As representações mais
antigas do pendão do Reino de Navarra datam de 1194, em tempos de
Sancho VII e apresentam uma águia que substituía uma figura
equestre apresentada no reinado de Sancho VI sem mais emblemas
heráldicos. Posteriormente, a figura equestre aparece com um escudo
em que porta a águia.
A
origem da
águia é
discutida por alguns heraldistas bascos que asseguram que é um
emblema dos Ximenos, família de origem vascão
e
também conhecida como a Dinastia Abarka. Patxi
Zabaleta diz que a arrano
beltza (1)
é o emblema dos reis de Navarra desde Eneko Aritza (Iñigo Arista
para a historiografia espanhola tradicional) até Sancho VII (Antzo
VII.a Azkarra, para a historiografia basca) e portanto, foi o pendão
real do Estado basco medieval
com o nome de Reino de Navarra ou Nafarroako Erresuma.
O
heraldista espanhol Faustino Menéndez-Pidal, sobrinho de Ramón
Menéndez-Pidal, afirma que o emblema procede da simbologia da
família da avó paterna de Sancho VII, Marguerite de l’Aigle, de
origem normando e esposa do rei Garcia Ramirez. O facto de ser o
apelido familiar Aigle —águia
em francês—,
explica a razão pela qual é uma águia o símbolo dinástico como
símbolo parlante. O próprio Sancho VII, no final da sua vida
utilizava um pendão que incluía a arrano
beltza
sobre um suposto fundo amarelo ao que, com
o tempo,
se lhe acrescentou um leão, símbolo heráldico do seu avô, o
Imperador Afonso VII, pai da sua mãe Sancha. A Casa Real navarra,
existente
na atualidade, confirma esta teoria.
Esta
simbologia foi resgatada durante o século XX pelo político
nacionalista Telesforo Monzón, cuja interpretação pessoal fez
recriar
esta
bandeira com a Arrano
Beltza
sobre fundo amarelo. Esta
coramarela
do corpo da bandeira,parece
aleatória
segundo alguns historiadores, que como Erlantz
Urtasun Anzano, afirmam
que pode ter a ver com o tecido de linho que se torna amarelo devido
ao envelhecimento causado pela passagem do tempo, o fumo das candeias
e do papel de linho onde apareceu a silhueta da águia donde Monzón
tirou o modelo. De
qualquer maneira, se essa cor proceder da família De l’Aigle,
comprovamos
que o
símbolo heráldico desta
casa nobiliária sobre
fundo amarelo é
a certa,
pelo que estaria aqui a explicação, por
outra parte, confirmada
pela Casa Real navarra atual, chefiada
pelo
candidato ao trono de Navarra,
Pedro II de Bourbon Duas Sicílias (2)
Muitos
heraldistas afirmam que o fundo da arrano
beltzanão
deveria ser amarelo, mas
vermelho, cor tradicional da Casa de Navarra. Portanto, atuais
vexilólogos e não poucos nacionalistas mantêm
a estética da águia preta sobre fundo vermelho que aparece em
ocasiões em manifestações navarristas ou basquistas.
Mas
o pendão das cadeias surge de
forma lendária
em 1212, com
motivo da
Batalha das Navas de Tolosa, quando Sancho VII participa no
ataque às tropas muçulmanas de Maomé
Ánacer(3),o
Amir
al-Mu'minin junto com Afonso I de Castela (4)e
Pedro II de Aragão.
A
lenda narra como as tropas do rei navarro, aproveitando a rutura dos
flancos almóadas pelas
tropas castelhanas e aragonesas,
consegue penetrar na peanha
onde estavam situados o Califa
e os nobres muçulmanos que
o acompanhavam,
defendidos pelos Imesebelen,
a Guarda Negra, que estava formada por um grupo de agressivos
e
corpulentos
escravos-guerreiros
senegaleses atados por cadeias das
que não podiam livrar,
vestidos só com uma simples tanga e armados com uma lança muito
cumprida. Sancho VII consegue quebrar as cadeias do cercado da
peanha,
sustentadas por grandes varas e vencer
os gigantescos
guardiões
africanos. Como lembrança da gesta, a lenda diz que o rei navarro
decidiu incorporar as cadeias ao pano vermelho que lhe servia de
pendão. Na realidade, esta mudança foi feita posteriormente pelo
sucessor de Sancho VII, o seu sobrinho Teobaldo I, e a
realidade diz que
não são cadeias as que figuram no escudo histórico de Navarra, mas
os reforços metálicos de
cor dourada situadas no
escudo aos
que se acrescente uma esmeralda verde, igualmente
lendária,
que tinha no turbante o Califa almóada, a quem lhe foi tirada como
botim.
O
tempo consolidou esta
imagem,
a
qual
foi utilizada
pelo rei navarro João de Albret quando quis reconquistar a Navarra
ocupada pelas tropas castelhanas em 1512. Da mesma maneira, foi usado
pelas tropas navarras em épocas posteriores, quando a Casa
Real navarra acabou fundindo-se com a Dinastia Capetiana,
titular do trono francês. Posteriormente, quando os pendões reais
acabam sendo bandeiras, quer dizer, representações de nações ou
de Estados e não símbolos heráldicos familiares, a partir do
século XVIII, a bandeira de Navarra de cor vermelha com as cadeias
em dourado e a esmeralda verde no meio consegue conservar-se, embora
não oficialmente, como representação histórica do Reino de
Navarra. Só a partir de 1910 em que a Deputação
Foral recupera esta simbologia é quando recupera a oficialidade,
mas
é durante a II República que a própria Deputação
Foral quem substitui a coroa real do escudo por uma coroa mural
republicana.
Mas
outra mudança vai acontecer nos anos 30’s, pois por Decreto do
Chefe do Estado em 1937, durante a Guerra do 36, recuperou-se o
escudo monárquico ao que se lhe acrescenta a Cruz de São Fernando.
Assim
vai permanecer essa simbologia como bandeira provincial até a
Reinstauração Bourbónica em que será modificada novamente para
adequá-la à nova legislação da Espanha de João Carlos I de
Bourbon em que as autonomias entram na legalidade constitucional e
Navarra acaba convertendo-se em mais uma Comunidade Autónoma com a
categoria de Comunidade Foral. Em 1981 perde a Cruz Laureada de São
Fernando e acrescenta a coroa boubónica. Esta é a bandeira oficial
atual de Navarra.
Dentro
do movimento independentista de esquerda, assume-se a bandeira sem a
coroa, como símbolo deuma das Zazpiak Bat (5)
Mas
também há uma outra representação vexilológica não oficial, mas
existente nos movimentos políticos navarros, que é a bandeira que
reúne toda a simbologia histórica: o fundo vermelho, as cadeias
douradas e a águia preta, embora também uma coroa real navarra. É
este o movimento legitimista navarro que reclama a recuperação do
Reino de Navarra na figura do seu rei legítimo Pedro II
1 Arrano Beltza significa literalmente em basco aguia preta
2 Pedro Juan Maria Alejo Saturnino y Todos los Santos de Borbón Dos
Sicilias, Orleans, Borbón Parma, y Orleans-Braganza.
3-O Miramolim (Amir al-Mu’minin أمير
المؤمنين),
Príncipe dos crentes, figura de referência política e religiosa
dos almóadas andaluzis.
4
O oitavo, segundo o cômputo tradicional da historiografia
castelhana, mas o primeiro segundo cômputo real. Afonso VIII de
Castela é na realidade o Afonso I de Castela. Antes não houve
Afonsos de Castela, se não incluímos Afonso VI e Afonso VII o
Imperador, não desejados pelos castelhanos, ou se não
acrescentamos Afonso I, o Batalhador, rei de Aragão, que governou
Castela sendo aceite pelos castelhanos, mas nunca coroado como tal
perante a legitimidade da Urraca I.
5 Zazpiak bat, significa em basco, literalmente, sete em uma, lema
pelo qual se reclama a unidade dos sete territórios bascos, sendo
um deles o espaço histórico navarro com a sua simbologia.
A
tradição Celta apresenta quatro festas que coincidem com o ponto
central de cada estação, cujos nomes são: Samhain, Imbolc,
Beltaine e Lughnasadh, mas esses nomes são gaelicos e não têm
qualquer tradição galega, nem sequer são nomes de tradição
britónica (galesa, córnica ou bretã) cujos nomes são outros e não
por isso são menos celtas. O que têm tradição são as festas por
si próprias cujos nomes galegos são:
Magusto
(11 de novembro),
Entrudo
ou Entroido (festa de fevereiro)
Maios
ou Maias (festa de Maio)
Seitura
ou Centeada (esta última corresponde com a festa do verão do 15 de
agosto que se celebra em todas as paróquias galegas, portuguesas,
asturianas e leonesas).
Nas
diferentes tradições célticas britónicas os nomes são os
seguintes:
(Festa
de novembro) Calan Gaeaf (C), Kalan Gwav (Ker) y Kalan Goañv (B).
(Festa
de fevereiro) Gŵyl Fair y Canhwyllau (C), Gong Puja (Ker), Emwalc'h
(B).
(Festa
de agosto) Gŵyl Awst (C), Golowan (Ker), Gouel Eost (B).
(C=Cymru,
Walles, Gales; Ker=Kernow, Cornwall, Cornualha e B=Breizh,
Bretagne/Brittany, Bretanha)
A roda do ano céltico em britónico galês
A
evidência da correspondência nos dias só há que comprová-lo
observando um calendário de outubro de 1582, quando se fez a mudança
do Calendário Juliano, para o Gregoriano. Assim do 4 de outubro,
passou-se ao 15 de outubro. Com um pequeno exercício contável
observaremos que o 1 de novembro juliano corresponde ao 11 de
novembro gregoriano atual, com o qual relacionamos imediatamente a
data tradicional da festa em questão, que na tradição galaica e
portanto galego-portuguesa, recebe o nome de Magusto e variantes, na
gaélica Samhain e variantes e na britónica Calan Gaeaf e variantes
Se
pomos um nome irlandês (nem sequer gaélico escocês ou manx) é
porque Irlanda é um país independente e tem um relato próprio,
referência do mundo celta internacional. Se nós tivéssemos relato
chamaríamos a estas festas com o nosso nome, não "Samaín",
que é uma péssima cópia do original "Samhain"... (aliás
a pronúncia é "xouim", não samaín). E, infelizmente ,
isto vai às escolas para criar galegos que nem vão saber no futuro
que era o Magusto (vão pensar que os seus avós celebravam uma festa
gastronómica com produtos de temporada), nem vão saber que o
português era o nosso galego quando este desaparecer da Galiza.
Sem
dúvida, todos conhecemos a famosa obra literária medieval cujo
título era o Amadis de Gaula. Obra de referência dos romances de
cavalaria, na moda durante os finais da Idade Média e inícios da
Idade Moderna, os quais serviram para fazer enlouquecer ao Alonso
Quijano, quem tinha o Amadis como principal livro de cabeceira. A
versão mais antiga conservada é dum autor castelhano de Medina del
Campo (Valhadolid... ou Veladolide, como escreve Afonso IX, o
Sábio?), Garci Nuñez de Montalvo, que adaptou a obra ao castelhano
a partir do galego-português original a finais do século XV,
aproximadamente, durante o reinado de Sancho II de Galiza e III de
Castela, mas numerado como Sancho IV pela historiografia
castelhanista, Rei que herdou o trono do seu pai Afonso IX. Aos três
livros originais, foi-lhe acrescentado um quarto livro com uma
importante mudança do final e ainda um quinto livro posterior, como
sequela dos livros anteriores. Estes acréscimos narram as aventuras
do filho do Amadis, que chega a uma ilha da Índia, denominada Ilha
de Califórnia, nome originado nos conquistadores castelhanos do
século XVI que tinham a ideia de que esta terra americana era uma
ilha. Isto favoreceu uma expedição, chefiada por Francisco de
Ulhoa, de muito provável origem galega, que serviu para negar a
insularidade da Califórnia e reafirmar a sua condição de
península. O Amadis era muito conhecido na altura, pelo que foi
objeto de estudo por parte de alguns intelectuais, entre eles o
bibliotecário da Livraria Real portuguesa em tempos de Afonso V,
Gomes Eanes de Azurara, que viveu umas décadas antes de Garci Nuñez
de Montalvo, e que reafirmou a origem linguística galego-portuguesa
da obra numa das suas Chronicas, assim como desvelou a identidade do
seu autor. Segundo Eanes de Azurara, a obra foi escrita por um tal
Vasco de Lobeira, ideia que prevaleceu até o século XIX em que o
descobrimento das cantigas do Cancioneiro de Colocci-Brancuti, hoje
denominadas como Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa,
descobriram um poema incluído no texto e conhecido como “Leonoreta”
da autoria de João Pires de Lobeira. O poema em questão aparece,
nem só nas Cantigas guardadas durante séculos em Ancona, mas também
na versão castelhana do Amadis, pelo que se deduziu que o tal João
Pires de Lobeira, poderia ser o autêntico autor da obra.
Mas
procurando na origem da família dos Lobeira, que tanto eram o Vasco
de Lobeira como o João Pires de Lobeira, procurei no Armorial
Lusitano de Genealogia e Heráldica publicado em 1991 pela Editorial
Enciclopédia de Lisboa a origem do nome de família e disse-me:
Família
de origem galega que tem seu solar na quinta da Lobeira, comarca de
Ponte Vedra, procedente de Rodrigo Sanches de Lobeira, primeiro
bispo de Compostela. Passaram a Portugal no tempo dos primeiros
Reis. Pedro Soares de Alvim, que primeiro se chamou da Pousada, por
viver na quinta deste nome, na freguesia de São Miguel de Carvalho,
concelho de Celorico de Basto, foi contemporâneo de D.Afonso III,
casado e com geração legítima. Teve um filho natural por nome
João Pires de Lobeira, que a instâncias suas e do bispo de Lisboa,
D. Aires Vasques, foi legitimado pelo mesmo Rei a 6 de Maio de 1231.
Não se conhecem Lobeiras na ascendência de Pedro Soares de Alvim,
pelo que é natural ter aquele apelido vindo ao filho pela parte
materna, que se desconhece qual haja sido. O bispo D. Aires Vasques
devia ser parente de João Pires de Lobeira, pois não somente se
interessou pela sua legitimação, mas o deixou herdeiro dos bens
que possuía. Supõe-se que os Lobeiras portugueses provenham deste
João Pires de Lobeira.
Conclusão:
Para além do erro de nomear primeiro bispo de Compostela ao tal
Rodrigo Sanches de Lobeira, só comentar cinco cousas:
1-
Os Lobeiras eram de origem galega.
2-
A Quinta da Lobeira de Ponte Vedra, é de Ponte Vedra a dia de hoje,
pois podemos relacionar com o Castro da Lobeira em Vila Nova de
Arousa, no Salnês, mas de dependência histórica compostelana. A
posse por parte dos Marinho de Lobeira desse local é histórica.
3-
Ainda existe a possibilidade de que essa Quinta da Lobeira seja a
localidade de Quintas no Concelho de Lobeira, na Baixa Límia,
confundida com a ponte-vedresa como se confunde um suposto bispo de
Compostela que não figura na lista de prelados compostelanos.
4-
O João parece ser filho do cura, privilegiado pelo seu santo pai
com heranças e reconhecimentos, herdando o nome familiar da sua
mãe, talvez pessoa ocupada em assuntos caseiros do bispo Aires
Vasques, que com toda honestidade, não se desentende do seu filho.
5-
O Vasco de Lobeira, poderia ser descendente do João e igualmente
ser o autor do Amadis, incluindo o poema do seu ancestral.
5-
De qualquer maneira, parece ser que o Amadis está escrito por um
galego.
Incluo
o poema de Joao Pires de Lobeira "Leonoreta":
Um
velho amigo meu viajou este verãoà
formosa Dubrovnik ou
Dubrovnique, em
português.do
ilírioDubrava,
que significacarvalheirana língua do país,
ao que se acrescenta a
palavra turcaVenedik,
que significa a
boa Venécia: a
carvalheira da boa Venêcia.A cidade foi conhecida
na Idade Média como Ragusa,
nome
procedente
do antigo albanês rāguša,
língua
derivada do antigo ilírio,que
significa bago
de uva.Está
localizada
na Dalmácia,onde se falou
até o século XIX uma
língua latina já extinta: o dálmata, desaparecido oficialmente
em 1898, quando o seu último falante, quer
dizer, a última pessoa que era capaz de falar nessa língua,
Tuone Udaina Burbur, morreu num acidente ao pisar uma mina1.
Esta língua de base latina, existiu até essa época em pleno
domínio austro-húngaro, extinta
por pressão do croata pelo Leste, pelo veneziano pelo Norte e pelo
albanês pelo Sul. Hoje
a cidade de Dubrovnique
é uma maravilha pertencente à Croácia, cujo apelativo turístico
conhecido é a Pérola
do Adriático, onde
hoje se
fala uma das variantes do conhecido, até
ontem,como
língua servo-croata,
nome histórico da variante linguística eslava do
Sul, que ocupa a
Sérvia, a Croácia, a Bósnia-Herzegovina e o Montenegro,
antigas repúblicas
jugoslavas2,
mas que atualmente fica convertido num nome que pode causar reações
diversas, segundo quem escutar oglotónimo,
que vão da indiferença
ao total desacordo, mesmo carregado de ira. Inclusivamente,
poderíamos achar, como achou meu amigo, quem denominar a esse
conjunto de falas balcânicas com
o feio acrónimo com
fins eufemísticosde BCMS, siglas de
bósnio, croata, montenegrino e sérvio… Assim andam as cousas por
ali, ainda hoje, a poucos
anos de distância do
final das denominadas
Guerras Jugoslavas
que acabaram com a antiga Jugoslávia.
O
caso é que este, meu amigo, trouxe consigo um maço de cigarros
comprado na Pérola do Adriático, onde
aparece escrito um
conhecido anúncio
antitabacoem quatro
supostos idiomas. Esses quatro
idiomas, nomeadamente,
bósnio, croata, montenegrino e sérvio,ficam reduzidos a três
pequenos textos de duas palavras cada um, já
que o montenegrino se
sente representado por todos eles por
estar escrito em grafia
latina ou em cirílico, indistintamente.Diz
literalmente “fumar
mata”.
Ver Bibliografia para comprovar como as pronúncias das quatro variantes são iguais: Bósnio, Croata, Sérvio e Montenegrino (este último representados por todas as demais)
Se
entraram no link, poderão comprovar que as três legendas dizem o
mesmo e da mesma maneira e, portanto, partindo da ideia de que essas
falas de estranho glotónimo, o talBCMS,
ou
no
nome tabu, dito
servo-croata, como lhe chamavam as velhas da época de Tito, é uma
única língua, parece muito absurdo reduplicar em quatro normativas
o
que todos dizem da
mesma maneira.
Alguns podem acreditar que poderia acontecer que essa frase
básica fosse igual, embora
o
resto doscorpuslinguísticos
de
cada uma delas
tivessem grandes diferenças morfológicas, sintáticas, léxicas,
semânticas, fonéticas ou fonológicas, metafónicas, de conjugações
verbais, etc, que nos fizessem pensar em línguas diferentes,
embora com
maior
ou menor
distância entre elas.
Mas
o caso não é esse. O caso é que essas variantes sudeslavas
são todas provenientes dum mesmo dialeto servo-croata, o estoikavo
ou
stoikaviano.
Ora,para
que
vejamos a proximidade dessas quatro versões do BCMS, preciso
explicar
antes o seguinte:
O
servo-croata tem três grandes dialetos: o kaikavo ou kaikaviano,
falado na antiga região da Croácia Central ou região
de Zagrebe
até Rijeka ou, Rieca em português; o Chácavo ou Chacaviano, falado
na Ístria, na Dalmácia e nas ilhas adriáticas;
e, finalmente,
o
estoikavo
ou stokavianofalado
em toda a Sérvia, em toda a Bósnia-Herzegovina em todo Montenegro e
nas região croatas da Eslavónia fronteiriças com Hungria e Sérvia,
para
além de
em todo o sul da Dalmácia. Há
um possível quarto dialeto, que alguns classificam como servo-croata
e outros como búlgaro-macedónio e é o torlakiano, mas resultante
das falas de transição entre sérvio e búlgaro.
Etnicamente alguns falantes de torlakiano são macedónio-búlgaros e
outros são sérvios, mas linguisticamente identificados pelo mesmo
dialeto.
A
consciência
de unidade linguística sul-eslava era uma realidade tradicional,
pelo que apesar dos domínios políticos austro-húngaro e otomano,
por um lado e, das diferenças de religião, nomeadamente, a
católica, a muçulmana e a ortodoxa, pelo
outro,
considerou-se desde
os inícios que
a padronização unitária da língua comum era uma necessidade. Daí
que um grupo de escritores e linguistas croatas, sérvios e
um esloveno,
vinculados ao Movimento Ilírio e
aosPaneslavistas,
decidiram reunir-se e tomarem decisões positivas sobre a
estandardização,
lá pelo
mês de
março de 1850 na cidade de Viena. Foi
o Acordo de Viena. Entre
esses intelectuais estavam figuras como o esloveno
Franc Miklošič, os sérvios Vuk Stefanović Karadžić e Đuro
Daničić, junto com os croatas Ivan Kukuljevič
Sakcinski, Dimitriej Demeter, Ivan Mažuranič,
Vinko Pacel e Stjepan Pejakovič.
Os acordos iniciais decidiram evitar a
criação dum dialeto novo, um “batua” ou um “normativo” de
laboratório, como
o que temos bascos e galegos,
que substituísse os outros dialetos tradicionalmente falados e,
portanto, optaram por uma das várias falas vivas sudeslavas,
que coincidiu com a fala nativa de Vuk S. Karadžić:
o
estoicavo
ou estokaviano,
correspondente
ao herzegovino oriental e dentro das possíveis ortofonias,
nomeadamente
a ikaviana,
a ekaviana,
a jekaviana
e
a ijekaviana, foi
escolhida esta última,
comum em toda a Bósnia-Herzegovina, toda Croácia, todo Montenegro e
uma parte importante do Oeste de Sérvia. Esse
modelo de
priorizar um dos dialetos vivos,
seguindo
o modelo alemão ou italiano,
parece uma forma bastante prática, que evita o invento de
laboratório duma
nova variante “neutra” que fosse artificial e
portanto, inexistente a
priori.
Optou-se, também nesse produtivo século XIX pela elaboração
do Dicionário
Croata e Sérvio
feito pela Academia
Jugoslava das Ciências
e das Artes de Zagrebe
e nessas mesmas datas foi elaborada a Gramatika
iStilistika
Hrvatskoga
ili Srpskoga
de Tomislav
Maretič.
Foi
pela primeira vez que se
acordou que a língua seria
denominada
de servo-croata ou croata-sérvio,
por
iniciativa do esloveno Jernej Kopitar, após a publicação em Itália
da Grammatica
della Lingua
Servo-Croata,que
poderia
ser representada, inicialmente,
tanto
em carateres latinos como cirílicos, sendo ambas as duas grafias
equivalentes e legítimas, admitindo
as diferenças naturais da língua em cada um dos diferentes
territórios da antiga Ilíria. A
grafia, cirílica
ou latina, junto com outros elementos normativos, ocasionaram
a dissensão entre
os linguistas. Algumas das outras
discrepâncias foram:
o tratamento dos estrangeirismos ao que esteve submetida a língua
perante as diferentes
influências segundo
a zona,
do alemão, do turco, do grego, do veneziano, do húngaro, etc… nem
sempre com o mesmo valor para todos pela
diferente exposição histórica de cada um dos povos a cada um dos
diferentes impérios;também
foi
objeto de desacordo, o
modelo ortofónico, o modelo de planeamento linguístico e outros
elementos não menos importantes.
Passados
os anos e as circunstâncias históricas, os
diferentes povos sudeslavos conformaram-se como um Estado unificado
denominado
Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos em 1918. Posteriormente,
recebeu o nome de
Reino de Jugoslávia em 1929 e
mais
tarde, depois da
II Guerra Mundial, recebeu
o nome de
República Federativa Socialista de Jugoslávia, que
durante o governo do Marechal
Josip Broz Tito manteve
os acordos linguísticos e o consenso da unidade linguística sobre
os
dois
padrões conseguida
a partir do Acordo de Novi Sad de 1954. Isso não impediu
que a partir da década de 60’s surgissem
novas discrepâncias originando
as primeiras tentativas para
considerarem que cada variedade é um língua diferente e que cada
povo teria o direito soberano sobre a sua variante, assim como o
direito para
determinar o seu nome. Até essa altura, o servo-croata era
considerado uma única língua com duas variedades: um oriental, ou
sérvio, e outra ocidental, ou croata. A Bósnia seria um lugar de
confluência, mescla e coexistência das duas variedades, enquanto o
montenegrino era considerado uma sub-variedade do sérvio. Mas os
tempos mudam e em
1989 caiu o muro de Berlim, em 1991 caiu
a URSS e
o
mundo
passa para uma nova etapa abrindo as portas à dissolução da
Jugoslávia.
Eslovénia Croácia e
Macedóniaconseguem
a sua independência esse
ano de 1991.O
ano seguinte, em
2002,
consegue a sua
independência aBósnia-Herzegovina.
Isto
ocasiona a forte oposição de Sérvia que provoca as Guerras
Jugoslavas e
grandes sofrimentos para os povos sudeslavos que veem alterada a sua
convivência pacífica.
Neste contexto e
posteriormente, também
acedem à independência o
Montenegro em 2006 e
o Kosovo em
2008.
Estas
separações e os graves danos que a guerra causou em todos os povos
ex-jugoslavos favoreceram
os rancores e uma visão secessionista das
variantes da
língua, que deixa de ser considerada una, para ser considerada
quatro, uma por Estado. Assim
é reconhecido nas diferentes Constituições
da cada uma das Repúblicas:
na Sérvia passa a denominar-se sérvio usado
em cirílico3;
na Croácia, croata usando
o alfabeto latino4;
em Bósnia-Herzegovina passa a chamar-se bosniaco ou bósnio5,
segundo
a
denominaçãoseja
dos
bosniacos
de religião
muçulmana
ou das minorias sérvias e/ou
croatas, identificadas
segundo as suas grafias e segundo as suas respetivas religiões:
ortodoxa e católica, respetivamente;
e finalmente em Montenegro, também se opta por denominar a língua
de montenegrino, que
aceita, tanto a grafia latina como a cirílica6.
Esta
situação é
a escusa perfeita para afirmar a diferença étnica de maneira
agressiva e favorecer a rutura
da que até agora era considerada um língua única. Todos
e cada um destes Estados decide levar a cabo uma política
linguística de separação das próprias
variedades, fomentando o léxico diferente, os sotaques diferentes,
incluso aquilo que no galego ILG-RAG identificaríamos
como neologismos
insolidários,
segundo
a denominação
do
Professor da UdV,
Carlos Garrido (2000:
págs 26) quer
dizer, aquelas formas lexicais inventadas, fruto da proveta e do
laboratório experimental7,
insolidárias
com a estrutura da língua e incorporadas às
NOMIGAs8com
o fim de diferenciar dasvariantes
lusitana e brasileira e estabelecer argumentos para dizer que o
galego da CAG (Comunidade Autónoma Galega) é uma língua “de seu”
independente
do resto do diassistema galego-português.
Portanto,
entra
em vigor uma etapa de ré-padronização
em função
dos interesses políticos de cada comunidade, deixando no
politicamente incorreto o nome de servo-croata. Chegou-se à
conclusão de que a língua única evoluiu, acabou desintegrando-se e
agora o conjunto das falas que antes faziam o servo-croata são
denominadas agora com o acrónimo BCMS (de Bósnio,
Croata, Montenegrino e Sérvio), mas que só é usado pelos
estudantes e professores estrangeiros que querem ensinar ou apreender
esta língua sudeslava, ali
onde se fazem estudos de sérvio e croata (não servo-croata), nos
que se inclui o bósnio9.
A separação consolida-se dum ponto de vista político, embora a
filologia e a linguística internacional não considera aceitável
essa divisão,
justamente por tratar-se duma razão política e não linguística.
Mas
a aplicação destas políticas linguísticas supõem na
prática
um ruidoso atentado contra os direitos humanos e os direitos
linguísticos dos sudeslavos, que por questões
ideológicas e
ódios étnicos mantidos a partir dos conflitos bélicos que os
sacudiram, provocam
ensinos discriminatórios, onde os alunos são separados por etnias,
onde não coincidem nas mesmas turmas croatas, bósnios ou sérvios
para evitarem o contacto
linguístico entre eles e favorecerem
a reafirmação da separação linguística e étnica, onde existem
currícula diferentes para cada uma das etnias e onde os sistemas
educativos estão
entre
os
menos eficazes da Europa. A segregação continua na administração,
nos média, na
burocracia,
no
dia-a-dia e na prática quotidiana da vida das pessoas… E neste
contexto surge a ideia de vários intelectuais croatas, sérvios,
bósnios e montenegrinos, que declararam
em 2017 que os quatro países possuem uma língua standard
comum de
tipo policêntrico com
variedades reconhecíveis como nos casos
espanhol, português, francês, árabe, neerlandês, alemão,
confirmado
peloestocaviano
como base dialetalcomum
que
conforma o padrão de todas as variantes ecuja
intercompreensão é real,
eficaz,
fluida e natural entre todas
elas.
Afirmaram
que o uso de quatro nomes diferentes, não implica a existência de
quatro línguas, mas de uma; as diferenças são escassas, mas
promovidas pelas políticas linguísticas que provocam numerosos
fenómenos sociais, culturais e políticos negativos como a
segregação, as traduções desnecessárias, invenção de
diferenças onde não existem, coerção, censura e autocensura onde
a norma está como forma de diferenciação étnica e de lealdades
políticas.Os
promotores
criticam que as políticas linguísticas às que estão submetidos
favorecem as diferenças e portanto as barreiras internas em vez de
promoverem a comunicação e que a filiação nacional não tem
porque obstaculizar a identidade linguística comum. É a Declaração
da Língua Comum de Sarajevo de 2017, que
pede a abolição
das diferentes formas de segregação
e discriminação
linguísticas. A
proposta foi um sucesso entre os intelectuais dos quatro países,
entre
linguistas,
escritores, cientistas, ativistas
e outras figuras credíveis do público e da vida cultural da Bósnia
e Herzegovina, Montenegro, Croácia e Sérvia. A
proposta foi
escutada fora dos Balcãs,
tomando
uma transcendência internacional com os apoios de figuras
e
importantíssimos linguistas de prestigio internacional como Noah
Chomskye
outros.
Portanto,
se o caminho é o da unidade,
a viabilidade interna do antigamente denominado servo-croata irá em
aumento e tornará essa língua em mais uma língua europeia
de prestígio, nem só por ser falada por um total de quase
18 milhões
de pessoas, mas
por ser uma das línguas de referência da Europa e nomeadamente, por
ser uma das mais representativas entre as línguas eslavas .
Comparação
com o caso galego
O
denominado Elaboracionismo com o
que se identificam os
linguistas galegos que promovem as NOMIGAs do ILG-RAG ecuja referência é o
croata Žarko Muljiačić,
sustenta-se na ideia da
separação pondo como base as razões
políticas. Este linguista foi um dos promotores da
filosofia linguística aplicada e seguida pelo ILG e a RAG durante
os últimos quarenta anos e que nos levou até a situação atual.
Muljiačić
morto em 2009, foi membro correspondente da
Academia Jugoslava de Ciências e Artes, que mais tarde se tornou a
Academia Croata de Ciências e Artes após a dissolução da
República Federal Socialista e a independência do país. Foi um dos
teóricos da consolidação da divisão
existente nas quatro repúblicas ex-jugoslavas e dele beberam
aqueles que
sustentaram a
separação entre o
galego e o português.
Isto,
provavelmente quer dizer, que se as quatro variantes sudeslavas
procuraram a separação de cada uma delas por causa
dos conflitos históricos mal resolvidos,
os linguistas galegos, que não têm onde botar mão
a respeito de qualquer sentimento negativo entre galegos e
portugueses, que não existem,
procuram as suas
razões
em pretextos de índole nacionalitária,
que também não
são
linguísticos,
mas políticos.
Estespretextos
não nos seria muito difíceis
de achar por nós,
se conhecermos
como é o histórico projeto de construção
da Nação espanhola sob a supremacia do
castelhano, aplicado
pelos distintos governos galegos existentes
na CAG desde os inícios da autonomia até
o dia de hoje, dentro do quevai
implícita agestão
da língua. Sabido é que o mais grande deterioro da língua e a
perda de falantes mais acusada de toda a história está entre 1980 e
o dia de hoje, depois de quarenta anos de autonomia10em que a padronização, a “normalização”
e o ensino na língua do país esteve a cargo de Fernández Albor,
González Laxe, Fraga Iribarne, Perez Touriño, Nuñez Feijóo e
Rueda Valenzuela. Supomos que em cumprimento e aplicação dos seus
ideários políticos, mas não sabemos exatamente se essa perda
maciça de falantes, a maior da história, e o deterioro e
castelhanização da língua se deve à sua falta
de habilidade à hora de implementar políticas linguísticas em
favor da língua dos galegos ou se, pela
contra, é um grande sucesso da causa
nacionalitária, pessoal e/ou partidária,
que os move.
A
respeito dos paralelos com os países sudeslavos, unem-nos as
divergências padronizadoras.Na
Ex-Jugoslávia entre os quatro
países em
questão, cada
um com a sua “língua”,
mas na Galiza o
problema padronizador é
interno, quer
dizer, a via elaboracionista, tirada do modelo balcânico e a via
reintegracionista.
Ora, todos
sabemos como o reintegracionismo era visto, ignorado e inclusivamente
vilipendiado pelos média, no ensino e
na administração, como os reintegracionistas tinham grandes
obstáculos nas suas vidas laborais, como havia censura editorial,
muitas vezes, também, autocensura, traduções
desnecessárias11
e mesmo como sofreram fisicamente com discriminações etc, apesar de
ser a unidade
da língua galego-portuguesa uma
realidade objetiva
e
apesar de
haver uma
absoluta
intercompreensão
entre as variantes faladas.
Todos temos vivido nos anos 80’s e 90’s os processos de invenção
de léxico chamado “normativo”, de repressão
via administrativa e curricular nos centro de ensino de fórmulas de
expressão
puramente galegas por serem próximas ao português, aplicando
atitudes de duvidosa ética
democrática
impostas
entre os funcionários de
distintas
administrações e nomeadamente no ensino, nos
média, na industria editorial, na burocracia, etc.
Muitos ouvimos o apelativo de “portugueses” por usarmos uma
determinada norma, tentando relacionar o gentílico com uma maneira
de não nos reconhecerem galegos, apesar de que a nossa língua
também é uma língua policêntrica, com variedades internas que não
determinam a nacionalidade do utente. Presenciamos a separação
institucional da
língua,
forçada e
justificada a partir das diferenças individuais, locais e nacionais,
assim pelo facto da sua padronização, sob base do castelhano, no
caso galego; negou-se
aos galegos a riqueza da língua comum fruto do
prestígio histórico e da
internacionalidade da mesma e incutiu-se
nos nossas crianças a
ideia de que a
nossa língua só é para falar na intimidade familiar e que não
serve para andar pelo mundo, pois para isso, já está o castelhano.
A riquezalexical,
também foi negada,
reduzindo o
nosso capital terminológico
e apagando sinonímia,
polissemia,
etc… Tudo era “atopar”, “rematar” e não havia “achar”,
“descobrir”, “reencontrar”… nem “concluir”, “findar”,
“finalizar”, “culminar”… encerrando e
limitando as
definições das
palavras de
maneira rígida para evitar parecer-nos
ao português; presenciamos a censura a respeito de obras em
português original, traduzidas de maneira desnecessária
e supérflua e
exercendo uma subtil coerção para que o criador escrevesse em
“normativo” para poder ser lido e vendidas as suas obras, negando
tradutores em juízos ou
cingindo a expressão das pessoas ao “normativo”; censurou-se a
liberdade criativa dos autores, escritores e literatos, cientistas e
educadores evitando a diversidade linguística e sobre tudo, como
também diz a Declaração da Língua Comum de Sarajevo de 2017,
impedindo a
liberdade de “mistura”, a abertura mútua e a interpenetração
das diferentes formas e expressões da língua comum, em benefício
de todos os seus falantes
e
tudo para inventarem um neogalego que fosse ao menos português
possível.
A
passagem do tempo e todo este tipo de cousas fez com que a sociedade
tomasse mais consciência da realidade linguística da Galiza e
graças à Internet e a proliferação das redes sociais, a ideia de
unidade da língua acabou estendendo-se. Mesmo
chegou a ser compreendida pelos gestores que viram a bondade de mudar
de rumos para um novo caminho que viabilizasse a língua de todos os
galegos. Com isso e por isso
acabou nascendo uma Academia Galega da Língua Portuguesa e com ela
criaram-se
as condições de entrada
na CPLP, de promover o português na Galiza, como foi a Lei Paz
Andrade… mas se tomamos medida destas cousas, nem está ainda
aplicada, nem
desenvolvida,
nem parece
haver muita
vontade por parte do governo galego, nem há movimento para pôr a
nossa língua no lugar onde deve, apesar de ser uma realidade
gritante, apesar de vermos exemplos de oficialidade real
nas
instituições europeias. Esta
circunstância parece não ser muito evidente para alguns que
ainda falam
de oficializar uma língua já oficial, como é a nossa, na Europa,
só
por dividi-la, só por não reconhecer a realidade da unidade da
língua, mesmo presenciando
absurdos de
ver
deputadas galegas pedir a oficialização da sua língua no
Parlamento europeu, falando aquela língua que, supostamente,
querem
oficializar. Não
se dão conta
de que
catalães
e bascos precisam
pedir a oficialização das suas línguas nas
instituições europeiasfalando
em inglês ou em francês,
porque as suas línguas não são oficiais?
Esse absurdo de
pedir a oficialização da nossa língua, falando na nossa língua,
parece
muito balcânico. Ou
será que o que realmente pedem é a oficialização duma determinada
forma de padrão cuja filosofia de fundo é um exemplo balcânico que
reduz e destroça
a viabilidade duma língua convertendo-a numa manta de retalhos?
O
caso
galego tem as suas grandes similitudes com o caso do servo-croata e é
o caso servo-croata que é o pior exemplo de solução para o caso galego.
Um mal exemplo, mas um exemplo, também,
exemplar —desculpe-se-me
a redundância—
para os que gerem a nossa realidade linguística e
que nos levaram a este abismo,
onde a língua dos galegos, na
própria Galiza,
vive o momento em que o número de falantes é o menor da sua milenar
históriae
a sua qualidade é a pior, também, da sua história.
Confrontados
com as consequências sociais, culturais e económicas negativas das
manipulações políticas da língua nas atuais políticas
linguísticas na Bósnia e Herzegovina, Croácia, Montenegro e
Sérvia, nós, abaixo assinados, emitimos a seguinte DECLARAÇÃO
SOBRE A LÍNGUA COMUM.
A
resposta à questão de saber se é utilizada uma língua comum na
Bósnia e Herzegovina, na Croácia, no Montenegro e na Sérvia é
afirmativa. Esta é uma língua padrão comum do tipo policêntrico,
falada por várias nações em vários estados, com variantes
reconhecíveis, como o alemão, o inglês, o árabe, o francês, o
espanhol, o português e muitas outras. Este facto é corroborado
pelo estokaviano como a base dialetal comum da língua padrão, a
proporção entre o mesmo e o diferente na língua e a consequente
compreensibilidade mútua. A utilização de quatro nomes para as
variantes padrão –bósnio, croata, montenegrino e sérvio– não
implica que se trate de quatro línguas diferentes. Insistir no
pequeno número de diferenças existentes e na separação forçada
das quatro variantes padrão provoca numerosos fenómenos sociais,
culturais e políticos negativos. Estas incluem a utilização da
linguagem como argumento que justifica a segregação das crianças
em idade escolar em alguns ambientes multiétnicos, a "tradução"
desnecessária na administração ou nos meios de comunicação, a
invenção de diferenças onde elas não existem, a coerção
burocrática, bem como a censura (e necessariamente também a
autocensura), onde a expressão linguística é imposta como critério
de filiação etnonacional e meio de afirmação de lealdade
política.
Nós,
os abaixo-assinados, sustentamos que:
O
facto de existir uma língua policêntrica comum não põe em causa
o direito individual de exprimir a pertença a diferentes nações,
regiões ou estados;
Cada
estado, nação, comunidade etnonacional ou regional pode codificar
livre e independentemente a sua própria variante da língua comum;
Todas
as quatro variantes padrão atualmente existentes gozam de um
estatuto igual, na medida em que nenhuma delas pode ser considerada
uma língua, sendo as restantes variantes dessa língua;
A
padronização policêntrica é a forma democrática de padronização
que mais se aproxima do uso real da linguagem;
O
facto de se tratar de uma linguagem padrão policêntrica comum
permite aos seus utilizadores nomeá-la como desejarem;
As
variantes padrão da língua policêntrica apresentam diferenças
nas tradições e práticas linguísticas e culturais, no uso de
alfabetos, no stock lexical e noutros níveis linguísticos;
Isto
pode ser demonstrado, entre outras coisas, pelas diferentes
variantes padrão da língua comum em que esta Declaração será
publicada e utilizada;
As
diferenças padrão, dialetais e individuais não justificam a
separação institucional forçada;
Pelo
contrário, contribuem para a grande riqueza da língua comum.
Por
isso, nós, abaixo assinados, apelamos
A
abolir
todas as formas de segregação e discriminação linguística nas
instituições educativas e públicas;
Descontinuar
as práticas repressivas e desnecessárias de separação
linguística que são prejudiciais para os falantes;
Encerrar
a definição rígida das variantes padrão;
Evitar
as “traduções” supérfluas, insensatas e dispendiosas nos
processos judiciais, na administração e nos meios de informação
pública;
A
liberdade de escolha individual e o respeito pela diversidade
linguística;
A
liberdade linguística na literatura, nas artes e nos meios de
comunicação social;
A
liberdade de utilização dialetal e regional;
E,
finalmente, a liberdade de “mistura”, a abertura mútua e a
interpenetração das diferentes formas e expressões da língua
comum, em benefício de todos os seus falantes.
Em
Zagreb, Podgorica, Belgrado e Sarajevo, 30 de março de 2017
Suočeni
s negativnim društvenim, kulturnim i ekonomskim posljedicama
političkih manipulacija jezikom i aktualnih jezičnih politika u
Bosni i Hercegovini, Crnoj Gori, Hrvatskoj i Srbiji, mi,
doljepotpisani, donosimo
DEKLARACIJU
O ZAJEDNIČKOM JEZIKU
Na
pitanje da li se u Bosni i Hercegovini, Crnoj Gori, Hrvatskoj i
Srbiji upotrebljava zajednički jezik – odgovor je potvrdan.
Riječ
je o zajedničkom standardnom jeziku policentričnog tipa – odnosno
o jeziku kojim govori više naroda u više država s prepoznatljivim
varijantama – kakvi su njemački, engleski, arapski, francuski,
španjolski, portugalski i mnogi drugi. Tu činjenicu potvrđuju
štokavica kao zajednička dijalekatska osnovica standardnog jezika,
omjer istoga spram različitoga u jeziku i posljedična međusobna
razumljivost.
Korištenje
četiri naziva za standardne varijante – bosanski, crnogorski,
hrvatski i srpski – ne znači da su to i četiri različita jezika.
Inzistiranje
na malom broju postojećih razlika te nasilnom razdvajanju četiri
standardne varijante dovodi do niza negativnih društvenih, kulturnih
i političkih pojava, poput korištenja jezika kao argumenta za
segregaciju djece u nekim višenacionalnim sredinama, nepotrebnih
”prevođenja” u administrativnoj upotrebi ili medijima,
izmišljanja razlika gdje one ne postoje, birokratskih prisila, kao i
cenzure (te nužno auto-cenzure), u kojima se jezično izražavanje
nameće kao kriterij etno-nacionalne pripadnosti i sredstvo
dokazivanja političke lojalnosti.
Mi,
potpisnici ove Deklaracije, smatramo da
činjenica postojanja
zajedničkog policentričnog jezika ne dovodi u pitanje individualno
pravo na iskazivanje pripadnosti različitim narodima, regijama ili
državama;
svaka država, nacija,
etno-nacionalna ili regionalna zajednica može slobodno i samostalno
kodificirati svoju varijantu zajedničkog jezika;
sve četiri trenutno
postojeće standardne varijante ravnopravne su i ne može se jedna
od njih smatrati jezikom, a druge varijantama tog jezika;
policentrična
standardizacija je demokratski oblik standardizacije najbliži
stvarnoj upotrebi jezika;
činjenica da se radi o
zajedničkom policentričnom standardnom jeziku ostavlja mogućnost
svakom korisniku da ga imenuje kako želi;
između standardnih varijanti
policentričnog jezika postoje razlike u jezičnim i kulturnim
tradicijama i praksama, upotrebi pisma, rječničkom blagu kao i na
ostalim jezičnim razinama, što mogu pokazati i različite
standardne varijante zajedničkog jezika na kojima će ova
Deklaracija biti objavljena i korištena;
standardne,
dijalekatske i individualne razlike ne opravdavaju nasilno
institucionalno razdvajanje, već naprotiv, doprinose ogromnom
bogatstvu zajedničkog jezika.
Stoga,
mi, potpisnici ove Deklaracije, pozivamo na
ukidanje svih oblika jezične
segregacije i jezične diskriminacije u obrazovnim i javnim
ustanovama;
zaustavljanje represivnih,
nepotrebnih i po govornike štetnih praksi razdvajanja jezika;
izbjegavanje nepotrebnih,
besmislenih i skupih ”prevođenja” u sudskoj i administrativnoj
praksi kao i sredstvima javnog informiranja;
slobodu individualnog izbora
i uvažavanje jezičnih raznovrsnosti;
jezičnu slobodu u
književnosti, umjetnosti i medijima;
slobodu dijalekatske i
regionalne upotrebe;
i,
konačno, slobodu miješanja,
uzajamnu otvorenost te prožimanje različitih oblika i izričaja
zajedničkog jezika na sveopću korist svih njegovih govornika.
Bibliografia e linkografia (Clicar nos links para aceder aos textos)
Links para google translate para comprovaçao das pronúncias nas quatro variantes do BSCM: BósnioCroataSérvio
Garrido,
Carlos & Riera Carles: Manual
de Galego Científico.
Ed AGAL. 2000. Corunha
Notas a rodapé
1
Os investigadores, dizem-nos, que a informação dada por Tuone
Udaina (ou Antonio Udine, como era o seu nome legalmente reconhecido
em italiano) a respeito do dálmata, não era absolutamente fiável,
pois na época em que se fez informante, tinham passado mais de
vinte anos sem conversar nessa língua com ninguém e a pronuncia
que o Tuone apresentava era defeituosa porque era uma pessoa idosa,
não tinha dentes, estava surdo —pelo
que a sua diçao não era a desejável—
e aliás, o dálmata não era a sua língua materna, mas o
veneziano. Por outra parte, os interlocutores com os que ele poderia
ter trocado conversas em dálmata, já tinham morto ou não eram por
ele conhecidos, portanto, a investigação ficou abortada quando
morreu ao pisar uma bomba que os operários que trabalhavam na
construção de uma estrada na ilha croata de Krk (ou Veglia, em
italiano), puseram no lugar das obras para fazerem o seu trabalho.
2
Na antiga Jugoslávia ainda se falavam mais duas línguas eslavas: o
esloveno, na Eslovénia e
nas regiões austríacas
e italianas de Estíria
(A),Caríntia (A),
Gorizia (It)
e Trieste (It),
onde é oficial,para além da região
de Vas (Hungria); a outra língua
é o macedónio, variante histórica
do
búlgaro que
sofreu um processo de servianizaçãoe
falado na atual Macedónia do Norte, assim como emregiõeslimítrofes
de Albânia,
Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Roménia e na Macedónia grega.
3Vd
artigo
10 da Constituição
de Sérvia de 2016 (Vd
Bibliografia).
4Vd
artigo
12
da Constituição de Croácia usando o alfabeto latino, embora o
cirílico também seja legal (Ver
Bibliografia).
5A
Constituição bósnia não reconhece línguas oficiais, mas de
facto a partir dos Acordos
de Dayton
de 1995, escritos em bósnio, croata e sérvio, reconhecem
implicitamente a oficialidade das três variantes.Por
outra parte, as duas entidades administrativas bósnias,
nomeadamente a República Servia de Bósnia e a Federação de
Bósnia e Herzegobina formada
por
bosniacos,
e
croatas,
até 2000 só aceitavam o sérvio na primeira e o croata junto com o
bósnio
na segunda, mas o Tribunal Constitucional da Repúblico
em aplicação do Estatuto
de Igualdade, determinou em 2000 que as três variedades deveriam
ser oficiais em todo o território da República de Bósnia e
Herzegovina, por quanto são totalmente inteligíveis entre si. De
facto, o conjunto das variantes é identificado,
nesta
República,
com o nome de servo-croata, apesar de não ser um termo reconhecido
oficialmente no país (Vd
Bibliografia).
6Vd
artigo
13
da Constituição
de Montenegro (Vd
Bibliografia)
7
Tipo “beirarrua”, em vez de “passeio da rua”,
“cobra da India” por “cobra-capelo” ou
“naja”, “floco de millo” por “pipoca” (Vd
Garrido, Carlos: Manual de Galego Científico: AGAL.Corunha. 2000.
Pág 28).
8
NOMIGA: Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego,
elaboradas e aprovadas pelo Instituto da Língua Galega e a Real
Academia Galega em julho de 1982 e adotadas para o seu uso nas
instituições dependentes de Junta da Galiza em novembro de 1982
pelo chamado Decreto Filgueira.
9
Lembremos aquela mudança histórica da Universidade da Crunha nos
anos 90 que decidiu mudar o nome da Filologia galego-portuguesa,
pela de Filologia galega e portuguesa.
10
Exceto uns escassos seis anos em que a CAG esteve gerida por duas
coligações entre socialistas e nacionalistas: a primeira entre
1987 e 1989 protagonizada pelo PSdG-PSOE junto com CG e PNG, e a
segunda pelo o PsdG-PSOE e o BNG entre 2005 e 2009.
11
Lembramos a entrevista feita a Mário Soares pela TVG em que uma voz
em off, supostamente para traduzir as suas palavras, apagava a
expressão natural do Presidente português em 1992, impedindo
vivenciar a proximidade linguística entre a variante portuguesa e a
galega.