioma do Minho para sul. Mesmo me baseei nele
para lhe dar título ao meu trabalho. Eis o que nos diz no Diálogo em
louvor da nossa linguagem:
"A my muito me contentam os termos
que se confórmam com o latim, dádo que sejam antigos: ca destes nos
devemos muito prezár, quãdo nam achármos serem tam corrutos, que este
labęo lhe fáça perder sua autoridáde. Nã sómēte ôs que achamos per
escrituras antigas, mas muitos q[ue] se usam antre Douro e Minho,
conservador da semente portuguesa: os quáes alguns indoutos desprezam,
por nam saberem a raiz donde náçē (Buescu, 168)
É na Gramática onde faz referência, não sei se ao galego da Galiza ou ao galego do norte de Portugal quando diz:
"Os mais dos nomes que se deviam acabár ē, am, se escrevem a este
modo. Razão, razões. E se o uso nam fosse contrairo que tem gram força
açerca das cousas, nam me pareçeria mal dester[r]ármos de nós esta
prolaçam e orthografia galega. Porque a meu ver quando quisęrem guardár a
verdadeira orthografia destas dições, se deve dizer, razam, e no
plurar, razões. Ca este, m, finál nosso tem aly o oficio do mem çerrado
dos hebreos, que e hũa das leteras que elles chamam dos beiços: a quál
lhos fáz fechár quando acábam nella, de maneira que se vay fazendo
aquella variaçam ocandose a vóz. E este ę hũ módo de áfrautár como se
frautam os instrumentos de musica. E entam os que pouco sentęm quęrem
remediar o seu desfaleçimento escrevendo agalegádamente: poēdo sempre,
o, finál ē todalas dições que acábam ē, am". (Buescu, 83)
Duarte
Nunes de Leão é o terceiro dos gramáticos importantes. Ele distingue
perfeitamente os galegos da Galiza. Eis o que nos diz em "Ortografia e Origem da Língua Portuguesa" quando intenta descrever o fenómeno da
confusão entre v e b:
"O que muito mais se vê nos Galegos e em
alguns Portugueses de Entre Douro e Minho, que por vós e vosso, dizem
bós, e bosso, e por vida, dizem bida. E quasi todos os nomes, em que há u
consoante mudam em b. E como se o fizessem às avessas, os que nós
pronunciamos por b pronunciam eles por v. (Buescu, 54)
Mais
adiante concreta ainda mais ao falar da terminação om que tinham os
Portugueses e que ainda continua viva nas gentes de Entre Douro e Minho e
nos Galegos. Eis o que nos diz:
"E a razão dos ditos
vocábulos se não escreverem por am e suceder aquelle ditongo, em lugar
das ditas letras, segundo tenho advertido, é a analogia e respeito que a
língua portuguesa vai tendo com a castelhana, que sempre onde a
castelhana diz, an ou on que é a sua particular terminação, responde a
portuguesa com aquela terminação de ão que sucede em lugar da antiga
terminação dos Portugueses de om que punham em lugar do an ou on dos
castelhanos. A qual ainda agora guardam alguns homes de Entre Douro e
Minho e os Galegos, que dizem, fizerom, amarom, capitom, cidadom,
tabaliom, apelaçom (Buescu, 90.)
Na Origem da Língua Portuguesa Nunes de Leão distingue a Galiza da Lusitânia ao falar da existência das letras:
"E os Gregos que habitavam Galiza e a Lusitânia e outras regiões de
Espanha teriam a língua grega e as letras gregas (Buescu, 206)
Mas onde Nunes de Leão especifica claramente o seu pensamento acerca do
galego é no capítulo VI: A língua que se hoje fala em Portugal, donde
teve origem, e por que se chama romance. Ouçamos as suas palavras:
"Depois deste cativeiro, vindo-se recuperar muitos lugares do poder
dos Mouros, pelas relíquias dos cristãos que da destruição dos Mouros
escaparam nas terras altas de Biscaia, Astúrias e Galiza. E, fazendo
cabeças de alguns senhorios, ficou aquela língua gótica, que era comum a
toda Espanha, fazendo alghũa divisão e mudança entre si cada hum em sua
região, segundo era a gente com que tratavam, como os de Catalunha,
que, por àquela parte vir el-rei Pepino de França com os seus, ficou
naquela província sabor da língua francesa e, se apartou, lhes ficou
notável diferença entre ela e a língua de Castela e das de Galiza e
Portugal, as quais ambas eram antigamente quase hũa mesma, nas palavras e
nos ditongos e pronunciação que as outras partes de Espanha não têm.
Da qual língua galega a portuguesa se avantajou tanto, quanto na
cópia como na elegância dela vemos. O que se causou por em Portugal
haver reis e corte que é a oficina onde os vocábulos se forjam e pulem e
donde manam para os outros homens, o que nunca houve em Galiza" (Buescu,
219-220).
Erra Nunes de Leão quando diz "o que nunca houve em
Galiza", pois
"Todos os reis se titularon reis da Gallaecia desde
capitais diferentes (Oviedo, Santiago ou León), se ben moitos deles
desde Afonso II asentaron a súa capital en Santiago ou na parte
occidental de Gallaecia, como Ramiro I, Afonso III, Ordoño II, Sancho
Ordóñez, Ramiro II, Afonso V, García e Afonso VII, fortalecendo e
estendendo o seu reino, e mesmo chegando no occidente até Coimbra xa con
Ordoño II. Para Camilo Nogueira Ramiro II "constitúe unha referencia
fundamental na construcción do reino galaico", pondo de relevo a
ocultación por parte de Sánchez Albornoz de documentación histórica onde
se cualifica a Ramiro II como rei dos galegos e estes a nación máis
poderosa. Bermudo II, fillo de Ordoño III e neto de Ramiro II, foi
educado en Santiago e coroado rei de Gallaecia na catedral compostelá,
reinando até o ano 999. No reinado do seu fillo Afonso V (999-1028) a
Gallaecia vaise estender cara aos territorios de Al-Andalus, ao sul da
Cordilleira Central. A Afonso V vaino suceder Bermudo III (1028-1037),
que é recoñecido como emperador por Sancho o Maior de Navarra; o seu
cuñado Fernando, consorte de Sancha e fillo de Sancho III, fora nomeado
por este, en 1035, como gobernante de Castela sobre un reducido
territorio na fronteira oriental de Gallaecia, cando o reino galaico
levaba séculos de existencia." (Freixeiro Mato, 2).
Manipulaçao da História da Galiza apagando o nome do País favorecendo interesses espúrios.
No mundo espanhol foram mais generosos. Eis o que nos diz o Marquês de Santilhana:
"E despues fallaron esta arte que mayor se llama e el arte comun
-creo- en los Reynos de Gallizia e de Portugal, donde non es de dubdar
quel exerçiçio desta sçiençia más que en ningunas otras regiones e
prouinçias de la España se acostunbró en tanto grado que non ha mucho
tiempo qualesquier dezidores e trobadores destas partes, agora fuessen
castellanos, andaluçes, o de la Estremadura, todas sus obras componían
en lengua gallega o portuguesa" (López Estrada, 59)
I Conde do Real de Manzanares e I Marquês de Santillana Íñigo López de Mendoza
Todos os
grandes vultos da Romanística defenderam a unidade linguística
galaico-portuguesa. Respeito dos galegos a lista seria interminável: Pe
Feijó, Pe Sarmento, Eduardo Pondal, Manuel Murguia, Antão Vilar Ponte,
Vicente Risco, Afonso Rodrigues Castelão, Otero Pedraio, Vicente
Biqueira, Evaristo Correa Calderão. A tradição galeguista até ao 1936
foi defensora destas ideias. Na atualidade o número de pessoas e
instituições cresce diariamente. Pola parte portuguesa: Carolina
Michaelis de Vasconcelos (que cunha o sintagma galego-português),
Rodrigues Lapa, Lindley Cintra, Maria Helena Mira Mateus; da parte
brasileira: Celso Cunha, Gladstone Chaves de Melo, Leodegário A. de
Azevedo Filho, Sílvio Elia, Reynaldo Valinho; espanhóis: Menéndez Pidal,
Dámaso Alonso, Manuel Alvar; outros: Coseriu.... No Congresso sobre a
situação atual da Língua Portuguesa no mundo, celebrado em Lisboa em
1983, aprovou-se polo Congresso a seguinte proposta:
"Primeiro ponto:
atendendo à situação actual dos estudos linguísticos, o Congresso
reafirma a tese de que o galego e o português são normas cientificamente
reconhecidas de um mesmo sistema que engloba as comunidades
linguísticas luso-brasileiro-africanas" (Atas, 587-588)
Ainda
mais: o professor Lindley Cintra, que trabalhou no ALPI junto com
Menéndez Pidal e outros, nos cursos da Universidade de Lisboa que
ministrava nos verãos, punha aos seus alunos fitas gravadas por ele em
diferentes localidades da Galiza e Portugal ao falar dos diferentes
dialetos –galegos e portugueses- que formavam a língua comum. E na
gramática elaborada por Celso Cunha e ele registam:
Mapa de Lindley Cintra e Celso Cunha
"Os dialectos do português europeu
A faixa ocidental da Península Ibérica ocupada pelo galego-português
apresenta-nos um conjunto de DIALECTOS que, de acordo com certas
características diferenciais de tipo fonético, podem ser classificados
em três grandes grupos:
a) DIALECTOS GALEGOS;
b) DIALECTOS PORTUGUESES SETENTRIONAIS
c) DIALECTOS PORTUGUESES CENTRO-MERIDIONAIS" (Cunha-Cintra, 10-11).
Eis também o que nos diz o ilustre gramático Evanildo Bechara:
"Foi este falar comum à Galiza e ao território portucalense que o
processo da Reconquista propagou em direção ao sul, sobrepondo-se aos
dialetos moçárabes aí correntes. [...] Até o séc. XV, segundo Orlando
Ribeiro, o Minho ainda não constituía limite lingüístico entre o galego e
o português.
O português, na sua feição originária galega,
surgirá entre os séculos IX-XII, mas seus primeiros documentos datados
só aparecerão no século XIII; o Testamento de Afonso II e a Notícia de
Torto. Curiosamente, a denominação "língua portuguesa" para substituir
os antigos títulos "romance" ("romanço"), "linguagem", só passa a correr
durante os escritores da Casa de Avis, com D. João I. Foi D. Dinis que
oficializou o português como língua veicular dos documentos
administrativos, substituindo o latim." (Bechara, 24).
De uns
anos para esta parte a questão politizou-se polo governo galego, que
defende a diversidade linguística, seguido servilmente polo governo
português, dando lugar a que ilustres conterrãneos portugueses também
mudaram de atitude. É esta uma atitude sem sentido. A ciência, neste
caso a ciência linguística não pode estar aos vaivéns de quem estiver no
poder. Toda ciência, incluída a línguística, tem que estar por cima de
muralhas e fronteiras, de particularismos e sentimentalismos. Nós assim o
consideramos.
Por isso, tendo em conta os avatares da história e
que quem prestigiou a língua e a levou fora das suas fronteiras foi
Portugal ao tempo que ampliava as suas conquistas, primeiro ao norte de
África e depois aos cinco continentes, e que internacionalmente é
conhecida por português, ainda que na história da literatura há um
espaço de tempo que se conhece como galego-português e mesmo que apareça
primeiro em documentos medievais como galego, o nome do idioma é
português quer para Portugal, Brasil e Palops como para a Galiza. Falar
hoje em galego ou português da Galiza é o mesmo. É o mesmo caso de
castelhano e espanhol. O de nomes é indiferente. O fundamental é que
estamos a falar da mesma língua.
Elaborar, pois, um dicionário
com o léxico da Galiza e dar-lhe o nome de Dicionário do Português da
Galiza não é nenhum absurdo nem disparate. O léxico recolhido aqui na
Galiza é o mesmo que se emprega em todo o norte de Portugal e mesmo na
Beira, na Estremadura e no Algarve. Os clássicos portugueses, Camões e
Gil Vicente, e os modernos como Camilo Castelo Branco e Torga, etc. são
mais galegos nos seus escritos do que portugueses lisboetas. Léxico este
que foi desterrado dos dicionários portugueses mas que,
afortunadamente, se está a introduzir nos dicionários atuais, como o da
Academias das Ciências de Lisboa, ainda que registados como localismos.
Mas localismos são todos, simplesmente que a uns se lhes tem mais em
conta do que a outros.
Dizer simplesmente que o Dicionário do
Português da Galiza não é um dicionário só para galegos ou portugueses, é
um dicionário para todos os que têm como língua o português.
Tendo em conta que Galiza continua a ser, linguisticamente, uma
continuação de Portugal para o norte e de que formamos um continuum
cultural e linguístico, ao redigirmos o material tivemos em conta esta
pertença e redigimos no Acordo Ortográfico do português europeu. Com
isto não queremos dizer que seja melhor do que a brasileira. E como em
Portugal se optou por uma dupla ortografia para muitos vocábulos que no
Brasil ficam inalterados, nós optamos pola variante tradicional mesmo
que nalguns casos coincidam Brasil e Portugal. Simplesmente por
coerência. Esperemos que Portugal e Brasil deem um passo mais para a
frente para assim termos um padrão ao que olharmos todos.
(Atas, 587-588) = Congresso sobre a situação actual da Língua Portuguesa no mundo, Actas,Volume I, Lisboa, 1985.
(Bechara, 24) = Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, 37ª edição atualizada pelo novo Acordo Ortográfico, editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2009.
(Buescu, 168) = João de Barros, Gramática da Língua Portuguesa (1540), Reprodução facsimilada, leitura, introdução e anotações por Maria Leonor Carvalhão Buescu, Lisboa, 1971.
(Buescu, 54, 90, 206, 219-220) = Duarte Nunes de Leão, Ortografia e Origem da Língua Portuguesa, introdução, notas e leitura de Maria Leonor Carvalhão Buescu, IN-CM, , Lisboa, 1983.
(Cintra III, 180) = Cintra, Luís Filipe Lindley, Crónica Geral de Espanha de 1344, Edição crítica do texto português, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1961.
(Cunha-Cintra, 10-11) = Celso Cunha-Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 3ª ed. Sá daCosta, Lisboa 1986.
Estraviz, 723-732) = Estraviz, Isaac Alonso "Do Návia ao Mondego Semente da Língua portuguesa" em Da Galiza a Timor, A lusofonia em foco, Vol. I, pp. 723-732. Santiago, 2008.
(Freixeiro Mato, 26) = Xose Ramón Freixeiro Mato, Lingua galega: normalidade e conflito, Laiovento, 1997.
(Freixeiro Mato, 2) = Xose Ramón Freixeiro Mato, A Lingua das Cantigas, Congreso da Lingua Medieval Galego-Portuguesa na Rede, Vieiros.com, 1999.
(López Estrada , 59) = Francisco López Estrada, Las poéticas castellanas de la Edad Media, Madrid, Taurus, 1985.
(Monteagudo, 171) Henrique Monteagudo "Aspectos sociolingüísticos do
uso escrito do galego, o castelán e o latín na Galicia tardomedieval
(ss. XIII-XV)", em Estudios galegos en homenaxe ó profesor Giusepe Tavani,
Coord. Por Elvira Fidalgo e Pilar Lorenzo Gradín. Publicacións do
Centro de Investigacións Lingüísticas e Literarias Ramón, Piñeiro,
Santiago de Compostela, 1994.
Pensado, J. L. Miragres de Santiago, Edición y Estudio Crítico. Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Madrid, 1958.
(Torres, 147; 150-151) = Fernão de Oliveira, Gramática da Linguagem Portuguesa (1536), ed. crítica, semidiplomática e anastática por Amadeu Torres e Carlos Assunção, Lisboa, 2000.